Como e porque se revestir de Cristo

    Na Carta aos Efésios São Paulo aconselha a todos a se revestir do Homem Novo, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade (Ef 4,14). De acordo com os melhores intérpretes da Sagrada Escritura, abalizados hermeneutas, esse Homem Novo “é o protótipo da nova humanidade que Deus recriou na pessoa de Cristo ressuscitado, como “segundo Adão” depois de ter aniquilado, sobre a cruz, a raça do primeiro Adão corrompido pelo pecado”. É importante, portanto, saber como o cristão pode realizar tão sublime ideal.  O Pe. Jean Nicolas Grou, notável mestre da vida espiritual, explicou que se revestir de Cristo é “segui-lo como caminho, amá-lo como verdade e possui-lo, desde este mundo, como a própria vida”. Entretanto, isto supõe disposições basilares de quem almeja, realmente, se assemelhar ao Mestre divino na senda que Ele traçou, só admitindo como verdade o que Ele ensinou e vivendo unicamente nele e para Ele. Trata-se de uma opção preferencial que significa colocar os passos nos passos de Jesus. Cumpre para tanto repelir sempre o que contradiz seus ensinamentos, tendo-o como único e definitivo alvo de todos os pensamentos, desejos e ações. Disto resulta um absoluto desapego das coisas materiais que passam a ser somente utilizadas como mero instrumento para fazer em tudo a vontade de Deus. Esforço contínuo na busca do próprio progresso, visando apenas a glória divina e a ajuda ao próximo. Adite-se a aceitação radical dos naturais sofrimentos deste vale de lágrimas onde tudo exige empenho e abnegação. Trata-se da união com Cristo crucificado, oferecendo-se sempre as contrariedades cotidianas em reparação das próprias faltas e dos pecados que se cometem mundo afora. Cristo falou na pobreza de espírito que é exatamente ser pobre de coração. Deste modo, o fiel se torna rico de seu amor. É óbvio que tal programa de vida exige perseverança e fidelidade. Aos poucos, porém, o fiel vai regulando seus pensamentos de acordo com os ensinamentos de Cristo, suas afeições segundo os sentimentos do Coração divino. Fica então persuadido que fora de Jesus não há nada de amável. A transformação em Cristo abrange desta forma a totalidade da existência de quem tem fé. Tornar-se outro Cristo deve ser o objetivo de cada fiel que libera todas as suas forças para colimar este alvo excelso. Cumpre, em consequência, que o cristão esteja ininterruptamente sintonizado com o Mestre divino para irradiar por toda parte a mensagem de seu amor que não conhece limites. Assim, este cristão vai aumentando seu tesouro no céu, lembrado de que quem não ajunta com Cristo, dispersa todos os seus esforços (Lc 11,23). Cada ato praticado em função do Filho de Deus vai fazendo mais perfeito seu seguidor. É trágica a vida longe de Cristo. Eis porque aconselhava São Paulo: “Tende cuidado, meus irmãos, de vos comportardes com prudência, não como insensatos” (Ef 5,15). Toda atividade humana resulta no nada sem o concurso da graça que vem através de Cristo. Dentro das premissas acima levantadas o cristão percebe então que o ponto culminante do processo de união com Jesus se dá através da Eucaristia. A comunhão eucarística acelera a transfiguração de cada um em Cristo e é o penhor da imortalidade e da glória eternas. Muitos se esquecem que ao receber a Hóstia consagrada se entra em contato com realidades maravilhosas. A  comunhão produz nas almas uma assimilação análoga à assimilação nutritiva. Mas, enquanto a alimentação material é assimilada pelo ser vivo. Cristo, que é o vivente por excelência, se fez alimento para nos assimilar a Ele e nos transformar nele, e, até mesmo, nos transubstanciar, por assim dizer, nele, fazendo-nos participar de sua própria vida, do dom e da oblação ao Pai, no amor e obediência total à sua vontade. A inteligência, a vontade, a imaginação do homem tão frágeis, se fortificam unidas com o próprio Deus. O coração humano, por vezes, tão insensível se aquece então na fornalha de amor infinito. No fiel que se reveste assim de Cristo se compraz o Pai, porque este cristão se torna conforme a imagem de seu Filho bem-amado (Rm 8,29). Quem assim procede percebe ao vivo o que disse Davi: “Provai e vede como o Senhor é bom” (Sl 34,9) Nunca, porém, uma alma frívola, presa ao barulho exterior, vazia de amor, poderá degustar as delícias deste contato com as realidades sobrenaturais por meio de sua união com Jesus. O verdadeiro cristão se envolve numa luminosidade maravilhosa, a qual personaliza o ser racional, o humaniza e o vai espiritualizando.  Esta realidade nem sempre é vivida em plenitude, porque falta, por vezes, uma disponibilidade interior que permita a ação da graça divina para transformar quem foi  batizado  em outro Cristo* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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