Como enfrentar uma humilhação?

O ódio gera desejo de vingança. O sofrimento faz surgir o desejo de fazer sofrer. Há receita para não sucumbirmos a isso tudo?

Reconheço muitas resistências em meu coração. Apegos que me impedem de abraçar com alegria as circunstâncias de cada dia. Vejo o caminho traçado e fico com os espinhos, com os contratempos. E minhas queixas enchem meu coração de amargura.

Do que estou falando? Pergunto-me. Daquilo que existe em meu coração, respondo. E, assim, continuo o meu discurso marcado a fogo. Minha raiva e minha ira afloram prontamente. Como se a vida fosse injusta com as circunstâncias.

Como posso saber se o que acontece é o que Deus realmente pensou para mim? O Deus da minha vida, que caminha comigo e vai tecendo meus dias, fala comigo e me ama.

Dizia o padre José Kentenich: “Qual é a fonte de conhecimento? É o Deus da vida que, através de sua condução sempre nos permitiu conhecer seu desejo de maneira sumamente luminosa (clara). É a lei da porta aberta ou o grande mundo de fé na divina providência”.

Graças a Deus vou vivendo o que me convém. O que me faz bem. Mas tudo me faz bem?

Há coisas que me machucam. Como me faria bem a morte de um ente querido? Não tenho respostas para tudo. Embora acredite firmemente no amor que Deus tem por mim.

Nem tudo se encaixa perfeitamente. E temo que as peças do meu quebra-cabeça não se juntem. Se Ele me quer tão bem, de onde vem tanto mal?

Não quero ser sábio em respostas de livros. Prefiro caminhar com pausa, em meio às incertezas. Descobrir a luz oculta no fim do túnel. Acompanhar dores e dessabores. Sem ter todas as respostas. Beijar as cruzes que tenho e as que os outros carregam.

Vejo as resistências para beijar a cruz que existem em mim. Resisto ao sofrimento, à perda da vida. Resisto à crítica, à difamação, à humilhação, a perder o controle de minha vida. Quanto orgulho corre nas minhas veias!

Eu me sinto ofendido em seguida. Será que sou muito suscetível? E se eu tiver razão e todos estiverem errados?

É como se o mundo fizesse tudo de forma equivocada. E me machucasse. Eu me sinto ultrajado, ferido, ofendido. Quase que de forma imediata. Minha pele é muito sensível. A ofensa me fere. Dói. Eu me queixo. Sofro. Fico alterado.

Estou falando dos que me machucaram. Eu me recrio em sua culpa. Guardo rancor e os condeno. Para que não façam ninguém mais sofrer. Sou o juiz. Um bom juiz, que sabe o que está certo e o que não procede. Sou como Deus.

O ódio gera desejo de vingança. Meu bem e meu mal se chocam com outros olhares. O sofrimento faz surgir o desejo de fazer sofrer. Minhas queixas me enchem de uma raiva que me faz perder o controle e a paz.

Minha resistência ao sofrimento é muito grande. É grande a minha resistência em aceitar a realidade tal como ela é, não como eu a pinto.

 É difícil para mim beijar o mal que me oprime. Perdoar quem me faz sofrer. Agradecer a Deus por uma tragédia ou um sofrimento sem sentido.

Não quero a doença ou a morte. Nem a humilhação ou o desprezo. Cuido do meu bom nome. Da minha fama. Da minha imagem. Meus planos são traçados a fogo, para que ninguém os mude.

E se parece que Deus pretende alterar a minha rota, eu me bloqueio. Fico cego. Não quero perder o que possuo. Talvez eu me leve muito a sério.

E, ao mesmo tempo, não dou muita importância às minhas próprias faltas. Minimizo-as. E maximizo as faltas dos que me rodeiam. Eles que são culpados pelo mal que fazem, penso. Eles me fazem sofrer com suas atitudes.

E eu não quero sofrer. Crio que sempre tenho razão. É difícil para mim pedir perdão? Sim. Resisto a me mostrar fraco, frágil, pobre. Sou um homem sem rumo claro. Com fragilidades inconfessáveis. Tremo ao ver minha carne ferida.

É difícil para mim me aceitar assim diante de Deus e dos homens. Beijo a cruz de minhas resistências. Quero ser mais de Deus.

 

Fonte: Aleteia

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