Cartas do Padre Jesus Priante – Cristo, a Suprema Hora

Deus, Criador e Salvador, revela-se no tempo. “No princípio Deus criou o céu e a terra.” (Gn.1,1)

O ato criador marca o começo absoluto do tempo. Mas Deus era antes do tempo, na eternidade: o que nunca começou, nem jamais terá fim. Eterno e infinito são conceitos que estão além da
nossa razão. No tempo acontece e se desenvolve o plano criador e salvador de Deus que, para nós, também parece uma contradição.

Deus cria suas criaturas no tempo feridas pelo pecado, pela dor e pela morte para lhes curar com sua graça amorosa de salvação. “Ele fere para curar. “(Jó.5) ” Encerra-nos no pecado para ter misericórdia.” (Rm3)

Deus, Criação (mundo) e Salvação (Reino dos Céus) são Mistérios de Fé. Nossa razão só encontra sentido se aceitamos concluir: Tudo vem de Deus e a Deus tudo retorna pela estrada do “tempo da tribulação.” (Ap. 7,14) Esta viagem existencial seria trágica se não fora o mesmo Deus que, em Cristo e o Espírito Santo, vai conosco, inclusive partilhando nossa tribulação até sermos glorificados pelo seu poder salvador. Pela criação, Deus coloca progressivamente suas criaturas no tempo com vista a um final eterno e feliz. O tempo, assim como o espaço, inerentes às criaturas, não estão vazios nem são mera sucessão de pontos ou instantes. Deus é interior à mesma criação. Pela sua Encarnação em Jesus de Nazaré, fato acontecido no tempo, nós e o universo, nos tornamos infinitos e eternos. Por isso São Paulo afirma: “Fomos predestinados antes da criação do mundo para o Reino de Deus” e, com isso, libertados da prisão espaço-temporal que encurta todos nossos sonhos e nos leva a morte. Na teologia se diz que, em Cristo, somos “eviternos”, temos princípio mas não teremos fim.

O tempo no qual ainda vivemos é cósmico e histórico. Deus é quem estabelece o dia e a noite, os movimentos dos astros que produzem as estações. O sol determina os anos, a lua os meses e a rotação da terra os dias e as horas. Este tempo cósmico que conta os anos de nossas vidas o sublimamos através das festas pelas quais tentamos nos libertar do mítico Cronos, que devorava seus filhos tão logo nasciam.

As festas, inatas em todos os povos, são uma verdadeira liturgia cósmica, ação do Deus criador, a renovar ciclicamente o ser e a vida das criaturas.

O tempo Cíclico

A filosofia da antiga Grécia as chamou “eterno retorno” ou palingenesis. A cada 10.000 anos, tudo, coisas, fatos e vidas repetirão circularmente o mesmo processo. A Bíblia também foi influenciada por essa ideia: “O que foi será e acontecerá de novo” (Ecs.1,9). A crença da reencarnação, enraizada em muitas culturas partilha essa mesma ideia. Platão (séc. IV a.C.) pretendeu libertar-se da prisão do eterno retorno, criando um “mundo das ideias”, acósmico e, por isso mesmo, irreal.

O povo de Israel, o único povo que teve no século V a.C. a ideia da criação do nada e, portanto do verdadeiro tempo cósmico, foi o primeiro a receber a noção do tempo histórico, esse devir com sentido, que chamamos tempo da salvação, no qual Deus age, como age no tempo cósmico, para levar à sua plenitude gloriosamente a criação em Cristo ressuscitado. Ele é o último acontecimento da História, a suprema “hora” do tempo cósmico que cede lugar à eternidade sem horas nem tempo. Por isso, ao início da sua missão profética diz: “O tempo se cumpriu e o Reino de Deus está próximo” (Mc.1,15). O fim dos tempos ou história da salvação já foram inaugurados na morte e ressurreição de Cristo. Nada de mais importante vai acontecer, mas esse final dilata-se até sua vinda gloriosa, que será precedida por uma grande catástrofe cósmica ou, melhor, transformação do mundo criado, à maneira de parto doloroso, nos diz São Paulo em Rm.8. Então haverá novos céus e nova terra. Não mais será o sol e a lua a marcar o tempo, porque este não existirá mais. Tudo será eterno em Deus (Ap.21,23). O tempo ou o “século presente”, que coexiste com a eternidade inaugurada por Cristo, nos diz Såo Paulo, é mera “figura” inconsistente, enquanto aguardamos o Reino dos Céus.

