Mariangela Jaguraba – Vatican News
O arcipreste da Basílica de São Pedro, cardeal Mauro Gambetti, celebrou a missa da Ceia do Senhor, com o tradicional rito do Lava-Pés, no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana, nesta Quinta-feira Santa (17/04). A celebração foi concelebrada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin.
Em sua homilia, destacou que “até a verdadeira e definitiva Páscoa que Jesus celebra se realiza num contexto de provação. Injustiça, perseguição, calúnia, enfermidade, violência, medo, solidão. Jesus deseja ardentemente alimentar a intimidade, a familiaridade do lar, a amizade do cenáculo, a fraternidade da assembleia eclesial. Ele quer comer com os seus e celebrar a Páscoa com eles”.
Vender o Mestre para obter lucro
“O grupo é heterogéneo, um mosaico de humanidade. Impulsivos e apaixonados, reflexivos e profundos, ambiciosos e impetuosos, sinceros e humildes: juntos sentam-se à mesa com ele. Quase todos sedentos de glória; todos são frágeis, habilidosos em esconder suas fragilidades. Tocou-me profundamente esta determinação de Jesus em partilhar o pão e o vinho com todos aqueles que o Pai lhe confiou. É tão humano! Penso em quantas oportunidades perdi de ser tão humano diante das dificuldades da vida, ocupado a procurar soluções ou escapatórias”, disse o purpurado.
O mundo está levando embora o que temos em nosso ‘caixa’: valores, inteligência, consciência, amor humano. Estamos todos à venda, numa base de custo-benefício, para obter algum lucro, econômico e de poder.
Guerras, resultado do declínio
De acordo com o cardeal Gambetti, “não há mais cuidado com as relações – sejam elas familiares, de amizade, profissionais ou institucionais – e não há compaixão pelos marginalizados, pelos migrantes, pelo meio ambiente”.
Segundo o arcipreste da Basílica de São Pedro, “nossas famílias e nossas comunidades são muito semelhantes ao grupo de discípulos, especialmente na fragilidade, na baixa autoestima, na raiva, mas também na sede de liberdade, de justiça, de paz“.
O coração de Jesus é sacerdotal
Segundo o purpurado, os que foram agraciados com Sacramento da Ordem “são chamados a participar da medida universal do Amor”. Lembrou, em seguida, o testemunho do pe. Giuseppe Berardelli, um sacerdote idoso de Bérgamo que, durante a pandemia da Covid, quando os recursos eram escassos, faleceu depois de renunciar ao respirador para que fosse disponibilizado a outra pessoa: “O dom de si para fazer o povo viver”, disse o cardeal.
“Creio que este é o momento para a Igreja se abrir a um tempo novo, o tempo de revelar sua natureza de povo sacerdotal. A novidade vem da Eucaristia, de nos tornar eucaristia, fazer como Jesus fez e mostrar a humanidade divina que o Batismo nos conferiu”, concluiu.
O rito do Lava-Pés
Durante a celebração, também foi realizado o rito do Lava-Pés. O arcipreste inclinou-se diante dos leigos, homens e mulheres que frequentam ou trabalham na Basílica de São Pedro. Rostos cotidianos, cada um com suas fragilidades, símbolos vivos daquele grande cenáculo de humanidade evocado pelo cardeal em sua homilia. Após a oração final, uma procissão guiada pelo cardeal Gambetti acompanhou o Santíssimo Sacramento até a capela da Basílica Vaticana preparada para a adoração, seguida do hino “Pange língua” cantado pelo coral histórico do Vaticano, Cappella Giulia.