A serviço do reino

    Dias desses, estacionei meu carro atrás de um veículo oficial, com um adesivo bem definido: A serviço do Estado. Qual Estado, que serviço? A julgar pela precariedade de nossos serviços públicos, ali estava uma afirmativa mentirosa. Mas, de imediato, pensei num adesivo semelhante, para testemunhar minhas convicções religiosas, talvez uma cruz – o estandarte vitorioso de Constantino – e a frase impactante: A serviço do Reino. Já vi algo semelhante em nossas ruas. Pena que seu motorista sequer respeitava as leis do trânsito. Que diria das leis de Deus…
    Então basta. Mais que frases de efeitos ou ostentação da fé, quem se põe a serviço, no mínimo, respeita as leis. Mais ainda quando mereceu crédito e confiança de alguém bem superior a si próprio. Mais ainda quando essa responsabilidade se torna pública e é celebrada com um ano de graças e aprofundamento das próprias questões. Quando a Igreja e seus bispos decretaram o Ano Nacional do Laicato, inserido nesse novo Ano Litúrgico, até novembro de 2018. Finalmente, chegou nossa vez. O tema aqui proposto, mais do que redundante em sua necessidade e no processo de saída que nos desafia o papa Francisco, é assunto para transbordar de alegria nossos corações e encher de coragem todos os discípulos e missionários ainda à margem do caminho. Chegou a hora. Se os leigos mais comprometidos com sua razão de ser Igreja, os que lamentam oportunidades, os que se julgam relegados a segundo plano, os que se sentem manietados na obra que é de todos, não quebrarem essas correntes agora, não provarem suas capacidades operosas e seu amor à obra, talvez o carro de operários passe e este continue lamentando derrotas, perdas de oportunidades…
    É tempo de reciclagem. É hora de nos unirmos num mutirão de planejamento, assembleias renovadoras, encontros de aprofundamento, reuniões estratégicas, retiros de unções e revelações, escolas de fé, cercos de orações, círculos, muitos círculos bíblicos e catequéticos… É hora de uma nova cruzada em direção ao mundo dos gentios, às praças dos Areópagos gregos, troianos, russos ou americanos, europeus ou asiáticos… É hora da saída. De abandonarmos um pouco mais o mundinho imperialista e demasiadamente existencialista do nosso próprio “eu”, para aprendermos dos bons samaritanos que cruzam nossos caminhos com o divino desprendimento da solidariedade que lhes é própria. O mundo, mais do que bons cristãos, precisa dessa humanidade boa, mansa e humilde como aquela que Jesus nos ensinou na prática. É essa humanidade a primeira característica leiga de Deus, a maior prova de que sua ação vem da simplicidade popular, não da liturgia ostensiva e farisaica daqueles que se acham acima da maioria. Jesus rejeitou essa religiosidade e assumiu sua laicidade como um pobre, mas bom pastor.
    Tenhamos orgulho de sermos leigos entre muitos doutores. Não vamos desmerecer a importância destes que Deus escolheu para bem administrar a condução do seu povo. Porém, não podemos sobrecarregar alguns em benefício do próprio comodismo. O conjunto da obra requer dinamismo, alegria, coerência, clareza de objetivos, inserção, se o que desejamos é um caminho de vitórias e conquistas. Nunca pessoais, mas comunitárias. Como Igreja, como povo caminhante, somos operários de um Reino bem definido por Cristo, cujos alicerces se assentam em suas palavras, em suas promessas, mas cujas paredes contam com nossa mão de obra, nosso humilde e muitas vezes desvalorizado serviço de relês ajudante a preparar a massa… Não importa. Somos apenas uma gota de água num oceano, mas ensinou-nos um dia Santa Madre Tereza, aquela de Calcutá: Sem esta gota o Oceano seria menor…

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