Germinação e crescimento do Reino de Deus

    São Marcos é o único evangelista que narra a parábola da germinação e crescimento do Reino de Deus (Mc 4,26-29). Trata-se de uma visão otimista. Quando a esperança dos judeus levava as pessoas a procurar obras deslumbrantes do Messias e quando tudo induzia a crer na derrocada de Jesus, Ele mostra aos discípulos que o destino do Reino era crescer. O grão foi lançado na terra. É preciso esperar com paciência. A germinação do grão era tão misteriosa como é a própria origem da vida. No grão de trigo está oculta uma força imperceptível, sempre ativa a dizer ao homem: que cumpre não desesperar, mas semear. O Reino de Deus neste mundo não caminha para a morte, mas para a vida e para a alegria da colheita. Não obstante toda oposição que se fazia à pregação do Mestre divino, Ele tinha a certeza absoluta de que seu Reino haveria de misteriosamente se expandir. Dois mil e quinze anos depois, aí estão, de fato, borbulhando na história sua Palavra redentora e, apesar de todas as borrascas a missão redentora prossegue e milhares são aqueles que marcham para o Reino eterno que Deus preparou para os que Lhe são fiéis. Jesus relacionou em seguida outra parábola, dizendo que a semente lançada na terra pode ser tão minúscula como um grão de mostarda, cuja pequenez é proverbial (Mc 34, 30-24). Deste germe quase invisível nascerá uma grande árvore em cujas sombras se acolhem as aves do céu. Cristo mostra que apesar do modesto início de sua Igreja a amplitude do Reino de Deus é tão grande que se acha aberto a todas as nações e a todos os povos. Esta Igreja seria católica, isto é, como uma árvore frondosa a abrigar todas as gentes através dos tempos. Jesus quis, assim, mostrar que quanto mais os problemas haveriam de parecer insuperáveis, maior deveria ser a confiança face ao futuro. Cumpre, porém, salientar que o dinamismo do Reino atua na Igreja. Isto significa somente que as duas realidades Igreja e Reino de Deus se situam num paralelismo que as relaciona entre si, embora sejam realidades diferentes. A Igreja como instituição de salvação é essencialmente ordenada ao Reino e vai de encontro a este tesouro. A Igreja tornar-se-á um dia a comunidade de Deus no Reino perfeito e definitivo. Neste caso fica claro que a Igreja, enquanto comunidade dos que esperam este Reino definitivo, é o primeiro degrau rumo ao mesmo. Aí já vem uma implicação prática de grande alcance: o fato de se pertencer à Igreja não oferece nenhuma garantia de futura participação no Reino eterno de Deus, pois os cristãos vivem um tempo de prova. Jesus, aliás, foi bem claro, “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O Reino é, realmente, um tesouro, um dom de Deus, o valor essencial que é preciso conquistar.  Então é necessário cumprir certas condições. Ele não é uma paga devida por justiça, mas uma conquista contínua nesta terra. Por isto Jesus advertiu: “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12). Sua consecução supõe bravura, intrepidez, ousadia, resolução, perseverança. Cumpre estar cada um de nós comprometido com esta realidade misteriosa que Jesus veio instaurar aqui na terra. Duas questões fundamentais então ficam levantadas, ou seja, bem entender qual a natureza do Reino de Deus e quais suas exigências práticas. Somos a Igreja que se sente amada pelo Pai, que é apaixonada por Cristo e que, em consequência disso, se mostra entusiasmada pela causa de Jesus que veio propor o Reino do Pai. A temática do Reino nos leva, deste modo, àquela realidade nova querida por Deus para este mundo no qual se vive, um reino onde a justiça e a paz têm a primazia, onde o amor é vivenciado como realidade e não apenas como ideal. Neste sentido, a Igreja é a expressão palpável do Reino entre nós e nós, que somos a Igreja, os sujeitos da sua realização efetiva nesta terra devemos caminhar sem desânimo, fazendo tudo que estiver ao alcance de cada um para um estar no Reino Eterno que Jesus preparou para todos. Lutar, além, disto, para que a Igreja cresça na terra cada vez mais conduzindo multidões para a Casa do Pai.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.