Neste Domingo das Missões e dentro do momento em que se vive em Roma o Sínodo sobre a Família, o Papa Francisco canoniza 4 beatos, entre os quais os pais de Santa Teresinha.
Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) foram declarados bem-aventurados em 19 de outubro de 2008. A razão não foi por serem os pais de Santa Teresinha, mas por que se empenharam totalmente em fazer a vontade de Deus em qualquer situação de suas vidas. Luís e Zélia, com suas vidas, nos ensinam que a santidade é caminho para a esposa, o marido, os filhos, os colegas de trabalho e para a sexualidade. O santo não é um super-homem, mas um homem verdadeiro. Dentro do contexto da Terceira Assembleia Geral do Sínodo das Famílias, o Papa Francisco apresenta os pais de Santa Teresinha como modelos de santidade a serem seguidos pelas famílias hodiernas.
Se tanto amamos Teresinha de Lisieux, se tanto nos encanta sua santidade, devemos dizer que ela é também fruto de seus pais, um casal que vivia o amor de Deus tanto na alegria como nas tristezas. As muitas cartas deixadas por Zélia dão testemunho deste colocar-se inteiramente nas mãos de Deus.
“Eu amo loucamente as crianças e nasci para ter filhos”, dizia Zélia. Mas, contraditoriamente, esse lar não era para existir. Aos 20 anos, Luís esteve na Suíça para aprender o ofício de relojoeiro. Dirigiu-se ao Eremitério de São Bernardo, dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, querendo ser monge. O Prior foi direto em não aceitá-lo e uma das razões era por ele não conhecer o latim. Luís retorna a Alençon e se dedica à oficina de conserto de relógios.
Já Zélia Guérin desejava ser admitida entre as Irmãs de São Vicente de Paulo, em Alençon. A Superiora não vê nela sinal de vocação. Decide, então, aprender artes domésticas de bordados e confecções, abrindo pequeno negócio em Alençon e indo de casa em casa à procura de fregueses.
Luís vive ardente espiritualidade alimentada no seio das Conferências de São Vicente de Paulo, onde pôde se inserir no trabalho social e cristão. As circunstâncias o levaram a conhecer Zélia Guérin, jovem de face diáfana e de sorriso doce e misterioso. Os dois se encontram e meses depois se casam, em 13 de julho de 1858. Zélia está com 27 anos e inicia com Luís um amor sólido e durável. Entre 1860 e 1873 nascem nove filhos, dos quais quatro morrem pouco depois do nascimento: Helena, José, João Batista e Melânia Teresa.
Constituíam um casal típico da pequena burguesia francesa do século XIX. Levam uma vida ordinária, é verdade, mas Deus ocupa um lugar especial em sua vida pessoal e comunitária. Diariamente frequentavam a Missa da manhã: Deus antes de tudo! A filha Celina escreveu, mais tarde: “Quando papai comungava, ele permanecia em silêncio na volta para casa”. “Continuo a conversar com Nosso Senhor”, dizia. No meio das tristezas pela perda dos filhos, “tudo aceitamos na serenidade e no abandono à vontade de Deus”. Oração em família duas vezes ao dia, ao toque do Ângelus ao meio-dia e às 18h. Natal, Quaresma, Páscoa, os meses marianos de maio e outubro, o 15 de agosto ocupam um lugar central em sua vida, tocando profundamente suas filhas. Essa espiritualidade conjugal e familiar não os isolou dos outros, pelo contrário, reforçou sua atenção a todos: domésticas, conhecidos, vizinhos.
A casa dos Martin era casa de caridade. Luís recolhe um epiléptico na rua e cuida de assisti-lo. Não hesita em convidar à mesa os mendigos encontrados na rua. Visita os anciãos. Ensina às filhas a honrar o pobre e a tratá-lo como um igual. Teresa será a mais sensibilizada por esse exemplo. Podemos afirmar que a doutrina da “pequena via” que fez de Teresinha Doutora da Igreja nasce do exemplo da vida de Luís e Zélia. Em seus escritos, Santa Teresinha mais vezes dirá: “O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do Céu que da terra”.
