As lágrimas de Francisco em Lampedusa

    Mais do que falar do Evangelho, é indispensável vivenciá-lo no dia a dia, procurando ser a carta viva de Deus para o mundo, a partir da Boa Nova de Jesus, no seu imperativo: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês.” (cf Mt 28, 19-20), dando importância à seguinte frase, tão antiga quanto emblemática: “As palavras comovem e os exemplos arrastam”.

    O melhor exemplo e testemunho são oriundos do Papa Francisco, ao visitar à ilha de Lampedusa um ano atrás, exemplo este que foi acompanhado atentamente pelo mundo inteiro. Neste domingo, 06/07/2014, por ocasião do primeiro aniversário desta viagem histórica, o Eminente Cardeal Antônio Maria Vegliò, presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, visitou, em nome do Papa Francisco, a ilha de Lampedusa. Qual é o significado desta sua viagem para o Pontifício conselho, para a Igreja e para o mundo?

    Claro que é inquestionável este momento de oração e simbolismo, de importância incomensurável, para recordar o Papa Francisco, no gesto magnânimo, na sua visita espiritual e pastoral a Lampedusa, que do íntimo de seu coração externou: Regressar “espiritualmente” ao Mediterrâneo para “chorar com quantos estão na dor” e para “lançar as flores da oração de sufrágio pelas mulheres, os homens e as crianças que são vítimas de um drama que parece não ter fim”.

    A Eucaristia deste domingo em Agrigento (Ilha de Lampedusa) é o “momento culminante” de várias manifestações que pretendem recordar o primeiro aniversário da visita do Papa Francisco, “recordar milhares de vítimas que perderam a vida no mar, diante da ilha e também para refletir sobre o papel de Lampedusa como coração do Mediterrâneo”. A mensagem Papal para assinalar o primeiro aniversário da sua visita à ilha italiana, a qual é tida pelos imigrantes e refugiados africanos, como local estratégico para entrar na Europa, lamenta a “lógica da indiferença” perante os naufrágios que continuam a acontecer no Mediterrâneo.

    Os imigrantes pagaram e continuam a pagar um preço alto pelo direito à própria dignidade. São vítimas daquila que o Papa Francisco chama de “globalização da indiferença” ou, pior ainda, da “cultura do descartável”. A fim de evitar que mais pobres e desesperados continuem a morrer, perseguindo o sonho de uma vida melhor, é necessário que o ser humano mude a mentalidade e se abra “à cultura do acolhimento e da solidariedade”.

    No aniversário de sua visita a Lampedusa (08/07/2013), o Sumo Pontífice foi representado pelo presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cardeal Antônio Maria Vegliò, o qual aceitou prontamente o convite que lhe foi feito por Dom Francesco Montenegro, arcebispo de Agrigento, de “rezar por todas as vítimas dos naufrágios”, na intenção de um modo pedagógico “sensibilizar a comunidade eclesial e a opinião pública para a realidade dolorosa dos imigrantes e dos refugiados”. O Sumo Pontífice em sua mensagem falou da lógica da hospitalidade e da partilha, a fim de tutelar e promover a dignidade e a centralidade de cada ser humano.

    O Papa Francisco sonha com um mundo verdadeiramente de irmãos, que parafraseando Dom Helder Câmara, evidencia-se no “Espírito de Deus, que envia sonhos ao homem! Não sonhos enganosos, alienados e alienantes. Envia sonhos, belos sonhos que, amanhã, se transformem em realidade!”. Assim seja