Dando continuidade ao compilado de livros “Cadernos do Concílio” elaborados no Vaticano e traduzidos e publicados pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – sobre o Concílio Ecumênico Vaticano II, em preparação ao ano jubilar do próximo ano, nesse artigo vamos falar um pouco sobre o volume 4. Esse volume 4 tem como tema: “A Inspiração”, e foi escrito por Monsenhor Antônio Pitta, professor da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. A inspiração trata justamente da inspiração Divina que guiou as discussões de elaboração do texto da Constituição Dei Verbum.
A Dei Verbum é um dos primeiros e mais completos documentos conciliares, e trata justamente sobre a Palavra de Deus e o seu significado na vida da Igreja, e como essa Palavra deve ser anunciada na vida da Igreja. A Palavra de Deus é o próprio Deus encarnado no meio de nós. “A Palavra se fez carne e habitou entre nós”. A Dei Verbum trata também da revelação divina à humanidade.
Esse Documento trata também de como devemos cuidar da Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus está no coração da Igreja. Esse documento também diz a toda a Igreja como cada membro, seja ele ministro sagrado ou não, pode e deve anunciar a Palavra de Deus. Quando fomos batizados nos tornamos discípulos e missionários do Senhor e chamados a ser testemunhas de Jesus Cristo anunciando o Reino de Deus.
Os Padres conciliares quiseram transmitir com esse documento a ideia de que a Palavra fosse mais difundida em toda a Igreja e que todos os fiéis conseguissem estudar mais e compreender a Palavra. A Palavra de Deus deve encher cada vez mais o coração dos homens e mulheres, e tomar a Palavra como propósito de vida.
Durante a Missa participamos de duas grandes mesas: a da Palavra e a da Eucaristia ou do Corpo de Cristo. Após compreender aquilo que foi anunciado pela Palavra poderemos comungar do Corpo e Sangue de Cristo. Do mesmo jeito que os discípulos de Emaús, depois de escutarem Jesus lhes explicar as Escrituras, sentiram o coração arder e os olhos se abrirem. Por isso, temos que participar atentamente da liturgia, deixar com que a Palavra anunciada interiorize em nós para que nossos olhos se abram ao grande mistério da Eucaristia.
O documento vai dizer também que uma das partes mais importantes da liturgia da Palavra é a homilia, aquele que preside a celebração deve proferir a homilia tendo como base as leituras proclamadas naquela missa, procurando transmitir aos fiéis aquilo que Deus queria transmitir à comunidade naquele dia. Ao final da missa, após participar dessas duas grandes mesas, quando o padre diz: “ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”, começa a missão de cada um de nós, ou seja, transmitir aquilo que ouvimos durante a celebração para aqueles que ficaram em casa.
O Espírito Santo tem um papel muito importante na compreensão de cada um de nós diante da Palavra anunciada. O Espírito Santo revela a cada um de nós o que diz a Palavra de Deus, e muitas vezes o Espírito Santo nos orienta qual atitude deveremos tomar. O Espírito Santo é um sopro, e sopra onde e quando quer. Por meio do Espírito Santo temos a Eucaristia e os demais sacramentos. A Igreja é Santa pecadora, ou seja, é santa porque é constituída pelo Espírito Santo e pecadora porque tem os homens.
Por mais que o documento esteja completando sessenta anos, ele continua sendo atual na vida da Igreja, a Palavra de Deus nunca deve deixar de ser estudada, e ela é sempre atual. A Palavra de Deus não é qualquer livro que pegamos aleatoriamente e lemos para passar o tempo, a Palavra de Deus tem que ser meditada e compreendida, e a partir da meditação da Palavra pautaremos certas situações da nossa vida. A leitura da Palavra de Deus deve ser acompanhada da oração.
A Palavra de Deus foi escrita por inspiração divina, todos os livros da Sagrada Escritura são de inspiração divina. Os textos do Antigo Testamento em sua maioria foram escritos para alertar a humanidade a deixar o caminho errado, ou seja, as injustiças, e optar pelo caminho certo, trilhando o caminho da justiça. O Antigo Testamento narra como Deus salvou o povo e fez uma aliança com eles. A partir do Novo Testamento, Deus faz uma nova e eterna aliança com a humanidade, revelando a todos o seu filho Jesus Cristo. Os evangelhos foram escritos a partir do evento paixão, morte e ressurreição de Jesus, sobretudo o Novo Testamento foi escrito a partir da experiência que os apóstolos e aquela comunidade teve com Jesus.
Nos dias de hoje, Jesus permanece presente “espiritualmente”, sobretudo por meio da Eucaristia e dos demais sacramentos. Esse mesmo Espírito Santo nos ajuda a compreender as Sagradas Escrituras e torná-la atual nos dias de hoje. A Palavra de Deus não é como um livro qualquer que fica desatualizado com o passar o tempo, ela é sempre atual e nos orienta o caminho a seguir.
Convido a cada um a ler a Constituição Dogmática Dei Verbum, e tomar a Palavra de Deus como leitura diária, e a partir da leitura da Palavra orientar as nossas ações para o dia a dia. Invoquemos sempre o Espírito Santo, pois somente por dele é possível compreender as Sagradas Escrituras e a revelação que Deus tem para nós. Amém.
