Convers(aç)ão familiar

“Ninguém me ouve!!!” – se escuta com freqüência alguém dizer! Parece que nessa hora a gente pode imaginar um rosto todo franzido…, cara fechada, braços cruzados e “beiço” caído, não!? E, embora seja, na maioria das vezes, uma atitude extremamente carente (e quem não é ao menos um pouco “carente”?!?), não quer dizer que haja mentira no sentimento que está por trás da palavra!

Todos precisam de um bom ouvinte, e se pararmos para perceber, nós não encontramos muitos bons ouvintes por aí, talvez porque não nos empenhemos em dar a devida atenção às pessoas e sermos também bons ouvintes. E se, como diz o ditado: boa educação vem de berço – então, podemos dizer que faltou o bendito diálogo familiar. Diria mais: faltou conversão… faltou “conversação” familiar… faltou conviver no sentido pleno da palavra!

A tendência atual nos relacionamentos (desde o familiar, até o amoroso) tem sido a lei do “menor esforço”, isto é: devo esperar o outro vir até mim e não tomar a iniciativa para ir até ele… Parece soar humilhante ir ao encontro de alguém, se olharmos apenas com os olhos do mundo, especialmente se esse alguém, em algum momento, nos magoou, nos destratou ou nos decepcionou.

Existem muitos outros empecilhos hoje para o bom diálogo nos diversos tipos de relacionamento, especialmente no relacionamento familiar: os horários de trabalho e estudo, a TV (que até reúne, mas geralmente não une…), a internet com suas infinitas possibilidades, a correria do mundo em que vivemos, e tantas outras circunstâncias. Mas creio que o problema maior, como já nos ensina Jesus, não é o que vem de fora, mas o que sai do coração do homem…: neste caso, a indiferença, o egoísmo, as escolhas erradas, a falta de perdão, a falta de consciência da finitude da vida humana.

Uma das grandes dificuldades para o diálogo acontece pela dificuldade de respeitar e compreender as diferenças, desde as simples diferenças de idade e educação familiar, até a diferença de personalidade, de capacidade para lidar com a crítica ou contradição, e ainda as diferenças entre o masculino e feminino.

Mas, como nos diz São Paulo, vivemos segundo a lei do espírito (Rm 8, 9-17), e segundo essa lei, ou se preferir, segundo o critério da fé, posso (e devo) tomar a iniciativa de me relacionar, devo seguir sempre adiante, dar passos que melhorem minha qualidade de fé e de convivência, tomar atitudes que demonstrem aquilo que creio, assumir minha escolha pelo perdão, pela reconciliação e pela paz. No âmbito familiar e no convívio homem e mulher (em qualquer instância), isso implica que devo viver o amor, a obediência, o respeito, o diálogo, a “conversação”, a conversão…

Conversão exige mudança de vida. E na família, implica em mudança de atitudes com a família e como família, mas a começar por mim mesmo. Sempre é tempo de rever como tenho me relacionado…: se tenho dado a atenção possível ou apenas a necessária…, se tenho ouvido os outros como gostaria de ser escutado ou se me esqueci que o critério da boa convivência é justamente fazer aos outros o que gostaria que fizessem a mim.

Se pensarmos bem, talvez a afirmação dita acima: “Ninguém me ouve!”, no nosso caso deva ser substituída por algo parecido com a seguinte interrogação: “Eu tenho ouvido e dado atenção a quem está ao meu lado, e compreendido e respeitado as diferenças?”

Por Pe. Reginaldo Carreira, da Rede Século 21

É sacerdote desde 1999, exercendo seu ministério na Paróquia Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz das Palmeiras, desde 2000. É colaborador da Revista Família Cristã, desde 2004, escrevendo artigos sobre a juventude. Atualmente apresenta o programa Coração Jovem, na Rede Século 21.

 

Fonte: Jovens Conectados

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