CONSOLAÇÃO OU UTOPIA

                Não é preciso dizer que vivemos dias de desencanto. Nem que práticas religiosas, muitas vezes, nos decepcionam, por não possuírem soluções ou respostas imediatas aos anseios de nossas preces. Mas como fica nossa fé, se, ao orarmos, dizemos: “fazei que apreciemos retamente todas as coisas… e gozemos sempre de sua consolação”? Esse é o grande pedido ao Espírito Santo presente na invocação que lhe fazemos como consolador dos aflitos. Então, como ficamos?

                A resposta aos nossos apelos espirituais é sempre uma experiência pessoal, particular. Só quem vive uma estreita intimidade com Deus pode testemunhar publicamente as ações e graças advindas dessa relação de fé e amor. Não há como generalizar uma intervenção divina quando a graça é uma bênção estritamente pessoal. O que para muitos soa como castigo, maldição, provação injusta e indevida, para outros é generosa oportunidade de santificação, purificação ou mesmo libertação de muitas angústias e sofrimentos do espírito, não do corpo. A mística humana é maior e mais autêntica quando livre de suas limitações físicas, meramente transitórias. Neste aspecto, o Consolador age com generosidade, quando seu dom cura as dores do corpo físico, para também agir como lenitivo para nossas dores espirituais, nossos conflitos existenciais.

                Os dons do Espírito Santo, numericamente, nos são apresentados como sendo sete, mas espiritualmente não têm limites. É bom sempre lembrar que no judaísmo sete significa a Perfeição. No cristianismo Jesus o multiplica por setenta, dando-nos a dimensão da misericórdia divina. “Não apenas sete, mas setenta vezes sete”. Uma graça infinitamente maior, uma bênção que extrapola e ultrapassa nossas limitações numéricas, quantitativas, matemáticas. A graça de Deus e sua ação entre nós é exponencialmente maior que nossas cobranças: “Ofereço tanto, mereço tanto mais!”.

                Dentre as muitas definições do que seja o Espírito Santo em nossas vidas está sempre sua ação, presente num Verbo como o próprio Cristo feito carne ou o próprio Deus desde o Princípio agindo nessa história de Amor, como força criadora do Universo. No princípio era o Verbo…E o Espírito de Deus pairava sobre tudo… E o Verbo se fez Carne… E o Verbo era Deus… Os paralelos entre a primeira e segunda criação (O velho e novo Adão), nos mostram a ação de Deus como divisor de águas na história humana, agindo sempre. Daí as definições que damos ao seu Espírito como Intercessor, Paráclito, Advogado, Mediador, Consolador, etc. Daí seus sete dons, as consequentes dádivas de sua generosidade à única criatura e ou criação feita à “imagem e semelhança” divinas. Semideuses, outros Cristos no mundo! Iguais em tudo, menos no pecado! Essa é nossa grande consolação quando contemplamos a desolação dum mundo em trevas, um Paraíso que um dia perdemos pela prepotência de nos julgarmos iguais a Deus. E nos esquecermos que a árvore da Ciência do Bem e do Mal era coisa sagrada, merecia nosso respeito. Foi essa utopia nossa grande derrota, a causa das nossas tribulações, limitações circunstanciais.

                Quando nos dermos conta de que sofremos neste mundo porque fizemos por merecer estaremos liquidando nossas dívidas com o Tribunal Divino. Então mereceremos as alegrias plenas da Consolação Celeste. Então poderemos dar graças e louvores sem a consciência de uma dívida que pensamos impagável. Jesus zerou essa conta. E ainda nos deixou os dividendos do seu Espírito Consolador, mas também Santificador. “Tudo posso naquele que me conforta” (Fil 4,13). Nada disso é utopia em nossas vidas!

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