Com confiança, em Cristo, semear o bem!

    A liturgia do 11.º Domingo do Tempo Comum fala-nos de esperança. Lembra-nos que Deus é o Senhor da História e garante-nos que Ele nunca deixará de acompanhar os seus filhos na sua peregrinação pela terra. Ele só tem um objetivo: conduzir-nos ao encontro da Vida plena e definitiva, da felicidade sem fim.

    Na primeira leitura – Ez 17,22-24 –, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilônia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da História comportam, Israel deve confiar nesse Deus que é fiel e que nunca desistirá de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim. A profecia de Ezequiel aponta para a época exílica, na qual, diante de tamanhas dificuldades, o rei de então, Sedecias, também rompe a aliança com Deus. A voz do profeta surge como reerguimento da esperança para Israel, anunciando que Deus continuará junto àquele povo a sua obra de vida e de salvação. Sob a imagem do agricultor que planta um broto, espera-o crescer, florescer e frutificar, está anunciada a fidelidade do Senhor a Israel. Ele, mesmo em nossa fraqueza, nos socorre com a sua graça.

    No Evangelho – Mc 4,26-34 –, Jesus compara o Reino de Deus com uma pequena semente, de aparência insignificante, mas capaz de mudar a paisagem do mundo. Ela cresce sem se fazer notada, sem dar nas vistas, sem publicidade, mas tem em si o dinamismo de Deus, um dinamismo capaz de fazer nascer um mundo novo. Esse Reino que Jesus, por mandato do Pai nos veio propor, é um presente de Deus para os seus filhos. O Evangelho fala diretamente do Reino de Deus, comparando-o ao plantio de uma semente – a semente que vai germinando e crescendo, mas não se sabe como isso acontece (Mc 4,27). O crescimento da semente independe da ação humana. Assim é o Reino de Deus: ele é dom divino; a nós cabe acolhê-lo na pureza de nossos corações.

    O Reino é o elemento-chave da pregação de Jesus. Dedica-lhe muito tempo e o descreve com imagens diversas. O texto de hoje apresenta duas parábolas: a da semente que cresce por si e a do grão de mostarda. A primeira mostra a vitalidade do Reino, que tem força em si mesmo e, encontrando ambiente, cresce e produz frutos. A outra destaca o contraste entre a pequenez da semente e a grandeza da planta. Por pequenos que sejam, os gestos que manifestam o Reino fazem a diferença no mundo. O Reino de Deus é um dom eficaz – semente – e, ao mesmo tempo, um fruto da vivência do projeto de Jesus – terrenos – , exigindo de nós fé e compromisso.

    A segunda leitura – 2Cor 5,6-10 – recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da Vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa atual caminhada pela História, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada. A exemplo de Paulo, talvez nos questionemos se melhor é “habitar no corpo” ou “exilar-nos do corpo” – ou seja, continuarmos vivos ou partirmos para a casa do Pai. Não se trata de desprezar o corpo ou fugir dele – para os gregos, ele era a prisão da alma –, mas valorizá-lo como “morada do espírito” e “membro de Cristo”, não obstante sua fugacidade. Estar “cheios de confiança” significa caminharmos na fé, ao encontro da morada do Senhor. Vivos ou mortos, pertencemos a ele, esclarece Paulo aos Coríntios.

    As duas parábolas do Evangelho de hoje espelham o olhar atento a Jesus sobre a realidade. Com elas aprendemos – juntamente com a multidão que o escutava – que aparentemente corriqueiro, se lido com atenção, sempre guarda significado. Somos chamados a confiar em Deus! No caso dos terremos mais desfavoráveis, sempre há esperança no surgimento de jardins floridos e frutíferos, que a todos possam beneficiar. Coloquemos nossa confiança em Jesus, que lança generosamente a semente do Reino de Deus, e a colaborar para que essa semente cresça e produza frutos de amor, solidariedade e justiça! Com confiança em Cristo semeemos sempre o bem!

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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