Ano de São José, guardião do Redentor

    No sábado, dia 30 de janeiro, na histórica e bela Igreja de São José no centro do Rio de Janeiro celebramos a abertura arquidiocesana do ano de São José. Essa Igreja que começou com uma pequena ermida no século XVI foi reconstruída no início do século XIX está hoje em um ponto nevrálgico de nossa cidade e local de grandes decisões. Muito bem conservada pela irmandade que é responsável por ela, nós a escolhemos para, neste início de quinquênio de muitas comemorações arquidiocesanas, pedirmos a proteção de São José, guardião do Redentor, como o chamou o Papa São João Paulo II.

    Desde o ano passado, precisamente em 08 de dezembro, na Solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Francisco proclamou com a sua Carta Apostólica “Patris Corde”, o ano de São José. O Papa Francisco quer comemorar os 150 anos em que ele foi colocado como Patrono Universal de toda Igreja. E por isso, proclamou o ano de São José, que se junta a tantos outros anos que nós comemoramos e celebramos nesse tempo (Lauretano, Laudato Si, Compostelano e outros). É justamente uma vitalidade muito grande da Igreja nas suas comemorações e suas preocupações. Em nossas igrejas particulares comemoramos muitos jubileus com muitas solenidades. Para nós este ano marca o início de muitas comemorações históricas e devocionais em nossa arquidiocese (da prelazia, da diocese, arquidiocese, devoções marianas, Cristo Redentor, PUC, e tantos outros eventos). Temos um quinquênio de comemorações importantes que nos ajuda a vivenciar ainda melhor a nossa identidade.

    Ao abrir este tempo como Ano de São José, sem dúvida, é poder refletir sobre a missão de São José na história da salvação e também nos dá a oportunidade de aprofundar a importância da paternidade. Patris Corde: com coração de pai: é justamente o documento que o Santo Padre convoca e fala sobre o ano de São José.

    São José tem uma missão! É um exercício da sua missão paterna que foi chamado por Deus para ser aquele que junto com Maria, criaria o filho de Deus, Jesus Cristo. E com esse coração de pai, justamente, tem toda a preocupação da profissão, das orientações, da presença, enfim toda presença de José na vida de Jesus e, consequentemente, também, na vida da Igreja. Por ser justamente esposo de Maria, a mãe de Jesus, a cabeça da igreja, José tem essa bela e importante missão da Igreja, o corpo místico de Jesus. Ele exerceu a paternidade humana por chamado do Senhor para tomar conta do filho de Deus, consequentemente, ele também exerce a missão de cuidar do corpo da Igreja, toda a Igreja, que somos todos nós.

    E foi esse raciocínio que levou o Papa Beato Pio IX, há 150 anos, a proclama-lo como Patrono universal da Igreja. Essa realidade de uma certa forma já vinha sendo trabalhada e elaborada pelo decorrer dos séculos, mas foi há exatos 150 anos que foi proclamado pela Igreja. O Papa Francisco ao comemorar essa data nos dá a oportunidade de ver a importância de ouvir a voz de Deus que nos chama a tomar atitudes importantes.

    Havia uma promessa que já aparece no Antigo Testamento (cf. 2Sm 7,4-5a.12-14a-16), que o Messias viria da descendência de Davi e a realeza jamais se apartaria de sua casa: Jesus é esse que vem da descendência de Davi e nós sabemos que depois de toda a genealogia aparece José, esse descendente de Davi, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus. José é quem dá o nome a Jesus o que denota essa descendência.

    E que receber essa revelação enquanto dormia, “Não temas, José”, em receber Maria como a tua esposa, ele logo tomou a atitude e assumiu a missão. Assim também quando ele recebeu a mensagem para fugir das terras vizinhas a Belém para ir para o Egito, porque queriam matar a Jesus, e também quando é o momento de voltar à Terra Santa, indo morar justamente em Nazaré, desconhecida cidade.

    Olhemos esse homem aberto às inspirações do Espírito de Deus, aberto ao plano do Senhor e que, ao mesmo tempo, exerce a missão dentro da história da salvação de estar junto de Maria e Jesus, de cuidar de ambos e de estar aberto aquilo que Deus vai lhe demonstrando através da história e dos tempos. Ele exerceu a sua paternidade num silêncio muito grande: nós vemos que de José nós temos as atitudes, não tanto as palavras, aliás, suas palavras são suas atitudes. Ao celebrar a Missa Votiva de São José ouvimos a palavra em que ele se coloca colocando em prática aquilo que escutara no sonho para tomar Maria como sua esposa: ele se levantou, acordou e fez como o anjo lhe tinha dito. A voz de José, a resposta de José, a palavra de José é a sua atitude, é a sua vida. Colocando em prática aquilo que lhe foi revelado e mostrado. E assim foi toda a vida de José.

