Convertei-vos e crede no Evangelho!

    Caros irmãos, entramos na caminhada rumo à Celebração anual da Páscoa do Senhor ao iniciar esta Santa Quaresma nesta Quarta-Feira de Cinzas. Pela penitência, oração e prática do amor fraterno, deixamos a prática do amor fraterno, deixamos a força do Espírito de Deus nos transformar e nos converter. Também iniciamos hoje a Campanha da Fraternidade 2023 que, neste ano, traz a realidade da fome, tão cruel e presente em nossa sociedade. O tema será: “Fraternidade e Fome” e o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”(Mt 14,16).

    Na primeira leitura – Jl 2,12-18 – José provavelmente um sacerdote-profeta, que vive no Templo, depois do exílio. Fiel ao serviço da Casa de Deus, exorta o povo, que passa por uma grave carestia provocada por uma invasão de gafanhotos (1, 2-2, 10), à oração e à conversão .. O próprio culto, no templo, tinha cessado (1, 13.16). O profeta, que sabe ler os sinais dos tempos, anuncia a proximidade do “dia do sennot”, e convida o povo ao jejum, à súplica e à penitência (2, 12.15-17). “Convertei-vos”, grita o profeta. O termo hebraico subjacente é schOb que significa arrepiar caminho, regressar … O povo que virara costas a Deus, devia voltar novamente o coração para Ele, e retomar o culto no templo, um culto autêntico, que manifestasse a conversão interior. O povo pode voltar novamente para Deus, porque Ele é misericordioso (v. 13), e também pode mudar de ideia e voltar atrás (v. 14). Um amor sincero a Deus, uma fé consistente, e uma esperança que se torna oração coral e penitente, darão ao profeta e aos sacerdotes as devidas condições para implorarem a compaixão de Deus para com o seu povo. A exortação proferida pelo Senhor na primeira leitura: “rasgai o coração e não as vestes”, é síntese de todo nosso itinerário quaresmal que hoje iniciamos. A imposição das cinzas em nossas fontes não é rito “mágico”. As cinzas em nossas cabeças manifestam nosso vivo desejo de rasgar o coração, isto é, de renovação interior para celebrar, com alegria, a Ressurreição do Senhor e acolhê-lho vivo em nossas vidas.

    Na segunda leitura – 2Cor 5,20-6,2 – “Reconciliai-vos com Deus”, é o apelo de Paulo. A reconciliação é possível, porque essa é a vontade do Pai, manifestada na obra redentora do Filho e no poder do Espírito que apoia o serviço dos apóstolos. O v. 21 é o ponto alto do texto, pois proclama o juízo de Deus sobre o pecado e o seu incomensurável amor pelos pecadores, pelos quais não poupou o seu próprio Filho (cf. Rm 5, 8; 8, 32). Cristo carregou sobre si o pecado do mundo e expiou-o na sua própria carne. Assim, podemos apropriar-nos da sua justiça-santidade. O Inocente tornou-se pecado para nos pudéssemos tornar justiça de Deus. E, agora, o tempo favorável para aproveitar essa graça: deixemo-nos reconciliar (katallássein) com Deus. O termo grego indica a transformação da nossa relação com Deus e, por consequência, da nossa relação com os outros homens. Acolhendo o amor de Deus, que nos leva a vivermos, não já para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (w. 14s.), podemos tornar-nos nova criação em Cristo (5, 18).

    No Evangelho – Mt 6,1-6.16-18 – Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras que eles.: “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles”. Agora aplica esse princípio a algumas práticas religiosas do seu tempo: a esmola, o jejum e a oração. Há que estar atentos às motivações que nos levam a dar esmola, a orar, a jejuar, porque o Pai vê o que está oculto, os sentimentos profundos do coração. Se buscamos o aplauso dos homens, a vanglória, Deus nada tem para nos dar. Mas se buscamos a relação íntima e pessoal com Ele, a comunhão com Ele, seremos recompensados. Se não fizermos as boas obras com reta intenção somos hypokritoi, isto é, comediantes, e mesmo ímpios, de acordo com o uso hebraico do termo.

    Jesus, no Evangelho, nos ensina a verdade sobre o jejum, a oração e a esmola – caridade –. Esses atos de piedade, vividos hoje e durante toda a Quaresma, devem nos levar ao abandono de toda espiritualidade falsa, hipócrita e vaidosa. “A esmola, a oração e o jejum” (Tb 12,8) são os três pilares da religião: definem o nosso relacionamento com os outros, com o Outro e com as coisas. Esses três relacionamentos constituem nossa existência: neles vivemos, ou não, a nossa verdade de filhos, completamos, ou não, a justiça de Deus. Qualquer ação nossa pode ser realizada de duas maneiras opostas: para o nosso auto prazer, recebendo elogios e reconhecimentos humanos, ou para agradar aquele que sempre nos louva e reconhece como filhos.

    A reflexão e a vivência do lema da CF 2023: “Dai-lhes vós mesmos de comer”, é um bom e belo exercício quaresmal, nos formando para a solidariedade durante toda a nossa vida. Alimentar o faminto é ato de esmola-caridade e de fraternidade, tornando-nos de algum modo, no mundo, embaixadores de Cristo, o embaixador do Pai. Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis.

    Nesta Quarta-Feira de Cinzas é dia de jejum e de abstinência de carne! Santa e abençoada Quaresma para todos!

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