Luís e Zélia educavam suas filhas para que fossem santas. O desejo de santidade que ali se vivia impregnava toda a vida familiar. A santidade se manifesta nas etapas vividas pelo casal, etapas tão semelhantes às de um casal atual: casamento tardio, trabalho, dupla jornada de Zélia entre a casa e a loja, ambos assumem a educação das filhas. Foram consumidos por doenças contemporâneas: o câncer de Zélia e a doença neuropsiquiátrica de Luís. Atravessam a guerra de 1870 entre França e Alemanha, as crises econômicas, o drama da morte de Zélia em 1877. Sozinho, Luís deve criar e educar suas cinco filhas: Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa.
Luís e Zélia vivem o sofrimento, cada um a seu modo. Em dezembro de 1864 Zélia descobre um câncer impossível de ser operado, que não lhe oferece nenhuma chance de cura. Zélia aceita a morte com coragem heroica, trabalhando até a véspera, a cada manhã participando da Missa. Sua força era a existência das cinco filhas. Em agosto de 1877 seus seios são amputados. Preocupa-se, sobretudo, por Leônia, meio doentinha. Carrega a cruz por 12 anos, até a morte aos 46 anos, em 28 de agosto de 1877.
A Paixão de Luís com todos esses acontecimentos é enorme. A partir de novembro de 1877 passa a residir em Lisieux e, sucessivamente, entrega todas as filhas a Deus na vida consagrada: Paulina (1882), Maria (1886), Leônia (1899), Teresa (1888) e depois Celina (1894).
Relendo sua vida familiar à luz do Amor Misericordioso, em 1896, Teresinha relembra a entrada no Carmelo nos braços de “seu Rei” e nunca imaginaria que poucos dias após a tomada do hábito seu querido pai “deveria beber a mais amarga, a mais humilhante de todas as taças”. “Os três anos de martírio de Papai me parecem os mais amáveis, os mais frutuosos de toda a nossa vida. Eu não os trocaria por nada, por nenhum êxtase ou revelação este tesouro que deve provocar uma santa inveja nos Anjos da Corte Celeste”.
Pouco antes da doença, Luís escreveu às três filhas carmelitas: “Devo dizer-vos, minhas queridas filhas, que sou obrigado a agradecer e fazer-vos agradecer ao bom Deus, porque eu sinto que nossa família, apesar de tão humilde, tem a honra de ser privilegiada por nosso adorável Criador”.
É verdade que Deus cumulou de bênçãos e graças o lar de Luís e Zélia. É mais verdade, porém, que ambos abriram suas vidas ao dom de Deus, dele fazendo participar intensamente suas filhas.
Eles foram canonizados neste domingo, 18 de outubro, coincidindo com o Sínodo da Família e no Dia Mundial das Missões. Francisco tornou oficial esse fato em um consistório ordinário público celebrado no dia 27 de junho.
O Santo Padre já havia reconhecido, em março deste ano, o segundo milagre que abriria as portas para a canonização dos pais de Santa Teresinha: foi a cura inexplicável de uma menina chamada Carmem.
Carmem nasceu com uma hemorragia cerebral que lhe afetava os pulmões e o coração. Agora ela está curada e sem sequelas. A cura foi fruto de um pedido de intercessão – insistente e fervoroso – feito pela mãe de Carmem ao casal Louis e Maria Azelia Martin.
Com essas canonizações, o Papa explicita a importância da santidade dessa família cristã como um caminho concreto para a crise da família hoje.
Este Mês das Missões começou com a festa da co-padroeira das missões, conhecida como Santa Teresa do Menino Jesus. Marie-Françoise Thérèse Martin nasceu em 1873 e faleceu em 1897. Ela foi canonizada em 1925 e tornada Doutora da Igreja em 1997. Embora nunca tenha saído do Mosteiro das Carmelitas Descalças de Lisieux, é considerada a Patrona das Missões.
Em 18 de março, o Papa validou a recuperação de uma menina doente na Espanha como um milagre atribuído à intercessão dos pais da santa. Louis Martin e Zélie Guérin, mortos em 1894 e 1877, aos 71 e aos 46 anos, respectivamente, foram beatificados em 2008. Eles tiveram nove filhos, dos quais quatro faleceram ainda jovens, e cinco meninas ingressaram na vida religiosa. Casados em julho de 1858, eles compartilharam 19 anos de vida conjugal.
Assim sendo, queremos pedir a intercessão deste tão nobre casal a todas as famílias do mundo inteiro, para que vivamos a santidade que Deus tanto nos pede.