Bispo indiano pede que cristãos rezem pela Caxemira

“A última coisa de que a região precisa é de outra guerra”, diz o Rev. Jospeh D’Souza, após as tensões ressurgidas na fronteira entre Índia e Paquistão, com a decisão de Délhi de suspender a autonomia da região da Caxemira, de maioria muçulmana.

“Cristãos de todo o mundo deveriam rezar pela Caxemira”, afirma o Rev. Joseph D’Souza, líder cristão protestante, bispo primaz da Igreja do Bom Pastor da Índia, em uma carta apelo publicada pela Agência Asia News.

Ele está entre os poucos expoentes da Igreja indiana a intervir nas tensões na Caxemira, que ressurgiram em 5 de agosto passado, após a decisão do governo de Deli de revogar o artigo 370 da Constituição, que garante uma semiautonomia ao Estado de Jammu e Caxemira, sobre os quais há mais de 70 anos também o Paquistão reivindica soberania territorial. Os cristãos, diz o reverendo, “deveriam rezar a Jesus, o Príncipe da paz, para que a paz reine em nossos países”.

“Peço aos indianos, aos paquistaneses e a todos os cristãos, um pequeno esforço que transcende a complexidade da questão e as rivalidades que existem há algum tempo entre nossos dois países por causa disso. Os cristãos deveriam rezar a Jesus – o “Príncipe da Paz” – para que a paz reine em nossos países e na nossa região, segundo Jeremias 29, 7: “Deus chama cada um de nós a buscar paz e prosperidade” pelos nossos países (…) Rezai ao Senhor por ela; pois do bem dela depende o vosso bem”.

Índia e Paquistão possuem armas nucleares

“Desde que a divisão do subcontinente indiano [e a independência do Império Britânico] ocorreu em 1947 – explica na mensagem – a Índia e o Paquistão travaram três guerras pela região da Caxemira. Centenas de milhares de civis e soldados morreram nos dois lados da fronteira durante conflitos armados e violências entre comunidades. A última coisa que a região precisa é de outra guerra, especialmente considerando que ambas as nações possuem armas nucleares.”

Situação agravada pela presença de terroristas

O bispo observa que nos últimos anos esta situação ficou mais complicada em função do terrorismo trans-fronteiriço. Até mesmo o primeiro-ministro do Paquistão admitiu recentemente que cerca de 30.000 a 40.000 terroristas operam em território paquistanês.

Em pouco mais de 25 anos mais de 45.000 pessoas em Jammu e Caxemira morreram em confrontos militantes entre países e em ataques terroristas originários do Paquistão. “Quando a Índia cita questões de segurança nacional para suas decisões na Caxemira, não o faz por nenhuma razão”, explica.

No entanto, “o status quo na Caxemira tem sido insustentável há muito tempo, e talvez por alguma ação da Divina Providência essa interrupção poderia resultar em uma solução [viável], se o governo indiano e o povo indiano acolherem os habitantes da Caxemira como cidadãos da Índia. No entanto, isso exigiria um milagre divino, um milagre totalmente improvável se o povo de Deus não rezar”.

Preservar a liberdade religiosa

Além de rezar por uma resolução pacífica e permanente deste conflito difícil de gerir, eles também deveriam rezar “por cristãos, hinduístas, muçulmanos e todos aqueles para quem a liberdade religiosa está envolvida nesses conflitos políticos. Em essência, os cristãos devem rezar para que ninguém faça uso do ódio sob qualquer forma e pretexto, reconhecendo sempre a intrínseca dignidade de cada ser humano e sua liberdade de consciência dada por Deus”.

A decisão do governo indiano

O Artigo 370, aprovado em 1949, passou a garantir um status especial ao Estado indiano de maioria muçulmana, permitindo a aprovação de leis separadas, ter uma bandeira diferente do resto da União e uma Constituição autônoma. Em outras áreas, como defesa, relações exteriores e comunicações, permanecem em vez disso, uma prerrogativa do governo central. Já o Artigo 35A (corolário do 370) concedia outros privilégios especiais aos moradores, garantindo direitos exclusivos sobre a propriedade da terra.

De acordo com Delhi, que incluiu a abolição do status especial no manifesto eleitoral deste ano, o art. 370 nunca permitiu a plena integração da população muçulmana da região. Para os críticos do primeiro-ministro Narendra Modi, a decisão pretende alterar a composição demográfica do território. Para os moradores, esta decisão política tem como único objetivo expropriar suas terras, permitindo que sejam compradas por outros cidadãos.

Para o reverendo D’Souza, “a decisão exasperou as relações já tensas entre a Índia e o Paquistão e pressionou o primeiro-ministro paquistanês a ameaçar de levar a questão a nível global”.

Enquanto isso, hoje, pela primeira vez desde 1965, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se na sexta-feira, 16, para tratar sobre o tema da Caxemira. A convocação da Assembleia foi a pedido do governo de Islamabad, sendo apoiada pela China, com a qual o primeiro-ministro Imran Khan tem enormes interesses comerciais para a infraestrutura da Nova Rota da Seda.

 

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