Arrimo somente em Deus

    Admirável o convite de Cristo: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Jesus dirige-se ao coração do homem  e, na verdade no que há de mais profundo nele. É lá que Ele deseja entrar para sanar as angústias humanas. O sofrimento é um mistério antropológico. Há sempre o temor da dor física ou moral, própria e alheia. Quando a amargura atinge um ente amado, muito conturbados ficam os parentes ou amigos. Existe, inclusive, o perigo da revolta. Seja como for, diante do sofrimento o homem reconhece sua impotência, sua fraqueza. Precisa, realmente, de ajuda. Até Cristo, enquanto homem, necessitou de consolo no horto das Oliveiras.  Lemos em S. Lucas: “Apareceu-lhe anjo um anjo do céu para confortá-lo (Lc 22,45). Isto até mostra que Ele era verdadeiramente humano. Ele se tornou familiar da dor como predissera o profeta Isaías. (Is 53,3). Porque conheceu as atribulações dos seres contingentes e as contemplou também em tantos sofredores, realizando inclusive curas maravilhosas, Ele estabeleceu uma promessa a quem o procurasse nos momentos aflitivos: “Eu vos aliviarei”. Ele é o médico divino que tudo sana, oferecendo conforto e o verdadeiro repouso do espírito, a autêntica paz da alma. É o amigo de todas as horas pronto a auxiliar em todas as necessidades advindas do peso da vida, das complicações do coração, das fadigas do cotidiano. No seu compromisso de ajuda, Ele não fez distinção alguma entre as fraquezas da natureza humana, porque de seu coração manso e humilde flui uma amizade com todos aqueles que Ele resgatou e que O buscam em toda e qualquer amargura por mais insuportável que possa ela parecer. Nada, portanto, de confiar em si mesmo, de se refugiar nas trevas do desânimo e do desespero. Jesus muda a obscuridade tenebrosa em claridade luminosa Ele tem solução para tudo e sua solicitude não conhece limites. Ele percorreu o país de Israel e teve sempre compaixão dos padecentes e estes se tornaram alvo de sua ação amorosa. Num mundo como o atual  no qual reina a globalização da perversidade; a manipulação e a degradação da pessoa humana; uma corrupção ramificada; uma terrível crise existencial, dado que o homem ficou reduzido a um bem de consumo; contexto histórico no qual se desprezam os princípios éticos e, por isto mesmo, os sofrimentos se multiplicam, só em Cristo se deparam a imperturbabilidade e o remédio para todos os males. Quando então atroar em nós o fantasma do desalento e do desamparo, quando a morte vier ao nosso solar e nos roubar alguém que muito amávamos, nos instantes de solidão, que solidão sempre visita o ser humano, no momento do pesar, do acabrunhamento, saibamos sempre que há alguém que disse “vinde a mim todos vós que estais atribulados e eu vos aliviarei”! Quem assim falou foi Jesus que compreenderá em qualquer hipótese o amargor de nossa lágrima, o desalento de nosso ser. Estejamos convencidos de que  longe dele a exclamação será  sempre esta: “Porque abandonei a Cristo o meu jugo se tornou insuportável”. Eis porque razão teve o notável escritor francês Paul Claudel ao afirmas que “Jesus não veio explicar o sofrimento, mas enchê-lo de sua presença”. Quem vai até ele, atendendo seu convite, já não sofre mais, porque a dor é taumaturga quando se tem a companhia do divino Redentor. O sofrimento pode visitar seu autêntico seguidor, mas quem estiver unido a Ele verá sua tribulação coroada com uma auréola sobrenatural. A dor com a graça do Senhor fica iluminada com raios de esperanças para se transformar um dia na paz eterna do amor. O cristão verdadeiro conhece então o perfeito equilíbrio. Não é jamais um estóico simplesmente impassível diante do sofrimento. Nem tampouco um masoquista se deleitando na dor, num endeusamento mórbido da mesma. Não amaldiçoa jamais a existência. Com sabedoria, porém, transforma as agruras naturais a um exílio terreno em meios para se purificar, se  santificar, dando uma aplicação transcendental a suas amarguras porque confia em Jesus e dele recebe toda força, repetindo com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13)

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.