Ano de São José

    Eis o servo fiel e prudente, a quem o Senhor confiou a sua casa” (Lc 12,24).

             Durante a nossa caminhada quaresmal, temos a graça de celebrar a solenidade daquele que é modelo e exemplo de cuidado com as coisas de Deus: no dia 19 de março, a Igreja celebra a solenidade do Glorioso Patriarca São José. Homem justo, segundo a Escritura, escolhido por Deus para ser o guardião dos tesouros de Deus: seu filho feito Homem, Jesus Cristo, a Virgem Maria e, como consequência, o corpo místico de Cristo, que é a Igreja.

             Neste ano, a celebração desta solenidade reveste-se de um significado todo especial: em 2021 celebramos os 150 anos da Proclamação de São José como Patrono da Igreja Universal. Esta proclamação deu-se no dia 08 de dezembro do ano de 1870, pelo beato Pio IX. Para marcar intensamente esta data, o Papa Francisco publicou em 08 de dezembro de 2020 a Carta Apostólica PATRIS CORDE (com coração de pai), onde estabelece o ano de 2021 como o Ano de São José, convidando a Igreja a olhar de forma especial para esta figura que tanto tem a nos ensinar em nosso caminho de fé.

             Dentre tantas coisas, o Papa destaca, na Carta Apostólica, o quanto a contemplação da figura de São José pode nos auxiliar a viver melhor este tempo de Pandemia:

    Assim ao completarem-se 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja Católica, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870, gostaria de deixar «a boca – como diz Jesus – falar da abundância do coração» (Mt 12, 34), para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. Tal desejo foi crescendo ao longo destes meses de pandemia em que pudemos experimentar, no meio da crise que nos afeta, que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. (…) Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos».[6] Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão.” (PC, introdução).

    Pouco se fala na Sagrada Escritura do homem José, mas o que se fala é sempre para enaltecer este homem escolhido. De José sabemos que Deus lhe falou através dos anjos, em sonhos. É testemunha da adoração dos pastores e dos reis magos. Testemunha a profecia proferida sobre Jesus no momento da apresentação no Templo. Obedecendo ao aviso de Deus, José toma Maria e o menino, em meio à noite, para fugir a ira de Herodes, fugindo para o Egito. Grande parte da vida oculta de Jesus foi vivida sob a missão da figura de São José.

    A palavra de Deus proclamada nesta liturgia nos auxilia a contemplar as maravilhas de Deus realizadas na vida de S. José. No Evangelho dessa Solenidade (Mt 1, 16.18-21.24a.) Mateus nos apresenta o relato da vocação de José, contada a partir da narrativa da origem de Jesus Cristo. Jesus, sem ser Filho de José segundo a carne, é o Messias descendente de Davi. Já na genealogia se havia indicado, mas agora o Evangelho explica como isso foi possível: é obra de Deus, pois é Ele quem tem a iniciativa chamando José para ser o esposo de Maria e pai do menino. São José aceita com obediência e, por desígnio divino, exerce a paternidade adotiva sobre Jesus, dando-lhe o nome e cuidando do menino e da Virgem Maria.

    O Evangelho nos conta que Maria estava prometida em casamento a José. Esta realidade correspondia ao noivado, sendo que o compromisso de casamento judaico, os esponsais, era um compromisso de união matrimonial com efeitos jurídicos e morais de verdadeiro casamento. O versículo 19, ao falar da atitude de José de querer abandonar Maria em segredo, mostra como José era justo, com uma justiça que vai além dos preceitos da lei. O gesto de José é interpretado por importantes autores da tradição cristã não como uma suspeita da parte de José em relação a Maria, mas como uma intuição da ação de Deus nela. Segundo São Bernardo, José se julga indigno e pecador, e pensava que não deveria conviver com uma mulher que lhe causava admiração pela grandeza de sua admirável dignidade. Como não podia adentrar o mistério, decidiu deixá-la. Ficou maravilhado ante a novidade do milagre e a profundidade do mistério.

    Segundo a tradição Judaica, colocar nome a um menino significa reconhecê-lo como filho. É Deus quem dá esta ordem a José, a ordem de ser o coordenador do nascimento do Senhor, aquele que tem a missão de introduzir o Filho de Deus no mundo segundo o mandato Divino e segundo as leis humanas. Toda a vida oculta de Jesus foi confiada aos seus cuidados. José foi escolhido como guardião dos tesouros de Deus.

    Na primeira leitura da solenidade (2 Sm 7, 4-5a. 12-14a.16) contemplamos a profecia de Deus dirigida ao rei Davi por meio do profeta Natã. É feita uma promessa: Deus dará a Davi um reinado que durará para sempre. Mas este reinado eterno virá de um descendente dele. A profecia é constituída sobre uma oposição: não será Davi que fará uma casa para o Senhor. Será o Senhor que fará uma casa, uma dinastia, para Davi. O oráculo ultrapassa a pessoa do primeiro sucessor de Davi, Salomão, deixando entrever um descendente privilegiado em quem Deus se comprazerá. O primeiro versículo do Evangelho de hoje vai fazer questão em mostrar que José é descendente de Davi e que por sua adoção vai também se cumprir a promessa feita a Davi.

    O salmo 88 (Sl 88, 2-3.4-5.27. 29) faz da promessa descrita anteriormente, uma oração. O salmista exalta a fidelidade de Deus e a partir dessa confiança relembra a promessa de um reinado que durará para sempre. A oração que se eleva a Deus neste salmo foi escutada exaltando o Filho de Davi, Jesus Cristo, como rei Eterno e cumprindo assim suas promessas.

    Na segunda leitura, (Rm 4, 13.16-18.22) a carta de São Paulo aos Romanos vai evocar uma promessa: a promessa feita a Abraão, que pode ser considerado herdeiro desta e considerado pai de uma multidão, por causa da fé. A dignidade da paternidade aqui colocada não vem ligada a um fator biológico, mas à liberalidade Divina que a concede como um dom: tornar-se pai diante de Deus em virtude da fé. A fé de Abraão faz com que ele seja depositário da promessa. Da mesma forma, a fé do patriarca José faz com que tenha sido escolhido como instrumento do cumprimento da promessa feita a Davi.

    Que neste ano de São José, possamos pedir sua intercessão para nos livrar de todo mal e nos fazer cada dia mais servos do Filho de Deus. Que o silêncio orante e provedor de São José ajude a todos os homens e mulheres de boa vontade para que fazendo a vontade de Deus, na oração e no trabalho, testemunhem o Cristo Ressuscitado!

    Rezemos pelo papa Francisco que completa nesta solenidade 08 anos de início solene do Ministério Petrino. Que Deus o abençoe e o livre de todo mal. Rezemos por nossos doentes e por todos aqueles que padecem por necessidades materiais e espirituais. Rezemos por nossas famílias, célula base da vida em sociedade, para que S. José, protetor das famílias, as sustente em suas dificuldades do dia a dia. Estamos iniciando hoje o ano da “família amoris laetitia” comemorando 5 anos da assinatura desse documento pelo Papa Francisco. Que a paternidade evocada no documento sobre São José ajude ainda mais a aparecer a beleza da família cristã descrita no belo documento do Papa sobre a alegria da família. Deus abençoe e guarde a todos.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here