Faz algumas semanas que a expressão “carne fraca” tornou-se popular, a partir da investigação da Polícia Federal na indústria da carne. A partir da divulgação da operação, com suas múltiplas consequências, a expressão “carne fraca” passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros, além de ter repercussão mundial.
Quando ouvi a expressão pela primeira vez, fiquei em dúvida sobre o significado que os autores queriam dar à Operação Carne Fraca. Se tinham a intenção de falar de carne de má qualidade, produtos adulterados, adição de produtos químicos proibidos, etc. ou se “carne fraca” fazia referência às pessoas que cometeram os crimes, dando assim uma conotação moral, no sentido de corrupção, desvio de conduta, má fé, falsificação, conivência com o crime, etc. E a terceira hipótese poderia incluir os dois sentidos.
A Semana Santa nos coloca diante de atitudes contraditórias de pessoas, de grupos e das multidões. Ressalta a fragilidade do corpo humano nos personagens que são maltratados e terminam morrendo. Jesus, verdadeiro homem, sofre a dor física da tortura, vive a angústia diante da execução eminente e finalmente morre pendurado numa cruz; tendo por companheiros, de tortura e de morte, naquela hora, dois ladrões. É o retrato da carne fraca física que morre e se desfaz.
Outros fatos da Semana Santa se relacionam com a carne fraca, no sentido de fraqueza e de corrupção moral. Judas Iscariotes se deixa corromper por 30 moedas de prata. Pedro, quando interrogado, por três vezes negou que conhecia Jesus e que tivesse qualquer ligação com Ele. Os dois que tinham sido escolhidos, educados e orientados para darem continuidade à missão do mestre, sucumbem diante do dinheiro e da pressão. Além disso, temos um processo sumário de condenação: falsas testemunhas; manipuladores da opinião pública que induzem a multidão ao erro; tortura, desprezo, deboche; Pilatos, como juiz, estava consciente da inocência do acusado, mas lava as mãos e dá uma sentença injusta para agradar a um grupo que o pressionava.
A Semana Santa é uma referência para a compreensão da fragilidade do ser humano, mostrando que é um ser de “carne fraca”. Cheio de boas intenções e de discursos bem elaborados, mas de espírito frágil para viver em meio as tentações da carne. Temos uma enorme quantidade de leis, normas, regulamentações e as suas respectivas punições para garantir um comportamento ético. Os fatos cotidianos revelam a distância entre o ideal e o real.
Porém, o mais importante da Semana Santa não é ressaltar a carne fraca humana, mas o espírito forte e de vitória da vida sobre a morte. Ao entrar em Jerusalém, Jesus é aclamado como rei, mas vem montado num jumento, numa atitude de serviço. O mestre lava os pés dos discípulos mostrando que o maior é aquele que serve. Depois de traído por Judas e preso, Pedro quer defendê-lo com a espada e a violência, mas recebe como resposta a não violência. Nas provocações durante os interrogatórios reafirma, em palavras e na postura, o que ensinara em público. Não volta atrás do seu projeto, não se deixa corromper. Não deseja o mal ou a morte daqueles que estão lhe maltratando, mas responde com perdão, pois não sabem o que estão fazendo, além de conceder o perdão ao ladrão arrependido. Morrendo na cruz, morre pela redenção dos pecadores. E por fim, realiza o que havia anunciado: ressuscita e deseja a paz.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
07 de abril de 2017