Brasil necessita de choque de aprendizagem

Talvez hoje, com as redes sociais, possa este povo dizer o que pensa de fato, provocar a reflexão entre os amigos e construir uma sociedade do diálogo e da democracia

O que convence uma pessoa a votar em um candidato? Esta é, a meu ver, a questão primordial dos problemas que afetam o Brasil. O histórico de corrupção é antigo, mas mesmo assim o povo é conivente e segue elegendo pessoas que claramente apresentam um enriquecimento no mínimo suspeito. A operação Lava Jato revela dezenas de ocasiões onde políticos requerem desvio de dinheiro para utilizar em campanhas eleitorais; e como são estas campanhas? São os publicitários que nos convencem em quem devemos votar? Somos manipulados pelas técnicas de marketing? Onde estão as raízes da aprendizagem do povo brasileiro? Como se dão os processos de solidificação de nossa cultura? Chegou a hora de um choque de aprendizagem.

Algumas pesquisas apontam que cerca de 40 milhões de pessoas assistem novelas todos os dias e todas elas seguem um roteiro básico de herói, vilão e intrigas, a receita mais antiga de manipulação das massas. Uma pesquisa realizada pela Fundação Lemann Conselho de Classe revela que o maior problema nas escolas, segundo os professores, é a falta de acompanhamento psicológico dos alunos, seguido pela indisciplina e defasagem do aprendizado, além dos alunos que passam de ano sem aprender. O analfabetismo funcional afeta mais de 20% da população. É muito frequente, por exemplo, que universitários não consigam interpretar bem um texto.

O modelo de massificação herói/vilão seduz. A tendência é que diante das crises sociais o povo escolha um lado para defender e outro para atacar, da mesma forma que acontece nas novelas. Está claro que este modelo não produz mudanças, nem, tão pouco, desenvolvimento humano. Diante da crise a população parte logo para um processo de ataque e defesa sem fazer uma reflexão crítica da situação. Veja, por exemplo, o caso do Mensalão, Joaquim Barbosa foi eleito o herói, e os mensaleiros os vilões; houve manifestações, indignações no Facebook e em todas as redes sociais, passados uns meses, as penas diminuíram, alguns foram soltos, ganharam indultos e benefícios, e a presidente nunca reconheceu a culpa dos membros de seu partido.

As condenações do mensalão, embora deram uma sensação passageira de justiça para a população, em nada parecem ter afetado os políticos, basta ver o espantoso número de envolvidos na operação Lava Jato. As notícias são contidas e em muitos casos carregadas do mesmo modelo herói/vilão. O equívoco a que tendemos a incorrer novamente é a busca por salvadores, que para alguns poderão ser os juízes, os promotores, um ou outro político, ou até mesmo o exército, como já se ouvem alguns rumores, em todos os casos, infeliz e pobre pensamento! Equivocada será também a escolha de vilões para sofrer a fúria social. Um impeachment, por exemplo, pode trazer satisfação momentânea para a massa e será sem dúvida uma instantânea sensação de justiça que não resolverá o grande problema.

Se desde a época do Brasil colônia, o povo brasileiro busca heróis para o cargo de salvadores da pátria, fazendo a manutenção do patrimonialismo e do patriarcalismo, talvez hoje, com as redes sociais, possa este povo dizer o que pensa de fato, provocar a reflexão entre os amigos e construir uma sociedade do diálogo e da democracia, bem diferente do modelo novelesco. Se é por complexo de inferioridade que o povo se deixa manipular pelos perversos que sentem prazer em abusar dos direitos alheios, que se divulgue pelos telhados que cada brasileiro é digno de respeito, que cada jovem é capaz de construir seu próprio destino, que cada idoso tem sua sabedoria para seguir contribuindo com o desenvolvimento, e que os grandes responsáveis pelo desenvolvimento desta nação não são, de forma alguma, os políticos, mas sim cada indivíduo que forma com seu trabalho e seus sonhos, as maravilhas deste país.

Fonte: Aleteia