Com os olhos fixos em Jesus

    A celebração da Eucaristia no XX Domingo do Tempo Comum traz uma palavra que nos coloca diante de uma escolha de amor, e uma decisão de abandonar os caminhos do pecado e viver a graça indizível de ser filho adotivo de Deus, por Jesus Cristo. Não queremos viver uma vida sem sentido, mas queremos viver uma experiência de amor divino!
    Na Primeira Leitura (Jr 38,4-6.8-10) o profeta Jeremias denuncia a situação do povo e prega a conversão. Por obedecer à vontade de Deus, Jeremias é preso e jogado num poço para morrer de fome!
    Em Hb 12,1-4, Segunda Leitura deste domingo: na vida difícil dos cristãos perseguidos, Paulo propõe fixar os olhos em Jesus e segui-lo! Não seguir os caminhos do pecado, mas escolher o caminho da Cruz, pensando na glorificação definitiva que nos é prometida. Jesus escolheu o caminho da fidelidade ao Pai; nós, também, queremos seguir o exemplo de Jesus Cristo, nosso Salvador.
    No Evangelho deste domingo (Lc 12,49-53), o fogo de que Jesus fala é o fogo do amor divino; Ele quer incendiar o mundo com o amor de Deus! Para isso, Ele deseja receber o “batismo de Sangue”, que é o preço de nossa salvação! Ele aceita morrer para nos salvar! Queremos prova maior do amor de Jesus por nós?
    Jesus disse: Vim trazer fogo à terra e que hei de querer senão que arda? Em Cristo, o amor divino alcança a sua máxima expressão: Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho Unigênito. Jesus entrega voluntariamente a sua vida por nós, e ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Por isso, confidencia-nos também a impaciência santa que O domina enquanto não vir cumprido o seu batismo, a sua própria morte na Cruz, pela qual nos redime e nos eleva: Tenho que ser batizado com um batismo, e como me sinto ansioso enquanto não se realizar!
    O Senhor quer que o seu amor se ateie no nosso coração e provoque um incêndio que o invada por completo. Ama-nos com um amor pessoal e individual, como se cada um de nós fosse o único objeto da Sua caridade. Em nenhum instante cessou de amar-nos, de ajudar-nos, de proteger-nos, de comunicar-se conosco; não só quando correspondíamos às suas graças, mas também quando nos afastávamos d’Ele, entregues à pior de todas as ingratidões, que é o pecado. O Senhor sempre nos mostrou a sua benevolência, a sua misericórdia.
    Dizer sim ao Amor: somos chamados a dar-lhe uma resposta afirmativa nas mil pequenas situações diárias: ao negarmo-nos a nós mesmos para servir os que convivem ou trabalham conosco; na mortificação pequena, que nos ajuda a dominar a impaciência e a irritação; na pontualidade em todos os nossos compromissos espirituais e humanos; no esforço com que procuramos melhorar o recolhimento interior nos tempos dedicados à oração mental; na aceitação alegre dos contratempos, quando a vontade de Deus não confirma os nossos planos ou o nosso querer… Assim se forjam as pequenas vitórias que Deus espera todos os dias daqueles que O amam. Mas também por amor, temos que dizer não muitas vezes: à curiosidade da vista; ao corpo que pede mais conforto e menos sacrifício; ao desejo de encerrar o expediente antes da hora… Muitas são as sugestões, as moções do Espírito Santo que nos convidam a corresponder a esse Amor infinito com que Jesus nos ama.
    A vida é um combate decisivo e inevitável: você precisa decidir de que lado está e o que realmente espera da presente vida humana. Você decide por um “sucesso econômico, temporal e passageiro” (esta vida passa e passa rapidinho!), ou acredita na Palavra de Jesus e espera uma vida eterna, semelhante à vida de Deus? Diz o Apóstolo João: “Seremos semelhantes a Ele… seremos gloriosos e cheios de luz como Jesus ressuscitado”! A vida é uma escolha, é crer, agarrar ou largar de vez! Fixar o olhar em Jesus e colocá-Lo no centro de nosso coração significa agarrar a cruz de todos os dias e seguir os passos de Jesus! Ele abraçou a cruz para nos salvar, e qual tem sido a nossa resposta?  Diz São Paulo: “Vós ainda não resististes até o sangue na vossa luta contra o pecado”!
    O amor se expressa na dor dos pecados, na contrição, pois tantas vezes – até sem o percebermos – dizemos não ao amor e sim aos nossos caprichos… São ocasiões para fazermos um ato de dor mais profundo pelas coisas que não soubemos corresponder, e para desejarmos muito essa confissão frequente, na qual sempre encontramos a Misericórdia Divina e o remédio para os nossos males. “Quem não se arrepende de verdade não ama de verdade; é evidente que, quanto mais estimamos uma pessoa, tanto mais nos dói tê-la ofendido. É este, pois, mais um dos efeitos do amor”, diz São Tomás de Aquino.
    Os cristãos devem ser fogo que contagie os outros renovando o ardor, como Jesus abrasou o coração dos seus discípulos. Ninguém que nos tenha conhecido deverá permanecer indiferente; o nosso amor tem de ser fogo vivo que converta em pontos de ignição, em outras fontes de amor e de apostolado, todos aqueles com quem convivemos. O Espírito Santo soprará, através de nós, em muitos que pareciam apagados, e do seu rescaldo de vida cristã sairão chamas que se propagarão em ambientes que de outro modo teriam permanecido frios e mortos.

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