CARREGAR A CRUZ DE CADA DIA

    No Evangelhos de hoje Jesus nos deixa três advertências, três renúncias às quais devem aderir todos os que querem se tornar seus discípulos (Lucas 14, 25-33). Cumpre encher todos os lugares afetivos, sejam quais forem, sob o ângulo da resposta sincera a Ele; carregar a cruz de cada dia, seguindo-o em tudo; estar disposto a se desapegar de tudo que é da ordem do ter e não do crescer espiritual. Duas curtas parábolas tem por finalidade fixar a atenção nestas realidades. Tal o objetivo da parábola do homem que quer construir uma torre e a do rei que quer partir para a guerra. Trata-se do planejamento que garante o bom êxito do empreendimento em vista. O Mestre divino, porém, foi claro mostrando que quem não renuncia a tudo que tem não pode ser seu discípulo. É de se notar, como o fazem diversos comentaristas, que Cristo não se dirige especialmente a monges e religiosos que fizeram votos de pobreza, mas a todos e todas que vivem na cidade dos homens e se dizem cristãos. É que isto faz parte da sublimidade das Bem-aventuranças, da excelsa aventura da fé. Quando se trata de construir uma torre ou de enfrentar uma guerra é facultativo a cada um se entregar a tal empreendimento, mas quando se trata de seguir Jesus a disponibilidade deve ser absoluta. Com efeito, amar a Deus sobre todas as coisas, se tornar discípulo de Jesus não é facultativo, mas sim a única urgência da vida do batizado.  Eis porque a prudência consistirá frequentemente a tudo sacrificar para estar unido a Deus que nos ama e para trabalhar pelo seu reino, a resposta sensata será se tornar preso à vontade divina, a tudo transferir na conta de Cristo, dado que a verdadeira riqueza será encontrar-se livre de todo entrave terreno e deixar que Deus nos livre de todas as nossas misérias terrenas. O autêntico cristão deverá poder sempre afirmar que ele ajuda os outros a viver, servindo-os, pois é isto que é ser cristão, porque Deus tudo sabe e quer que assim se proceda. Tal a exigência de nossas reponsabilidades cristãs, de nossas necessidades familiares e comunitárias, dando cotidianamente, livremente, nossa resposta a Deus numa renúncia consciente e real, tomando a cruz de cada dia. A vida é um dom de Deus e Jesus veio nos mostrar de que maneira vivê-la em plenitude, porque ela não é uma finalidade em si, mas ela nos abre para a vida eterna. À hora de nossa morte seremos julgados não por aquilo que tivermos ajuntado, não pela nossa notoriedade ou nossos sucessos sociais, mas pela fé que tenhamos realmente vivido e sobre o amor que tenhamos partilhado. Quando Cristo nos fala em tomar a cruz de cada dia, Ele nos diz simplesmente que saibamos nos ultrapassar, renunciar à nossa própria vontade para fazer a vontade divina. Renunciar a si mesmo é uma cruz que não se pode carregar senão com um amor a qualquer coisa maior do que aquela que se deixa de lado, qualquer coisa superior a nós mesmos que no caso é Deus. Carregar a cruz não significa nada de masoquismo, de dolorismo, mas uma escolha de conduta por amor a Deus e aos outros. É de se notar que a vida está repleta de provas e de contrariedades contra as quais não adianta simplesmente revoltar. O Mestre divino nos chama a viver com Ele, porque Ele é o único que pode tudo fazer concorrer para o nosso bem e o bem do próximo e para a glória dele, Todo-poderoso Senhor. Acatar com fé e confiança todas as provações por maiores que sejam, grandes ou pequenas, isto é carregar a cruz de cada dia. Isto não é fatalismo, ou renúncia a todo combate, mas, ao contrário, é fazer face a todo esforço de cada hora por amor a Deus e aos irmãos. Deus, contudo, nunca nos deixa sós, mas para se chegar a viver com Ele, por Ele e nele é preciso orar e sobretudo ter sempre para Ele um lugar dentro do nosso coração. Assim sendo, o cristão a cada dia vai se tornando uma pessoa nova.  É que discípulo significa seguidor, ou seja, na alheta do Mestre ser como Ele, pensar como Ele, existir como Ele. Viver com Jesus e o acompanhar seja onde for. Ele deve ocupar o primeiro lugar na vida de seu seguidor. Colocar a confiança nas coisas terrenas é impedir entrar em plenitude no reino de Jesus. Ninguém pode obter o dom da vida eterna se não estiver disposto a sacrificar as coisas terrestres para a obter. Um cristão rico pode entrar no reino dos céus, como o pobre, com a condição dele sujeitar seu coração e suas afeições à vontade de Deus e a Jesus que   é o caminho, a verdade e vida. Suas afeições e suas esperanças não se acham nos bens passageiros deste mundo. O verdadeiro seguidor de Jesus ajunta tesouros mas no céu e não nesta terra, carregando a cruz de cada dia.

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