Ajustes de conduta

    Dezessete e vinte horas de 28 de outubro do Ano da Graça de 2018. Ano da Graça como todos os demais que sucederam a redenção de Cristo Jesus. Brasil, mostra tua cara! Opss… Brasil mostra ao mundo tua capacidade de discernir e respeitar tuas escolhas, mesmo ao custo de uma divisão bem meio a meio. Quem votou, votou. Mas quem ganhou, ganhou? Vai levar? Vai cumprir suas promessas? Vai reunificar seu povo? Perguntas que me ocorrem, sem, entretanto, conhecer o resultado final. Isso não faz diferença agora. O que mais almejo é que o tempo de graças esteja acima de tudo e de todos.

    Temo pelo radicalismo de posições. De ambos os lados. Pela intolerância de muitos, cuja derrota nas urnas represente também uma virada de mesa, onde nada mais reste do que revolta, baderna, convulsão social ou mesmo apelo à violência, aos extremismos inconsequentes. Isso é o que menos precisa uma nação dividida e fragilizada em suas colunas democráticas ou mesmo pelas suas gritantes necessidades de coesão e valorização dos objetivos comuns. Uma democracia amadurecida não se deixa abater por diferenças momentâneas. Antes, tem à frente um alvo bem mais precioso, aquele que é meta comum dum povo, que valoriza sua possibilidade de escolhas, de mudanças, de gerenciamento popular das próprias conquistas ou eventuais derrotas. Como nação democrática, ainda temos o poder nas mãos. Essa é nossa maior riqueza.

    Triste é constatar divisões entre amigos, entre famílias, no seio religioso, na vida comunitária, no clube social, no meio operário, no grupo onde atuamos. Quantas divisões! Quantos rompimentos por divergências partidárias! Mas o partido, o candidato, o ideal político vale bem menos que nossas relações cotidianas. Aqueles seguirão seus ideais de poder, mas o poder das relações humanas (sejam estas familiares ou apenas circunstanciais) continuarão a permear nosso dia a dia, queiramos ou não. Vamos apagar da nossa história  o que levamos anos para construir (uma existência às vezes), em troca de uma ilusão passageira, que, bem ou mal, só podemos gerenciar esporadicamente, indiretamente? Bola pra frente, pois o jogo da vida continua.

    De fato, um sonho é sempre recheado de alegrias e decepções. Nem tudo o que imaginamos nos é entregue instantaneamente. Precisamos moldá-lo à realidade, adaptar circunstâncias, podar arestas, semear novas esperanças, adubar o terreno. Conversa de consultórios sentimentais ou cabines de confissões e aconselhamentos religiosos, dirá você. Lembro que a afoiteza sempre nos decepciona, que toda obra construída no afã de uma ilusão acaba por desmoronar, que a paciência é a maior das virtudes não humanas, mas divina, que Ele é o Senhor do tempo e da história, mesmo que esta que hoje construímos não esteja em consonância com o que sonhamos. Paciência!

    O importante é aquilo que nos une. Como povo, como família, como membros de uma comunidade, seja esta religiosa ou não. Chegou a hora de baixar a bola, se possível, reiniciar o jogo. Um tento na partida em andamento não representa o fim desta. Exigirá, sim, forças renovadas do adversário, mas renovação de forças é também readequação de estratégias, aprimoramento das qualidades, etc. Isso é o que torna bela nossa vida social e política. A busca constante de novas forças… Fica aqui um conselho de Judas Macabeu, quando das primeiras vitórias de seu povo: “É fácil a um punhado de gente fazer-se respeitado a muitos; para Deus dos céu não há diferença entre a salvação de uma multidão e de um punhado de homens, porque a vitória no combate não depende do número, mas da força que desce do céu” (1Mac 3, 18-19) Noutras palavras: Vencido ou derrotado, seu grupo será sempre vencedor se respeitar os planos de Deus, não os próprios.

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