Coração manso e humilde

    Um coração para amar. Essa é a maior dádiva da estrutura humana que ocupamos, seja biológica ou emotivamente. Do coração deriva o pulsar da nossa existência, bem como a ele atribuímos nossos sentimentos, como símbolo do amor entre nós. Mais que um órgão vital, é o coração o símbolo maior das motivações de nossos relacionamentos, que fazem do ser humano um indivíduo voltado para o outro, o companheiro, a companheira, família, amigos e a própria comunidade, raça, nação. Esforçamo-nos continuamente para expandir nossos sentimentos uns para com os outros. O amor é a corrente vital que nos une. Ensina a doarmos nossos corações, nossas vidas…

    Assim deveria ser. Esse círculo sempre crescente é a energia mais positiva da convivência humana, pelo qual se atribui a harmonia familiar, comunitária, social e até entre os povos. Se amamos, construímos a paz. Um sentimento vital para a raça que somos, pois que onde este se estabelece deixa de existir o individualismo, o egoísmo, a competitividade pura e simples, para se estabelecer o respeito, a tolerância, a compreensão e todos os demais sentimentos de amor ao próximo. O amor nunca destrói, ao contrário, eleva, solidifica, harmoniza nossas conquistas. O amor é expansivo. Afasta o egoísmo, supera as desavenças. É o pedestal mais sólido e consistente da construção de um mundo novo, sem guerras, sem ódio.

    Por isso, o mais contundente ensinamento de Cristo para justificar sua missão, dizia: “Meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos”. E acrescentava: “Se o mundo odiar vocês, saibam que odiou primeiro a mim” (Jo 15, 12-13.18). E como seria esse amor sem limites? Conhecemos o ódio do mundo aos construtores da Paz. Sabemos, de antemão, que o mal prospera, o egoísmo toma conta e as desavenças identificam o animal humano. Neste caos – de ontem e de hoje – Jesus intercede ao Pai: “Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos sejam um… para que sejam perfeitos na unidade, e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim” (Jo 17, 20…23). Estava estabelecida a reciprocidade e a igualdade de  condições no relacionamento Deus-homem. Jesus se colocava como um de nós, ao mesmo tempo em que nos igualava a Ele. E consolava: “Nãos fique perturbado o coração de vocês”, anunciando sua morte próxima.

    Quem lhes falava tinha maiores razões para se perturbar. Mas seu coração se mantinha manso e humilde. Angustia maior seria perder aqueles que tanto amara e pelos quais daria sua vida. Na cruz, o ato final de seu martírio teria uma cena sem maiores consequências, visto que a morte já o dominava; teria seu coração ferido por uma lança. E dele jorrou sangue e água. Hoje a ciência nos explica que só um coração exausto, paralisado por dores extremas e prolongado sofrimento, é capaz de verter água. Produz uma bolha de proteção momentânea, onde a água acumulada anestesia um pouco o sofrimento de uma vítima submetida a angústia suprema. É o clímax de uma dor prolongada. Nada mais tem a oferecer, senão o pouco sangue que ainda lhe resta e a água anestesiante. Aberto, expõe seu sofrimento. Assim a ciência pôde avaliar um pouco mais o sofrimento pelo qual Jesus passou… O coração manso e humilde tudo suportou por amor à humanidade! Era um coração sagrado.

    Ousamos, então, pedir: “Jesus manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso”.

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