Uma conversa de pai

    Nós todos, sobretudo brasileiros, já conhecemos essa voz. Ela soa de modo agradável aos ouvidos. Não se trata da voz de um pai, eventualmente zangado, ou de alguém que vem defender seus privilégios, mas de alguém que reúne seus filhos e filhas, e lhes passa preciosas instruções. Recebemos com gosto a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, do Papa Francisco. Ela se baseia muito sobre o que disseram os Padres Sinodais em outubro de 2012. Mas tem sobretudo a marca registrada do Papa, com suas propostas práticas. Não se trata de um escrito de cunho teológico. Suas 67 páginas tem um cunho nitidamente exortativo. Os estudiosos sacros diriam que é um texto parenético, desvestido de retórica, quase familiar. “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro de seu coração” (Lc. 6,45). Mas as suas referências não mostram mais uma ligação precípua com o eurocentrismo. Suas experiências de vida provém da América Latina. E é de lá que se irradia uma luz que ajuda os católicos do mundo inteiro.

    Quais são as idéias fortes contidas nesse escrito papal? Ele quer estimular os católicos, que a tarefa de evangelizar – que é de todos  e não só do clero – seja uma tarefa otimista e alegre. Por quê? É que o amor do Pai Celeste vai ao encontro de todos. E a missão da Igreja é ser companheira dos homens nessa busca de Deus. Garantidamente essa é uma tarefa conjunta, e não pode estar imbuída de tristeza individualista. Como que apresentando um modo ideal de evangelizar, apresenta as comunidades da América Latina, otimistas e abertas, que se reúnem para aplicar à vida os ensinamentos de Cristo. O Papa Francisco quer que as igrejas – dentro da possibilidade local – estejam de portas abertas para acolher os que desejam freqüentá-las. Essa abertura é simbólica, pois sinaliza para uma Igreja que deve conceder os sacramentos para todos os que estiverem aptos a recebê-los. A preocupação não deve carregar demais sobre a excelência das liturgias. Nem deve só prestar atenção à reta doutrina, ou ao prestígio da Igreja. Sua grande meta devem ser as famílias, os empobrecidos, os que buscam a Deus. Para isso tudo é necessário, não só nosso empenho, mas a doação decidida de nós mesmos.” Os discípulos partiram e pregaram por toda a parte” (Mc. 16, 20). Mas com alegria, acrescentaria o Papa.