Quanto tempo durará este ínterim provisório que nos separa da eternidade? Nao sabemos. Jesus nos disse que será “em breve” (Jo.14) São Paulo, “curto” (1Cor.7,29). Mesmo sendo “tempo da tribulação”, é também “o tempo favorável da nossa salvação” (2Cor.6,1). Nós o
celebramos na Liturgia, na qual Deus age historicamente para nos salvar do tempo cósmico fadado à morte.

TEMPO COMUM OU ORDINÁRIO

É assim que tão mal e pobremente temos denominado o tempo da salvação, celebrado na Liturgia, que transcorre despois do Natal até a Quaresma, Páscoa e Pentecostes e, de Pentecostes até o Advento e Natal. Uma maneira de entender o tempo da nossa salvação de maneira um tanto confusa.

As primeiras gerações cristãs viviam esse tempo de “páscoa em páscoa”, celebrada de maneira solene anualmente, a tornar presente a morte e ressurreição de Cristo enquanto esperamos sua volta, e prolongada em cada domingo. No século IV incorpora-se o Natal, postulado pelo acontecimento salvífico da Ressurreição. De fato, se aquele que venceu a morte não fosse Deus, nossa salvação, vida eterna e feliz, não seria plena. A ressurreição de Cristo cumpre a missão de provar que Jesus, nascido em Belém, é de fato Deus e, por isso, nele e com Ele, nós e o universo somos divinizados.

A Igreja Católica Ortodoxa centra o tempo da salvação na Encarnação e não na ressurreição. No dia 31 de dezembro, num culto de Ação de Graças pelo ano transcorrido, o Papa Francisco disse que, sem o “assombro” diante do Deus feito homem, nunca será Natal e também nossa esperança de salvação não será segura e certa. E acrescentou: nossas festas produzirão mais tédio do que alegria. Só Cristo, eternidade no tempo, nos liberta da caducidade e ressaca devoradora do tempo cósmico.

Pena que o Papa nao aproveitou a oportunidade, para declarar o dia primeiro de janeiro o Natal como início do verdadeiro Ano Novo da nossa salvação e não no primeiro domingo de Advento, pois, a quem esperamos, já veio e estará conosco até o fim dos tempos. O mundo até nos facilita essa mudança, pois a maior festa do planeta atualmente é a passagem ao Ano Novo, e faz referência ao nascimento de Cristo, acontecimento que dá aos tempos sentido pleno. Em Cristo, o tempo deixa de ser circular ou cósmico para se tornar “linear”, infinito e eterno. Só em e com Cristo podemos dizer com toda a verdade: “Ano Novo, vida nova”. “Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap.21,5).

Essa mudança da noção do tempo, que tanto nos preocupa e ocupa, no presente, relacionado com Cristo, seria a maior revolução copernicana da cultura humana. O tempo, dimensão inerente às coisas deste mundo, só pode ser entendido antes e depois de Cristo. Antes, o tempo era caduco e circular, depois de Cristo linear e eterno.Antes de Cristo era “o tempo da ignorância dos gentios” (At.17,30) e, para o povo de Israel, tempo da pedagogia a preparar o advento do Salvador do mundo. Agora, depois de Cristo, nós e o universo, como que “em cortejo triunfal” (2Cor, 2,24) estamos em marcha com Cristo rumo a “novos Céus e nova terra”, seu ReinoAs manhãs não são mais um amanhã, e as tardes ocaso, mas o imortal “hoje” da nossa salvação, celebrado ao longo do tempo litúrgico, que nunca pode ser “comum” porque é extraordinariamente glorioso e eterno.

No século XIX, o poeta espanhol Adolfo Becquer, expressava seu tédio existencial do dia a dia sem Cristo: “Hoje como ontem, amanhã como hoje, sempre igual, um horizonte cinza e andar, andar e andar”. Unamuno, o maior pensador espanhol do século XX, carente de fé, paradoxalmente, almejava por um outro tempo, dizendo: “Felizes aqueles cujos dias são iguais. Têm vencido o tempo e deitam toda noite tranquilos. Levantam-se para viver o mesmo dia, semana, mês e ano, e raramente se fazem ideia de Deus porque oram vivendo e, na morte, se vão com a claridade do dia para brilhar em região desconhecida. Santa simplicidade que quando se perde nunca mais se recupera”.

Para nós, que cremos, as tardes são aurora do eterno amanhecer no Reino da Luz e da vida.