    Ele é Patrono também da “boa morte” pois faleceu junto com Maria e Jesus, mostrando que o ideal de todos nós estarmos e voltarmos para casa do Pai, ao lado de Maria e de Jesus.

    Ele também, se mostra como trabalhador, o artesão e foi proclamado pelo Venerável Papa Pio XII como padroeiro deles. Sabemos que no dia 1º de maio nós comemoramos o Dia de São José Operário ou Artesão, o trabalhador, mostrando que vive do fruto do seu trabalho na missão que tem no trabalho de cada dia. De uma certa forma, a vida vai proporcionando a aquele que é o responsável pela casa, para prover a casa e as necessidades, que, com  o seu trabalho, sua presença, e coração de pai, José desempenhou.

    Nós podemos nos perguntar sobre algumas consequências para nós neste tempo em que o Papa Francisco nos convocou para vivemos o ano de São José. Podemos deduzir algumas coisas importantes. De um lado a importância da paternidade hoje, pois muitas vezes se esquece da vocação paterna e da importância da paternidade e daqueles que são chamados a cuidar dos filhos com coração de pai, e nem sempre isso aparece na sociedade. Muitas vezes não se vê esse coração paterno que educa o filho e filha, que é presença junto a família, que está junto a esposa, que passa pelas dificuldades, como passou José, por exemplo, indo morar num lugar diferente, enfim, a missão de assumir essa responsabilidade na família. Este ano pode ser para nós aprofundarmos a importância da família ao celebrar o Ano de São José: é uma oportunidade de recordar a importância da paternidade na família: assumindo a esposa, os filhos e assim exercer sua paternidade educando na fé, provendo o necessário, e estando unidos, juntos nos tempos difíceis. Na hora em que aparecem os problemas e as dificuldades, nós vemos com muita facilidade as famílias se separarem pois não sabem enfrentar as crises.

    E do outro lado, podemos deduzir também que o Papa Francisco ao colocar o Ano em São José, como Patrono universal da Igreja, de poder também ver a importância da Igreja no Mundo de hoje e encontrar em São José aquele que a inspira a continuar sua missão de anunciar Jesus Cristo, de proclamar Jesus Cristo ao mundo. Se temos alguém que reza por nós que sempre cuidou da Sagrada Família (Maria e Jesus), também cuida da Igreja e que no meio de tantas dificuldades e de tantos problemas que nós temos hoje, nós temos o intercessor, que cuida de nós e tem essa missão de cuidar da Igreja, o corpo místico de Cristo. A Igreja passa muitas vezes por tantos vendavais e tantos problemas na vida no dia-a-dia, tantas perseguições, em todas as épocas e situações, mas ao mesmo tempo nossa confiança em alguém que como um Pai, com um “coração de Pai” cuida da gente, tem a preocupação com a gente. E nós sabemos que quando existe essa paternidade e a afiliação, o filho confia no pai e sabe, justamente, que pode contar com o pai.

    Somos chamados como Igreja que peregrina neste mundo a colocar em nosso coração o exemplo de São José cuidando do nosso povo, das pessoas carentes, necessitadas: essa paternidade de José deve também estar incorporada a Igreja que o tem como padroeiro, mas também de poder fazer o mesmo nessa sociedade, onde, muitas vezes falta essa experiência da paternidade, do carinho do pai, da preocupação com as pessoas ao nosso redor.

    Nós temos uma sociedade de órfãos que não experimentam justamente essa paternidade, (ou a maternidade no caso de Maria), e nós Igreja somos chamados neste tempo, de muitas pessoas órfãs que não sabem para onde ir, que não conhecem esse amor de Deus de poder, como Maria e como José, apresentar Jesus e exercer a paternidade (e, também, a maternidade) junto às pessoas.

    Que o ano de São José nos desperte cada vez mais sobre a importância da família e da Igreja exercer a sua missão nesse mundo, tão órfão de tantas situações e, ao mesmo tempo, saber como São José sermos dóceis às inspirações do Espírito Santo. Sermos dóceis aquilo que nos inspira e nos mostra como caminhos e José nos dá esse exemplo, mais do que falando, fazendo. Ele toma atitude naquilo que é inspirado e assim exerce sua missão.

    Que nós também enquanto Igreja possamos perguntar ao Senhor o que Ele quer de nós e como Ele deseja que nós exercermos a missão como Igreja, povo de Deus, nessa sociedade em que muitas vezes falta esse relacionamento familiar e sentimos que nós somos chamados a viver e a transmitir para os irmãos e irmãs.

    Que esse ano de São José proclamado pelo Papa Francisco nos ajude assim viver e assim caminhar.

     

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