As sete Palavras de Cristo na Cruz

    “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46)

     Ao longo da Semana Santa temos a oportunidade de participar de diversos momentos celebrativos, que nos enriquecem espiritualmente e nos preparam para celebrarmos o mistério da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. A programação pode mudar de paróquia para paróquia, mas temos várias celebrações da piedade popular que se sucedem nestes dias: o Ofício de Trevas (que faz parte da liturgia das horas), a procissão do encontro e o sermão das sete palavras de Cristo na Cruz ou as sete dores de Maria, além de outras tradições.

    Jesus foi elevado à Cruz por volta das 9h, ao meio-dia houve uma grande escuridão em toda terra, até as três horas da tarde, momento em que Jesus dá um forte grito e entrega o seu espírito. Nesse período, Jesus pronuncia as sete palavras, culminando com o: “Eloi, eloi, lamá sabactâni?” Que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

    No Domingo de Ramos e na Semana Santa ouvimos bastante a leitura do livro do profeta Isaías, no trecho conhecido como “Servo sofredor”, que é aquele servo que sofre em silêncio e sofre as injustamente as maldades dos outros, a semelhança do que acontece posteriormente com Jesus. É como um cordeiro que é conduzido ao matadouro, não abre a boca e não questiona, mas sofre em silêncio por um bem maior. A Igreja sempre guardou com carinho essas sete palavras de Cristo na Cruz e deu a elas o seu rico significado. Jesus esvazia-se totalmente, sai de si mesmo e se dirige aos outros.

    A primeira palavra que Jesus profere do alto da Cruz é: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). De fato, aqueles que prenderam, flagelaram e crucificaram Jesus não sabiam o que estavam fazendo, não eram capazes de compreender que Jesus era o Filho de Deus. Eles não tinham o entendimento da fé para compreender que tudo aquilo que Jesus fazia, era porque era o Filho de Deus. O perdão fez parte da vida de Jesus e o seus seguidores devem seguir o seu exemplo. Por isso, Jesus perdoa até aqueles que lhe condenaram a morte.

    Jesus nos ensina a perdoar aqueles que nos ofendem, prova disso é a oração do Pai Nosso que Jesus nos ensina: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Portanto, com essa primeira palavra de Cristo na Cruz, Ele nos ensina a perdoar até aqueles que querem nos condenar a morte injustamente.

    A segunda Palavra de Cristo na Cruz é: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus nos garante a vida eterna, Ele morre na Cruz e após três dias vence a morte. Senta-se à direita do Pai e vive eternamente ao lado D’Ele. Essa vida eterna é garantida a todos nós, inclusive uma pessoa que cometeu maldades a vida inteira, tem até o último momento de vida para se arrepender de seus pecados, se arrepender-se de coração sincero terá posse da vida eterna, no paraíso. É o que acontece com o “bom ladrão” que foi crucificado com Jesus, Ele, no momento que foi crucificado, se vendo perto da morte, se arrepende de seus pecados e pede para que Jesus lembre-se dele quando entrar no Paraíso. Então, Jesus profere a ele essa frase. A Quaresma tem esse sentido de conversão e mudança de vida, pois, é uma oportunidade de “ressuscitarmos” com Jesus na Páscoa.

    A terceira palavra de Cristo na Cruz é: “Mulher, eis aí o teu filho; filho eis aí a tua mãe” (Jo 19,26), essa terceira palavra Jesus dirige a sua mãe do alto da Cruz e a João apóstolo e evangelista. Ao entregar Maria aos cuidados de João, Ele entrega sua Mãe aos cuidados da Igreja e, ao João receber Maria, é como se a humanidade a recebesse como Mãe. Por isso, Maria é Mãe da Igreja e Mãe de todos nós. A figura do discípulo aos pés da Cruz, nos ensina que não devemos fugir dos momentos difíceis, devemos carregar as nossas cruzes do dia a dia e seguir em frente. Temos que ser seguidores de Jesus em todos os momentos, seja nos bons ou nos maus, pois segui-lo somente quando está tudo bem é fácil.

    Tenhamos Maria como Mãe, que possamos nutrir em nós a espiritualidade mariana, sobretudo rezando todos os dias o Santo Terço, para que ela nos ajude na luta contra o mal.

    A quarta palavra é: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste”? (Mt 27, 46), Jesus, como bem sabemos, além de Deus era humano, do mesmo modo que nós nos desesperamos e nos sentimos sem “saída” diante de alguns momentos, sobretudo perto da morte, Jesus solta esse grito, num momento de esvaziamento e abandono. Ao mesmo tempo que Ele se desespera, Ele confia na graça de Deus.

    Jesus solta esse grito de esvaziamento e de abandono, sobretudo como um alerta para aqueles que o crucificaram, para chamar a atenção dos soldados, tanto é que após isso, quando Jesus entrega o seu espírito, um dos guardas diz: “De fato esse homem era o filho de Deus”. Nos dias de hoje Ele continua gritando por tantos que o abandonam e não querem ouvir a sua voz. Logicamente Jesus tinha certeza de que Deus estava com Ele, e sabia que era necessário passar pela Cruz, mas Ele grita, em uma forma de chamar a atenção, de tatos corações insensíveis que de forma cruel entregaram o filho do homem.

    A quinta palavra é “Tenho sede” (Jo 19,28), após esse grito que Jesus dá conforme mencionamos na quarta Palavra e vendo que tudo estava consumado, e que havia chegado a sua hora Jesus diz essa frase: “Tenho sede”, com isso os soldados lhe dão a beber vinagre embebido numa esponja. Os soldados ainda zombam dizendo “vamos ver se Elias vem salvá-lo”. Jesus dá um forte grito e expira.

    Jesus tem sede de entregar a sua vida ao Pai e sabia que por meio de sua morte muitas almas seriam salvas. Essa sede que Jesus sente, é mais do que uma sede física, mas, é uma sede de entregar-se completamente ao Pai.

    A sexta palavra é: “Tudo está consumado” (Jo 19,30), Após o grito de abandono a vontade de Deus, ver que tudo estava consumado e dizer “tenho sede”, Jesus diz essa frase “tudo está consumado”, ou seja, chegou a hora de entregar-se completamente a vontade de Deus. O tempo se cumpriu, a sua missão aqui na terra havia terminado.

    Com a sua morte, Jesus desce a mansão dos mortos para resgatar aqueles que foram feridos pelo pecado, resgata Adão, o primeiro homem, e ressurge glorioso para nos ensinar o caminho da liberdade, longe do pecado. Do madeiro da cruz, brota a árvore da vida.

    A sétima palavra é: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46), essa última palavra de Cristo do alto da Cruz é de fato uma palavra de entrega total ao Pai, podemos observar que cada palavra de Cristo na Cruz tem sequência à medida que se aproximava o momento de sua morte.

    Jesus confia plenamente no Pai e sabia que ao entregar o seu espírito plenamente nas mãos de Deus, Ele ressuscitaria ao terceiro dia. Com a morte de Jesus a aliança entre céu e terra se concretizaria plenamente.

    Confiemos em Deus, da mesma forma que Jesus e aceitemos fazer a sua santa vontade. Que a semelhança de Jesus possamos dizer ao final de nossa vida: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.

    Guardemos em nosso coração as sete palavras de Cristo na Cruz, se pudermos participemos desse momento na Semana Santa. E que da cruz possamos chegar à glória eterna, ao lado de Deus.

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