“POR AMOR A JERUSALÉM (cidade de todos os povos) NÃO DESCANSAREI ATÉ QUE A JUSTIÇA (salvação) DESPONTE COMO A AURORA.” (Is.62,1-5)

Deus foi educando o povo de Israel para interpretar a História em crescente esperança de salvação, anunciando a vinda de um Messias salvador. Até ele chegar, nos diz o profeta Isaías, “andávamos como cegos a tatear as paredes”, carentes de todo sentido. Há duas maneiras de nos sentirmos perdidos: não tendo um só sinal que nos oriente ou, tendo muitos, não saber qual escolher.

Por isso, Jesus categoricamente disse: “Eu sou a Luz do mundo”, o único sinal ou guia a dar sentido ao devir dos tempos. Todos viemos a este mundo no rio do tempo, em curso. Um antes nos precedeu e um futuro nos espera.

Entra a Ciência

Nossa maior curiosidade é saber de onde viemos e para onde vamos. Milhões de horas passaram os olhos da ciência à procura do primeiro tijolo da matéria e a protocélula da vida. Não encontrando resposta,
inventaram o mítico “Big Bang” que navega na estrada do tempo há 14 bilhões de anos sem saber para onde vai esse mítico bólido. Com o gigante telescópio lançado recentemente, James Webb, alguns crédulos cientistas, dizem que, no próximo junho, o horizonte deixará de ser nosso limite. Mais uma ilusão e fantasia de quem pretende encontrar luz e sentido sem Cristo. Cada ente, particularmente nós, dotados de consciência, experimentamos a existência como vinda duma noite interminável e, após de este breve tempo cósmico, retornamos a ela, sem saber por nós mesmos de onde viemos e para onde vamos. Sim, o sabemos pela fé em Cristo. Nascimento e morte são humanamente um mesmo mistério. O profeta Isaías teve consciência desse drama e recebeu de Deus uma resposta: “Como um jovem casa com uma virgem, assim o teu criador te tomará por esposa”. Não será mais chamada “desamparada” ou ” abandonada”, mas minha “predileta” e “desposada”. Este anúncio vai além da nossa curiosidade existencial. Não seria suficiente sabermos que viemos de Deus e a Deus voltamos, pois na condição de criaturas seríamos eternamente estranhos, e o poder de Deus nos faria insignificantes. Nem sequer a nossa filiação divina que o Mistério da Encarnação nos brinda, seria suficiente para experimentar a salvação eterna e infinita de Deus. Um filho/a carece de total intimidade com seu pai e, mais ainda, se essa filiação divina, como se nos tem ensinado, é adotiva,nossa vida no céu não seria divina. Por isso, nos foi revelado que viveremos com Deus de maneira esponsal, íntima e indissolúvel e em comunhão plena, como Jesus nos revelou sobre si mesmo: “Eu e o Pai somos um”. A essa união com Deus fomos destinados: “Pai: que todos sejam um como nós somos um” (Jo.17).

Nossa razão, essencialmente calculadora e quantitativa, é incapaz de representar a unidade, por isso, incapaz de entender nossa comunhão de ser e vida com Deus. As religiões, representam a Deus como Senhor ou criador e as filosofias separado de nós e do mundo. Com a vinda de Cristo, o invocamos como Pai e, com o Espírito Santo, o esperamos como esposo (Ap.22,17). Foi assim que grandes místicos, como Santa Teresa de Ávila ou São João da Cruz o experimentaram, chamando essa relação íntima e amorosa com Deus “matrimônio espiritual”. Não estamos sós e abandonados nesta nossa luta por uma vida eterna e feliz, embora enquanto estamos no tempo cósmico e histórico assim a experimentamos, “desolados”, dizia Fenelon (séc .XVII) ou “atirados” (dasein) segundo Heidegger. Pela criação, somos apenas fragmentos que, pela salvação, serão unidos a totalidade do ser e da vida que está em Deus. Só existe um pecado, disse Hegel, pai da filosofia da história, “parar no finito”, nossa grande idolatria, que nos faz esperar a vida fora de Deus em qualquer uma das suas criaturas.

Dama da Alva

A fé consiste em decidir radicalmente nosso futuro por Deus. Consola-nos, que essa meta está sendo realizada pelo próprio Deus em Cristo. Ele não descansará até que a justiça de entregar a Deus o que lhe pertence, toda a criação, brilhe como radiante clarão. Essa luz não vem dos astros, mas do Sol sem ocaso, Jesus Cristo ressuscitado, quem “ao terceiro dia saiu dentre as rochas pelo horizonte da alva. Com Ele, a morte não é mais morte, mas dama da alva.” (Arcipreste de Hita, século X)

O Espírito Santo convencerá desse plano salvífico de Deus aos que se resistem a crer (Jo 16) Quando confessamos no Credo: “Creio na ressurreição da carne”, expressamos o passo do tempo cósmico, que caduca e morre no seu curso, para a eternidade. O Verbo eterno se fez “carne”, entrou no tempo cósmico da criação para torná-lo tempo da salvação, pela qual nos unimos eternamente com Deus. Essa feliz Páscoa, do tempo à eternidade, celebramos litúrgicamente na Eucaristia.

