ALLONS ENFANTS DE LA PATRIE

    O ataque terrorista contra Paris é uma declaração de guerra. Não especificamente contra um povo, uma nação, mas contra a fé cristã. Os “infiéis” seguem um conceito de vida, uma constituição soberana, uma pátria livre, porque professam e respeitam um dogma, uma doutrina com a qual se identificam na construção de uma sociedade mais justa e humana, senão ao menos mais fraterna e solidária. Este é o pecado que o radicalismo de alguns identifica no conceito democrático da grande maioria dos países ocidentais, aqueles que contam suas histórias a partir do presépio cristão. Esse é crime dos que hoje sofrem os piores atentados e perseguições do terrorismo que nos assombra.
    Terror anunciado e esperado por muitos. Principalmente pelo povo cristão. Não porque seja este um povo marcado para a dor e sofrimento – como bem atestou seu Mestre – mas porque é este o caminho da purificação, salvação ou redenção que a fé cristã oferece ao mundo. Parece-nos contraditória tal afirmativa diante de uma sociedade afeita ao conforto da modernidade, ao materialismo e consumismo em excesso, aos prazeres de uma vida sem grandes compromissos com moral ou bons costumes, mas é exatamente este o termômetro da fé à qual dizemos pertencer. “Se perseguiram a mim, também vos perseguirão”. Esta é a certeza que nos sobra. Na prática, significa que ser cristão é sujeitar-se às agruras e injustiças de um mundo agnóstico, erroneamente conduzido e orientado no campo de suas crenças, sem, no entanto, submeter-se a elas. “Avante, filhos da Pátria”, diz a heroica Marselhesa que se ouviu nos túneis do metrô parisiense, tão logo a contagem de seus mortos e feridos se processavam no entardecer daquela fatídica sexta. “Avante”, incentiva o heroico hino pátrio.
    “Avante! Contra nós a tirania, o estandarte encarnado se eleva” – prossegue o hino. Talvez seja esta a visão que nos falta diante da responsabilidade que a fé cristã possui frente à cegueira do mundo. Ser cristão é perigoso. Não se pode mais praticar essa fé sem a consciência dos riscos que ela acarreta sobre nossas vidas. O peso da cruz – momentaneamente dividido com um pobre e ingênuo Zaqueu – continua a ser repartido entre aqueles que ainda se sensibilizam com o sofrimento de Cristo, que tão somente nos veio redimir e dar pistas para a construção de um mundo novo, o mundo com o qual ainda sonhamos. Avante, povo de Deus! Não há testemunho maior do que o sangue derramado injustamente por uma causa, uma fé, um ideal de vida. Verdade, isso tudo nos assusta, proporciona revolta e indignação. Mas também nos conforta, diante da esperança e convicção de algo mais além da dura realidade das trevas desse mundo.
    “Estamos no alvorecer de uma terceira guerra mundial”, – alertou taxativamente o papa Francisco diante dos horrores de uma Paris silenciada. Esse alerta se estende ao mundo cristão. As dores daquela Pátria-mãe prenunciam um parto de muito sofrimento, para o qual devemos nos preparar, Não com a angústia da mãe que vê sua criança morta antes mesmo de vislumbrar a luz do mundo, mas com a certeza de que seu sofrimento fará nascer nova vida. Essa certeza nos basta. Os que tombaram no passado, os que hoje ainda tombam, os que tombarão no futuro unicamente porque ousaram proclamar o nome de Cristo e seguir seus passos jamais conhecerão a derrota. Porque um corpo se mata, mas a alma nunca! Estejam preparados.

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