Beirute, o governo se demitiu

Todo o governo do primeiro-ministro Hassan Diab se demitiu. O anúncio oficial através da TV: as explosões no porto de Beirute, são “o resultado de uma corrupção endêmica”. Enquanto isso, a Conferência de doadores destinou 250 milhões de euros em ajuda, a ser canalizada através da ONU diretamente à população, e pediu reformas que atendam às necessidades da população. Na capital, ferida pela catástrofe da última terça-feira, muitas pessoas estão se oferecendo voluntariamente para ajudar. Conosco padre Elia Mouannes de uma paróquia próxima ao bairro mais afetado.

Fausta Speranza, Silvonei José – Vatican News

A República de Chipre colocou a disposição os aeroportos, portos e bases militares, em termos logísticos, para apoiar a ajuda humanitária e as atividades de proteção civil e reconstrução da cidade de Beirute. Foi o que anunciou o Presidente cipriota Nicos Anastasiades à margem da cúpula em videoconferência promovida nesta segunda-feira (10/08) pela França e ONU, que reuniu todos os países que se ofereceram para ajudar o Líbano com recursos financeiros e pessoal especializado. Surgiu a disponibilidade de 250 milhões de euros, com o compromisso de entregá-los diretamente aos que trabalham no campo. Sobre o possível compromisso da comunidade internacional e a mobilização da população local, falamos com padre Elia Mouannes, pároco de uma das 1.126 paróquias de Beirute:

Padre Elia nos conta que imediatamente em sua paróquia foi formado um grupo que prestou ajuda nas casas da área próxima a Karantine, o bairro completamente destruído pela explosão. Nos arredores, os edifícios não desmoronaram, mas dentro as casas sofreram muitos danos e a primeira tarefa, diz padre Elia, foi colocar as portas e janelas no lugar o mais rápido possível e garantir a alimentação. Na realidade, não falta ajuda nem mesmo dos voluntários que vêm até mesmo de fora de Beirute. Padre Elia descreve uma população angustiada, preocupada, desconfiada, mas também testemunha de grande humanidade e fé. Depois da grande prova da crise econômica, agora o terror das explosões e das tensões sociais. Para os cristãos, enfatiza o sacerdote, é precisamente o momento de dar testemunho daquilo em que eles acreditam: palavras e gestos de paz no seguimento de Cristo. Padre Elia explica que é normal estar inquieto com a injustiça, mas a expressão desta inquietação não pode ser violenta, não pode ir contra a mensagem de Cristo.

Padre Elia nos conta ainda como as palavras do Papa, no Angelus de domingo, trouxeram encorajamento e depois sublinha que ele sempre lembra a seus fiéis o que o Papa Francisco disse imediatamente após sua eleição à cátedra de Pedro e que ele repete com frequência: “é preciso trabalhar para construir pontes e não muros”. Então, um apelo à comunidade internacional que, além de se comprometer, como é importante, com a reconstrução material, também se comprometa a manter viva a mensagem de pacificação, para evitar a instrumentalização, a interferência, a prevalência de mensagens de ódio. E um testemunho pessoal: padre Elia nos diz que aos 49 anos de idade ele deve infelizmente dizer que grande parte de sua vida foi passada em um território em guerra. Mas também desta experiência talvez tenha nascido sua vocação sacerdotal, a serviço de Deus e da Igreja, porque – explica ele -, Deus trouxe a verdadeira paz à sua vida.

Tensões e demissões

Uma semana após a dupla explosão que atingiu o porto da capital, todo o governo se demitiu. Após a declaração aos jornalistas do ministro da Saúde, o discurso do primeiro-ministro Diab através da televisão. “A explosão do material armazenado no porto da capital durante os últimos sete anos – disse ele -, foi o resultado de uma corrupção endêmica. Hoje seguimos a vontade do povo em seu pedido de entregar os responsáveis pelo desastre que estão escondidos há sete anos, e o seu desejo de uma verdadeira mudança. Diante desta realidade – concluiu Diab – eu anuncio a demissão deste governo”. É o segundo governo a cair após os protestos contra a classe política: em outubro passado Saad Hariri tinha se demitido. A investigação passa agora das salas do governo ao Supremo Tribunal, enquanto, infelizmente, o número de mortos se agrava: 220 mortos e mais de 7 mil feridos.

A ajuda internacional e o apelo à reforma

O mundo deve agir com rapidez, eficácia e total transparência para ajudar o Líbano a se recuperar da crise em que mergulhou após a explosão devastadora em Beirute em 4 de agosto. Esta é a mensagem que emergiu da Conferência de doadores fortemente desejada pelo presidente francês Emmanuel Macron, o líder ocidental mais ativo na frente de assistência desde o início, e apoiada pela ONU, que reuniu, nesta segunda-feira, representantes de cerca de 30 países e instituições via internet. Os líderes, incluindo o presidente estadunidense Donald Trump e o presidente do Conselho Europeu Charles Michel, responderam ao chamado do Papa, que também pediu generosidade no Angelus de domingo, e concordaram que a ajuda deveria ser entregue “diretamente” ao povo libanês o mais rápido possível. Este foi um dos “nós” na véspera da videoconferência. A ajuda será gerenciada pela ONU através de suas agências em total “transparência” e entregue “diretamente” à população. Além disso, foi reiterado o pedido de um inquérito independente sobre o desastre no porto de Beirute.

Isto foi repetido por Macron e Michel, que haviam conversado com as autoridades libanesas nos últimos dias, e Trump também pediu o mesmo, exortando “o governo a conduzir uma investigação completa e transparente, à qual os Estados Unidos estão prontos a ajudar”. Aos líderes do governo libanês, Macron e Trump, também apelaram para que o governo libanês ouça as necessidades de quem manifesta legitimamente. “Tudo deve ser feito para que o caos e a violência não prevaleçam”, disse o presidente francês. O Fundo Monetário Internacional, que participou da videoconferência com a diretora Kristalina Georgieva, disse estar disposto a “redobrar seus esforços”, desde que o Líbano se comprometa a implementar as reformas solicitadas muito antes da explosão.

O risco da Covid-19

Até agora, de acordo com a contagem da John Hopkins University, foram registrados 6.223 casos e 78 mortes por Covid-19 no Líbano. Ontem, um médico que lidera a luta contra a Covid-19 no país, dr. Firass Abiad, diretor do Hospital Rafik Hariri de Beirute, disse que após a explosão devastadora no porto de Beirute e as manifestações de protesto, um novo surto de casos de coronavírus corona provavelmente ocorrerá no Líbano. “Infelizmente, esta atmosfera é propícia à transmissão do vírus”, afirmou ele.

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