“HÁ DIVERSIDADE DE DONS E MINISTÉRIOS, MAS O ESPÍRITO, SENHOR E DEUS, O MESMO, QUE AGE E REALIZA TUDO EM TODOS” (1Cor,12,4-11)

A tradição bíblica interpretou o nome de Deus revelado a Moisés, “Javé”, como aquele que é, o eterno, estático e imutável a ser contemplado e adorado. Nada mais contrário ao Deus criador e salvador revelado por Jesus Cristo. Por isso disse: “Meu Pai trabalha sempre.” (Jo.5,17) Deus é Aquele que age, cria e salva. Alguns Padres das primeiras gerações cristãs disseram: Deus Pai tem duas mãos, o Filho e o Espírito Santo, “realizando tudo em todos”.

Deus em nós

São Paulo nos revela que, enquanto estamos no tempo, na condição histórica ou carnal, a ação salvífica de Deus realiza-se também carnalmente, isto é através das suas próprias criaturas, dotando-as de carismas ou habilidades e ministérios. A criação, nos diz Teilhard de Chardin, é “meio divino”, Igreja cósmica, onde Deus mora para ser santificada e glorificada. Rahner, diferentemente do Concílio Vaticano II: “Igreja no mundo”, preferia dizer Igreja do mundo, pois Deus se encarnou em Cristo, rocha e fundamento da criação e seu Espírito foi derramado sobre todos (Joel,3,1). Não existe mais o binômio e a dicotomia Mundo/Deus, matéria/espírito/, natural: sobrenatural, por isso “cremos na ressurreição da carne”. Com estes meus próprios olhos verei a Deus (Job.42). Na morte,seremos “transformados”, não aniquilados. Essa gloriosa transformação, à maneira de fermento, se está realizando, dia a dia em cada um de nós e em toda a criação, pela força criadora, salvadora e vivificante do Espírito Santo, operante no tempo cósmico da criação (Gn. 1) e, depois da Ressurreição de Cristo, no tempo histórico da salvação, (Jo.20) derramando seus dons a serem servidos em favor de todos, humanidade e universo.

Tradicionalmente, inspirados em Is.11, temos elencado os dons do Espírito Santo em número de sete:

⁃ Sabedoria (projeto salvífico de Deus)
⁃ Entendimento (razão e finalidade da criação)
⁃ Conselho (discernimento do bem e do mal)
⁃ Ciência (relação de causa e efeito dos fenómenos)
⁃ Piedade (relação com Deus)
⁃ Fortaleza (espírito de luta)
⁃ Temor de Deus (grandeza e poder infinitos de Deus )

São Paulo faz uma outra coleção: Sabedoria, ciência, fé, dom de cura, poder de milagres, dom de profecia, dom de discernimento dos espíritos, de falar línguas e interpretá-las, e outros. Todos eles dons do mesmo Espírito de Deus a serem servidos em favor de todos.

Na natureza ou realidade dos entes criados vemos esses dons ou carismas do Espírito Santo em tudo. Na misteriosa composição molecular da matéria, mais energia (espírito) do que atómica. No milagre da vida das plantas e dos animais. E, de maneira ainda mais sublime no ser humano, na faísca divina da inteligência, capaz de entender e transformar a mesma criação. Nenhuma pessoa foi descartada ou deserdada. Todos
têm recebido um dom de Deus. O que outros têm eu não tenho e vice-versa. De essa diversidade e particularidade de dons, Deus nos quer unidos no mesmo Espírito. “Há diversidade de dons e ministérios ou serviço dos mesmos”. Popularmente são chamados talentos, habilidades para realizar algo. Os recebemos como sementes a serem desenvolvidos, e também para torná-los produtivos, como se nos revela a Parábola dos Talentos (Mt.25).

