No próximo sábado, dia 30 de maio, às 10h30, acontece a missa de despedida do cardeal Sérgio da Rocha da arquidiocese de Brasília, igreja à qual assumiu em 6 de agosto de 2011. A missa será transmitida pelas redes sociais da arquidiocese de Brasília direto da Catedral Metropolitana. Na ocasião será celebrado o Jubileu de 50 anos deste marco da arquitetura brasileira.
Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira, 27 de maio, o arcebispo eleito para a arquidiocese de Salvador (BA), primaz do Brasil, falou da nomeação de seu vigário-geral, o padre Jeová Elias Ferreira como novo bispo da diocese de Goiás (GO). Na ocasião, o arcebispo de Brasília também falou de seus momentos finais à frente da Igreja na Capital Federal do país.
Em entrevista ao portal da CNBB, o cardeal disse que as palavras “comunhão” e “missão” definem o seu tempo de pastoreio em Brasília. “Na verdade, não simples palavras, são um programa de vida e de ação pastoral”, disse. Dom Sérgio disse que insistiu muito na comunhão na unidade. “Insisti que é preciso caminharmos unidos, uma vez que a missão é grande demais para ser assumida sozinho. Então precisávamos, e precisamos, caminhar unidos, entre nós, unidos aos bispos do Brasil, à nossa Conferência Episcopal, nossa Querida CNBB e unidos ao querido Papa Francisco”, afirmou.
As Visitas Pastorais Missionárias foram citadas pelo cardeal como “uma das experiências mais agradáveis e que deram muitos frutos em Brasília”. Para o arcebispo, não são apenas visitas que o bispo realiza, mas visitas que o bispo realiza durante vários dias numa paróquia, acompanhado de padres, de um grande número de missionários, de leigos e leigas. “Eu creio que esta foi uma das marcas deste período que aqui estive”, afirmou.
“Mais do que atividades o que conta mesmo foi esse período bonito de trabalho conjunto, convivência fraterna, e serviço que procurei fazer aqui”.
Entre as atividades de destaque está a atuação do religioso como presidente da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil de 2015 a 2019. Dom Sérgio foi criado cardeal pelo Papa Francisco no consistório realizado na basílica de São Pedro, em 19 de novembro de 2016, recebendo o título da basílica de Santa Cruz na Via Flaminia, em Roma. É membro do Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos (Vaticano), da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL) e da Congregação para o Clero.
A posse do cardeal como arcebispo de Salvador (BA) está marcada para o dia 5 de junho, às 19h, na Catedral Metropolitana Transfiguração do Senhor (Catedral Basílica), localizada no Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador. Abaixo, a íntegra da entrevista que ele concedeu ao portal da CNBB.
1 – O que mais marcou seu pastoreio nesses nove anos à frente da Igreja em Brasília?
Seria muito difícil resumir de maneira justa toda a riqueza da experiência vivida aqui na arquidiocese de Brasília (DF). Eu me senti, em Brasília, muito acolhido e amado generosamente por essa Igreja querida, pelo clero e pelo povo pelo qual eu tenho uma gratidão imensa. É muito difícil resumir, em poucas palavras, ou indicar apenas uma atividade ou outra dentre tudo aquilo que foi vivenciado nesses anos.
Mas eu costumo resumir em duas palavras, mais do que em atividades, a vivência desses anos. Tem sido divulgada uma série de atividades e iniciativas deste período, mas eu prefiro resumi-las em duas palavras: a palavra comunhão e a palavra missão. Que, na verdade, não são simples palavras, são um programa de vida e de ação pastoral.
Desde a minha chegada em Brasília, eu insisti muito na participação de todos na vida da Igreja. Insisti muito na comunhão, na unidade. Insisti que é preciso caminharmos unidos, uma vez que a missão é grande demais para ser assumida sozinho. Então precisávamos, e precisamos, caminhar unidos, entre nós, unidos aos bispos do Brasil, à nossa Conferência Episcopal, nossa querida CNBB e unidos ao querido Papa Francisco.
