Como encontrei a abundância que, sem saber, eu já possuía

Por que algumas pessoas pareciam ter encontrado o bilhete premiado, enquanto eu parecia continuar sem sorte? A resposta, eu aprendi, depende da perspectiva

Meu marido, David, e eu tentamos durante sete anos ter um filho. Isso incluiu dois abortos espontâneos, tratamentos de fertilidade que falharam e uma tentativa de adoção internacional.

Então a grande recessão bateu, e eu fui despedida do meu trabalho. O dia em que deixei meu trabalho, senti que todos os meus sonhos estavam morrendo. Sem minha renda, não sabia como íamos pagar a hipoteca, e muito menos financiar uma adoção internacional. O meu marido estava fazendo mestrado. Nós não tínhamos renda, de modo que nossas tentativas de paternidade atingiram um ponto insustentável.

Nas semanas seguintes mandei currículos e tentei encontrar trabalho freelancer. Estas palavras da escritura passaram pela minha cabeça: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Esta era uma frase que eu ouvia desde que era criança, e mais recentemente ouvi em um retiro da igreja.

Mas, neste ponto da minha vida, eu não tinha ideia do que isso significava. Se Cristo veio para que pudéssemos ter vida abundante, eu acho que estava perdendo o jogo. Minha definição de uma vida abundante estava totalmente fora do meu alcance. Não importa o quanto eu tentasse, não poderia começar a minha vida com a abundância que esperava: um trabalho gratificante, uma família, segurança financeira. O que parecia tão fácil para outras pessoas, para mim era uma ilusão.

Então eu comecei a fazer perguntas difíceis. Por que eu não sentia que minha vida era abundante? A minha definição de abundância estaria errada? Se não, então por que não pareço atingir a abundância que eu estava procurando? Por que algumas pessoas parecem ter encontrado o bilhete premiado, mas eu não?

Agora, anos depois do tempo escuro na minha vida, muito ainda é um mistério para mim. Eu não tenho todas as respostas, mas eu aprendi algumas coisas sobre o que significa viver em abundância.

Abundância tem pouco a ver com dinheiro ou coisas

Enquanto David e eu estávamos lutando para pagar as contas, a vida de tantos outros parecia ser um mar de rosas. Nossos amigos venderam um negócio e se tornaram instantaneamente milionários. Outro casal que eu conhecia, que já tinha quatro filhos biológicos, recebeu milhares de dólares de um doador anônimo para ajudá-los a adotar duas crianças da Etiópia. Fiquei pensando que se nós tivéssemos dinheiro suficiente, teríamos uma vida abundante também. Fiquei obcecada.

Nos Estados Unidos, e em grande parte do mundo, nós frequentemente relacionamos abundância a riqueza. Nossa ética protestante do trabalho e visão capitalista alimenta este sentimento de que, se você trabalhar duro o suficiente, será rico. E se for rico, será feliz.

A riqueza, contudo, é escorregadia. Algumas pessoas que trabalham duro não têm muito dinheiro. Outras pessoas que não trabalham duro têm muito devido a heranças ou apenas sorte. Outros ainda são milionários, mas não se sentem ricos em tudo. Recentemente, li um relatório que constatou que os investidores ricos dizem que é preciso pelo menos US$ 5 milhões para se sentir rico, e que dois terços dos milionários não se consideram ricos.

O quê? Eu certamente me sentiria rica com muito menos.

Eu tive amigos que foram ricos e depois perderam tudo. E outros que tiveram muito dinheiro, e ainda assim sentiam suas vidas deficientes.

Por mais que estivesse obcecada pelo dinheiro, percebi que enquanto o dinheiro torna a vida mais confortável, usá-lo para definir uma vida abundante é como construir uma casa sobre a areia. Você não pode confiar nele. E um Deus amoroso que diz “bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”, certamente tem algo mais do que dinheiro em mente quando se trata de uma vida abundante.

Abundância muitas vezes parece diferente do que você espera

Então, se a abundância não diz respeito a dinheiro, do que se trata?

Sou fascinada por artistas que parecem ver de forma diferente. Uma vez, em uma aula de arte, o professor veio até mim enquanto eu pintava uma natureza morta e perguntou: “Quais as cores que você vê?”. E continuou: “Você não vê também o verde e o roxo?” e “Olha como a luz brilha uma tonalidade azul naquela maçã”. Fiquei espantada com a forma como ele podia ver tantas cores que eu tinha esquecido.

Eu queria começar a ver todas as cores diferentes da minha vida. Sentada no meu tranquilo condomínio depois que fui despedida, comecei a viver a vida dia após dia. “Hoje temos comida suficiente para comer. Hoje temos um teto sobre nossas cabeças”.

Eu sentia como se não tivesse nada. E ainda assim, quando eu perdi tudo, eu vi o quão rica eu realmente era. Eu tinha um marido amoroso, apoio da família e bons amigos. Percebi o quão belo poderia ser um pôr do sol, e me enchia de alegria ao ler um romance bem escrito. Fiquei maravilhada com o pouso de um pássaro vermelho nos arbustos do nosso vizinho depois de um inverno particularmente difícil; uma conversa profunda sobre café com um amigo; e como pequenos projetos de freelancer surgiram apenas quando precisava de dinheiro extra. A abundância frequentemente mostrou-se em pequenas, inocentes formas, que eu era muito ocupada para perceber antes da minha demissão.

Nossa crise financeira acabou sendo um presente. Ela me obrigou a ver a vida de forma diferente, colocar óculos novos para ver realmente a abundância que eu já tinha.

A abundância é frequentemente encontrada nos tempos mais tenebrosos

Eu também percebi que talvez a minha demissão – o sofrimento em si – era parte de viver uma vida abundante. O poeta Rumi diz, “onde há ruínas, há esperança de tesouro”.
Quando olhei para trás, percebi que foi durante os tempos mais escuros que eu cresci como uma pessoa mais amorosa e compassiva. Depois da minha demissão senti mais solidariedade para com os moradores de rua que encontrava em Chicago. E parei de ver as pessoas que “tinham tudo” como superiores ou abençoadas – porque elas também estavam lidando com suas próprias lutas. Parei de ansiar por coisas que não me satisfazem.

Hoje, sete anos depois da minha demissão, eu tenho um bom trabalho, meu marido tem uma nova carreira, nós somos financeiramente mais estáveis (embora não sejamos ricos) e temos uma encantadora, inteligente, bonita filha de seis anos que adotamos em um orfanato.

Para outros, pode parecer que eu tenho uma vida plena, e eu tenho mesmo. Não simplesmente porque tenho mais dinheiro ou uma criança, mas porque eu peneirei através das cinzas da minha vida e descobri tesouros inesperados. Então os colecionei como joias, amarrando-os juntos, até que pude ver a abundância que estava procurando o tempo todo.

Karen Beattie é autora do livro Rock-Bottom Blessings: Discovering God’s Abundance When All Seems Lost. Seus artigos têm sido publicados em America, Christianity Today e Power of Moms. Ela vive no lado norte de Chicago com o marido, a filha de 6 anos e um gato idoso.

Fonte: Aleteia

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