Pecamos contra o Espírito Santo quando os enterramos ou nos apropriamos como se fossem nossos e não dons de Deus destinados para bem de todos. Hoje há mais de 100 profissões (ministérios) registrados socialmente, com seus cargos e benefícios, sem contar uma infinidade de trabalhos ou serviços informais em todos os campos. No entanto, o que é dom de vida e salvação, nosso egoísmo os torna prejuízo e desgraça. Cada um considera ser seu o que lhe vem como dom do Espírito Santo e usar os dons para serviço e proveito próprio. O dom recebido pelo dentista, é usado para deixar o seu cliente a quem serve sem pão. O médico cura para cuidar-se a si mesmo. O mecânico encontra avarias no carro em todo lugar ou coloca peças invisíveis. O advogado escreve suas tabelas nas costas das Tábuas da Lei de Deus. O pedreiro vem quando lhe convém. E não digamos do político… ao invés de servir, serve-se do seu povo. É claro que o Espírito Santo é mais forte do que nosso pecado. Por isso, sempre o veremos em todo tempo e lugar agindo, curando nossas feridas e nossos pecados. Nunca faltará ao mundo mãos bondosas onde cresce o pão de todos e olhos de amor que nos fazem sentir felizes e eternos, pois o Espírito de Deus, alma da criação, estará na carne da História até a sua glorificação.

“HOUVE UM CASAMENTO EM CANÁ DE GALILÉIA. JESUS, SUA MÃE E SEUS DISCÍPULOS FORAM CONVIDADOS. FALTANDO VINHO (símbolo da alegria) MARIA DISSE A JESUS: “ELES NÃO TÊM VINHO”. JESUS RESPONDEU: “AINDA NÃO CHEGOU MINHA HORA”. (Jo. 2,1-12)

Alguns liturgistas consideram este texto como próprio do tempo de Natal ou da Epifania. Por isso se diz que, transformando a água em vinho, no início dos sinais ou milagres, “Jesus manifestou a sua glória (divindade) e seus discípulos creram nele”. Deus não só se encarnou na pessoa histórica de Jesus, na cultura judaica, na família, também no casamento. A união de um homem e uma mulher, São Paulo, em Ef.5, chama “o Grande Mistério ou Sacramento” a nos revelar nossa comunhão com Deus, destino da sua criação. Jesus não casou porque estaria presente, como está no pão eucarístico, em todo casal que se ama e se une em Cristo.

O celibato e a virgindade cumprem a missão evangélica de revelar a todo casal e ao mundo seu destino divino e celeste, o casamento, nossa comunhão com Deus.

Na celebração do casamento é pedido aos nubentes terem filhos como vindos de Deus e serem criados para Ele. Não filhos para o tempo cósmico mas para a eternidade, inaugurada na “hora” da morte e da Ressurreição de Cristo. Por isso, disse à sua mãe: “ainda não é chegada a minha hora”, a hora do seu novo nascimento e também nosso no Reino de Deus. Até chegarmos a essa grandiosa hora, sempre nos faltará o vinho da alegria. Ficareis tristes, mas vossa tristeza se converterá em alegria” (Jo.16,22).

Se diz que Jesus usou seis talhas de pedra de água, destinada à purificação dos pecados, para serem convertidas no “melhor dos vinhos”. Não só nossas lágrimas e dores, como também nossos pecados, serão transformados pelo milagre dos milagres, a Ressurreição, no vinho da felicidade eterna.

O relato evangélico das Bodas de Caná é lido frequentemente no rito do casamento. Dessa união da “carne”, ainda no tempo cósmico, todos nascemos na dor, no pecado e na morte, mas, “todos seremos transformados (Rom.6)” em Cristo, ressuscitados.

Na celebração eucaristica, são postas umas gotas de água no vinho a ser convertido em sangue de Cristo para significar esse Mistério da nossa salvação. Juntamos nossas lágrimas, dores e pecados ao vinho da vida santa e eterna de Deus, em quem seremos glorificados. Nenhum milagre ou alegria deste mundo deve distrair ou parar nossa viagem para Deus. O verdadeiro e melhor vinho está reservado para o fim.

Pesquisas recentes afirmam que a duração média de um casal é de dez anos, como as franquias das empresas ou a caducidade dos produtos de consumo. De fato, um casal unido apenas na carne, no tempo cósmico, para este mundo, caduca e morre, como morrem as coisas fora do tempo da Salvação que nos vem de Cristo. Nada mais grandioso do que ver na tarde de nossos anos a lareira acesa da casa de Deus esperando por nós, após nossa viagem de frio inverno neste “vale de lagrimas”. Nas Bodas de Caná, Maria adiantou a “hora” de Jesus. Será também ela, como dizemos no Ave Maria, quem a tornará presente “na hora da nossa morte” e nos levará a Jesus.Ele transformará nossos pecados , dores e morte no vinho das alegrias eternas.

Padre Jesus Priante
Espanha
(Edição por Malcolm Forest. São Paulo.)
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