Tudo isso em vista da missão. Algumas pessoas até afirmam que “eu falava com tanta frequência de missão, de missionários”, que às vezes estranhavam quando não aparecia essas palavras em minhas pregações.
E não foram apenas palavras. Foi, na verdade, uma insistência, graças a Deus, compartilhada pela arquidiocese de Brasília. Por isso, eu queria ressaltar uma das experiências, que em minha avaliação foi das mais agradáveis e deu muitos frutos em Brasília, as chamadas visitas pastorais missionárias. Que não são apenas visitas que o bispo realiza, mas visitas que o bispo realiza durante vários dias numa paróquia, acompanhado de padres, de um grande número de missionários, de leigos e leigas. Eu creio que essa foi uma das marcas deste período que aqui estive.
Eu insisti muito também na formação de comunidades. De criar novas comunidades em toda parte do Distrito Federal de tal modo que nada ficasse sem a presença da Igreja. Foram criadas 23 paróquias no meu período. Não era tanto a criação de paróquias, mas a formação de comunidades, com espaços de participação das pessoas.
Tive a graça de ordenar 80 padres aqui em Brasília. Muitos diáconos. Naturalmente, mais do que atividades o que conta mesmo foi esse período bonito de trabalho conjunto, convivência fraterna e serviço que procurei fazer aqui. Eu devo muito à graça e ao amor de Deus, mas devo também às pessoas me acompanharam. Eu não trabalhei sozinho. Se alguma coisa boa há, é compartilhado o mérito ou o fruto e é graça de Deus, tudo é graça. Contei com muita gente, nossos bispos auxiliares, o clero, as religiosas e religiosos, tantas pessoas consagradas, os fiéis, leigos e leigas, os movimentos, pastorais, associações… É uma riqueza imensa a Igreja em Brasília. Precisa ser melhor conhecida. E por fim, além das grandes celebrações na Catedral de Brasília, gostaria de destacar aqueles momentos, Corpus Christi e celebração de Nossa Senhora Aparecida na Esplanada dos Ministérios, que nem sempre todo mundo sabe que existe e são belíssimos. Poderiam ser melhor divulgados e compartilhados. São momentos muito bonitos de unidade e missão na vida da Igreja de Brasília.
2 – Quais expectativas para assumir a Igreja em São Salvador, a arquidiocese primacial do Brasil?
Eu olho para a minha missão em Salvador (BA) primeiramente com muita esperança. Esperança que vem de Deus em saber que contamos com a presença de Jesus junto àqueles que envia. Acabamos de recordar o Evangelho e o mandamento de Jesus: “ide anunciar o Evangelho e fazer discípulos. Eu estarei com vocês, todos os dias, até o fim”. Essas palavras de Jesus me acompanham sempre. Vou com essa esperança. Vou com a esperança de contar com a colaboração de muita gente.
Não dá para assumir sozinho a missão da Igreja que lá, em Salvador, também é muito exigente. A arquidiocese é muito grande. É a primeira do Brasil. Isto não é um título de honra, é responsabilidade eu me tornar um arcebispo primaz. Porque eu estou participando e vou começar a participar mais de perto de uma história longa, bonita, de vários séculos. Eu saio de Brasília, que é uma realidade recente de Igreja numa capital federal que não existia, e vou para a primeira capital do Brasil.
O título de arcebispo primacial e arquidiocese primaz do Brasil claro que nos honra no sentido espiritual, mas é mais responsabilidade, não honraria, e estímulo para eu continuar servindo cada vez melhor e honrar a história daquela Igreja que é tão rica. Naturalmente, vou com esperança e esperando contar com a colaboração de todos. E já tenho recebido provas deste amor. Primeiramente quero agradecer de coração ao senhor arcebispo dom Murilo Krieger, aos bispos auxiliares, ao clero e até manifestações do povo de várias partes da Bahia que têm se manifestado de forma generosíssima, muito além do que podia imaginar. Por isso vou animar, apesar de sentir por ter que deixar Brasília onde constitui uma família, onde estou há 9 anos. Aqui me senti muito amado. E já começo a me sentir amado também pelo povo de Salvador. E, como tenho dito, já começo a fazer e já me sinto parte daquela Igreja querida.