O Sábado Santo é o grande dia do silêncio! Passamos rezando a Liturgia das Horas e refletindo sobre o que estamos celebrando. Na Sexta-feira Santa, ao final do Auto da Paixão pude propor à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro um pacto: colocar em prática o pedido de Jesus, de fazer ao outro aquilo que eu gostaria que me fizessem. Ou seja, como desejo o bem a mim, devo procurar primeiro fazer ao outro. Em meio a notícias de morte de jovens por serem cristãos e diante da violência da grande cidade, a nossa resposta só pode ser o de “fazer o bem”. Esta deve ser a nossa contribuição para a sociedade hodierna que perdeu seus parâmetros e se esqueceu da transcendência, quanto mais ainda a revelação do Amor de Deus manifestado em Cristo Jesus.
A esperança que queremos anunciar e semear está baseada na certeza de que a morte foi vencida e o amor é possível: Cristo Ressuscitou! Por isso, depois de um dia de oração e silêncio vivemos com esperança e confiança a grande Vigília Pascal. A Vigília Pascal não pode começar antes do início da noite e deve terminar antes da aurora do domingo.
É considerada “a mãe de todas as santas Vigílias” (Santo Agostinho, Sermão 219: PL 38, 1088.1). Nela, a Igreja mantém-se em vigília, à espera da Ressurreição do Senhor. E celebra-a com os sacramentos da Iniciação Cristã. Esta noite é “uma vigília em honra ao Senhor” (Ex 12,42).
Assim, ouvindo a advertência de Nosso Senhor no Evangelho (Lc 12, 35), aguardamos o Seu retorno tendo nas mãos lâmpadas acesas para que, ao voltar nos encontre vigilantes e nos faça sentar à Sua mesa. A vigília desta noite é dividida do seguinte modo: 1º – A celebração da luz; 2º – A meditação sobre as maravilhas que Deus realizou desde o início pelo seu povo, que confiou em sua palavra e sua promessa; 3º – O nascimento espiritual de novos filhos de Deus através do Sacramento do Batismo; 4º – E por fim a tão esperada comunhão pascal, na qual rendemos ação de graças a Nosso Senhor por sua gloriosa ressurreição, na esperança de que possamos também nós ressurgir como Ele para a vida eterna.
É uma Noite estupenda, esta Noite! Não há outra como esta; não poderá haver neste mundo! Esta Noite santíssima resume e encerra em si, como num ventre fecundo, outras noites.
Hoje, nesta Noite, quando tudo era trevas, Deus disse: “Faça-se a luz”, e a luz se fez (Gn 1,3)! Hoje, quando Isaac estava para entrar na noite da morte, pois nosso Pai Abraão tinha decidido sacrificá-lo a Deus, a luz brilhou e o Senhor disse: “Abraão, não estendas a mão contra o teu filho”! E Isaac viu a luz da vida (Gn 22,12)! Ainda hoje, nesta Noite, Deus, com o braço estendido, fez o seu povo atravessar o Mar Vermelho e deixar a escravidão de Faraó, no Egito (Ex 14,1-31). Foi também hoje, nesta Noite bendita – nesta mesma Noite! –, que o Pai derramou seu Espírito Santo sobre o nosso Jesus que estava morto e O arrancou das trevas da morte, fazendo-O passar para a luz da plenitude da vida. Finalmente, numa noite como esta, num hoje como hoje, no meio da noite deste mundo em plena escuridão da história, o Pai enviará o Cristo ressuscitado, pleno de glória, e brilhará no meio da noite deste mundo, o Dia eterno, da glória eterna, na plenitude do Reino! E já não haverá mais noite, e o Cordeiro imolado e ressuscitado será nosso sol, nosso dia eterno (Ap 22,5).
Todas estas noites que se transformam em dia de luz fulgurante se resumem e estão presentes misteriosamente nesta Noite de Páscoa! Porque nesta Noite Cristo ressuscitou, todas as noites da história da salvação e todas as noites deste mundo, e todas as noites da nossa vida e do nosso coração são transformadas em Dia pleno, Dia triunfante, Dia resplendente de glória! Nem todas as palavras do mundo bastariam para exprimir o mistério desta Noite!
Esta Noite é santa! Toda lágrima, nela, é enxugada; todo pecado, nela, é perdoado; toda morte, nela, é vencida! Nosso Jesus ressuscitou, nosso Jesus foi constituído Senhor, nosso Jesus abriu-nos um caminho novo; nosso Jesus deu-nos um novo rumo na vida, uma nova esperança, uma invencível certeza! Irmãos, nesta Noite a Morte perdeu a guerra, nesta Noite o Filho de Deus, na sua humanidade igual à nossa, venceu a Morte, arrombou o pântano infernal e abriu-nos o caminho para o Pai! Irmãos, esta é a Noite mais feliz da história humana: é a Noite da Páscoa; Páscoa de Cristo, nossa Páscoa! “Eis agora a Páscoa, nossa festa, em que o real Cordeiro se imolou: marcando nossas portas, nossas almas, com seu divino sangue nos salvou! Ó Noite de alegria verdadeira, que prostra o Faraó e ergue os hebreus, que une de novo ao céu a terra inteira, pondo na treva humana a luz de Deus”!
Se correrdes ao túmulo do Crucificado, tereis uma surpresa: não O encontrareis lá! “Por que estais procurando entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou”! Irmãos, crede: no meio desta Noite – só ela viu, só ela sabe a hora! – o nosso Jesus deixou a morte na qual havia entrado na Sexta-feira, e entrou na plenitude da vida do Pai! Ele ressuscitou e subiu aos céus, ele está com o Pai, pleno de corpo e de alma! Ele é nosso eterno Intercessor, nosso Senhor, nosso Deus Vencedor! Deixou-nos o seu Espírito Santo, Aquele mesmo no qual o Pai o ressuscitou. Vós, batizados em Cristo, recebestes o Espírito Santo de Cristo e, agora, tendes a vida do Cristo em vós, que irá crescendo até a vida eterna! No Espírito Santo de Cristo, tendes a vida do Senhor no pão e no vinho, presença real do Cristo morto e ressuscitado! Na potência do seu Espírito, continua agindo em nós e entre nós.
Cristo ressuscitou, Aleluia! Cristo, nosso Caminho, abriu-nos o caminho da vida! Vivamos vida nova, porque agora nossa vida tem rumo, sentido e plenitude: na treva humana brilhou em Cristo a luz de Deus!
Feliz Páscoa! Jesus Cristo ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!