Contemplemos a Cruz de Cristo e a nossa!

    Queridos irmãos e irmãs,

    Neste dia 14 de setembro celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, e somos chamados a contemplar a Cruz de Cristo não apenas como um instrumento de sofrimento e morte, mas como o sinal máximo de amor, redenção e vitória.

    Na primeira leitura do livro dos Números (Nm 21, 4b-9), o povo de Israel, após murmurar contra Deus e contra Moisés no deserto, é atacado por serpentes venenosas. O povo, reconhecendo seu pecado, pede a intercessão de Moisés, e Deus manda que ele faça uma serpente de bronze e a levante. “Todo aquele que for mordido e olhar para ela, viverá” (Nm 21, 9). Esse gesto, aparentemente simples, nos prepara para entender o mistério da Cruz. A serpente de bronze, erguida no deserto, prefigura a Cruz de Cristo, onde, ao olharmos para Ele, encontramos a cura e a salvação para nossas almas.

    A Cruz, portanto, não é apenas um símbolo de sofrimento, mas o lugar onde o amor de Deus se manifesta de forma plena e eficaz. Como Jesus nos revela no Evangelho de João (Jo 3, 13-17): “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-15). Jesus deixa claro que a sua elevação na Cruz é o meio pelo qual o Pai oferece a salvação ao mundo. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

    A Cruz, assim, se torna o ponto central da nossa fé. É na Cruz que Deus revela o seu imenso amor pela humanidade, entregando seu próprio Filho para nos resgatar. Não estamos falando de um amor superficial, mas de um amor que se doa até o extremo. Cristo abraça a Cruz por nós e, nela, reconcilia a humanidade com Deus.

    Na segunda leitura da Carta aos Filipenses (Fl 2, 6-11), o apóstolo Paulo nos convida a meditar sobre o mistério da encarnação e da redenção de Cristo. Ele, “subsistindo na condição de Deus, não se apegou ciosamente à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2, 6-7). Aqui, Paulo ressalta a humildade de Cristo, que aceitou a condição humana, tornando-se obediente “até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 8). Por essa obediência, Deus o exaltou soberanamente, dando-lhe “o nome que está acima de todo nome” (Fl 2, 9), de modo que todos os joelhos se dobrem diante de Jesus Cristo, Senhor.

    A Cruz, que aos olhos do mundo parece um escândalo e uma loucura, é, na verdade, o caminho da glorificação. Cristo se humilhou até a Cruz, e por isso foi exaltado. Este é o grande paradoxo da fé cristã: a exaltação vem através da humildade e do sacrifício. A Cruz, símbolo de vergonha no mundo antigo, é transformada em símbolo de vitória pela ressurreição de Cristo.

    Hoje, ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, somos chamados a refletir sobre o nosso próprio relacionamento com a Cruz. Como cristãos, todos nós somos convidados a carregar a nossa Cruz, seguindo os passos de Jesus. Muitas vezes, tentamos fugir ou nos revoltamos diante do sofrimento. No entanto, a Cruz de Cristo nos ensina que o sofrimento, quando assumido com amor e fé, tem o poder de transformar e redimir.

    Ao olharmos para a Cruz, vemos não apenas o sofrimento de Cristo, mas também o seu amor infinito por nós. A Cruz nos lembra que, em nossas dificuldades e provações, não estamos sozinhos. Cristo, que passou pela Cruz e venceu a morte, caminha conosco em cada passo de nossa jornada.

    Que possamos, à luz dessa celebração, aprender a carregar nossas cruzes com fé e esperança, confiando que, assim como Cristo foi exaltado, também nós, em união com Ele, seremos exaltados no final de nossa jornada. A Cruz, para o cristão, não é fim, mas começo de uma nova vida. É nela que encontramos a força para continuar sabendo que, depois da Cruz, vem a ressurreição. Amém

    +Anuar Battisti
    Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

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