Conhecimento versus sabedoria e a sabedoria para entender a diferença

Temos praticamente todo o conhecimento do mundo ao nosso alcance, mas distinguir a verdade da mentira não ficou mais fácil

Quando eu tinha cerca de 10 anos, fui para um acampamento esportivo de verão de uma semana com um grupo da igreja. Foi minha primeira vez longe de casa por tanto tempo e eu estava um pouco nervoso. Felizmente, meu colega de quarto era alguns anos mais velho do que eu e me colocou sob sua proteção.

Na primeira noite, notei um grupo de garotos mais velhos fazendo coisas ruins: agindo de maneira indisciplinada, indo aonde não deveriam e tentando quebrar o máximo de regras possível. Menino ingênuo e estudioso que eu era, perguntei ao meu colega de quarto: “Esses meninos são todos muito inteligentes, tiram boas notas e vão bem na escola: por que estão agindo de maneira tão tola?”

Com maturidade além de sua idade, ele respondeu: “Há uma diferença entre conhecimento e sabedoria. Eles são espertos, mas não são sábios.”

A busca pela sabedoria anima o ser humano desde os primórdios, de Sócrates ao rei Salomão. Como intuiu meu colega de acampamento de verão, a sabedoria envolve muito mais do que apenas o conhecimento da informação bruta, pois inclui a capacidade de colocar em prática o conhecimento adquirido, especialmente quando se trata da vida moral e relacional. Inclui a capacidade de distinguir entre o que é e o que não é importante, de pesar várias opções e fazer escolhas deliberadas que levem à formação de um caráter sólido. Envolve prudência, discernimento, moderação e discrição.

A sabedoria implica liberdade, uma vez que liberta a pessoa da ignorância, dos impulsos destrutivos e das reações instintivas. Assim, a sabedoria – e não o mero conhecimento – é objeto de uma educação em sentido clássico: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32).

Conhecimento versus sabedoria

Hoje vemos a diferença entre sabedoria e conhecimento em plena exibição. Temos praticamente todo o conhecimento do mundo ao nosso alcance, mas distinguir a verdade da mentira não ficou mais fácil. A confiança em instituições destinadas a transmitir conhecimento, como universidades e meios de comunicação, nunca foi tão baixa. O pensamento conspiratório – que oferece uma espécie de pseudo-sabedoria ao reduzir realidades complexas a uma explicação única e abrangente – está em ascensão.

Em nosso tempo, faremos bem em lembrar a simples diferença entre conhecimento e sabedoria. A verdadeira sabedoria requer humildade, admitindo que não sabemos e não podemos saber tudo. Requer autoconsciência, percebendo quando nosso pensamento decorre mais de impulsos emocionais, do que queremos que seja verdade, do que da busca bem fundamentada do que é verdadeiro. Requer confiar na sabedoria dos outros, do passado e do presente, que se engajaram nessa busca.

Estes são apenas alguns passos iniciais que cada um de nós pode dar para nos comprometermos novamente a buscar não apenas conhecimento, mas sabedoria.

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