Na Sinagoga de Nazaré Jesus, após a leitura do texto de Isaias, assim começou seu comentário: “Hoje se cumpriu esta palavra” (Lc 4, 14-21). A salvação proclamada pelo Profeta seria inteiramente realizada por Ele não apenas nos dias de sua pregação, mas sempre através de seus discípulos em todos os tempos e lugares. Todas as vezes que homens e mulheres se aproximassem dele e acolhessem com fé sua palavra deparariam o poderoso influxo salvador de sua mensagem. Isto porque o Espírito do Senhor estava sempre sobre Ele e lhe conferira a unção para a transmissão da Boa Nova aos pobres. Ele viera, também para anunciar a libertação dos cativos, para dar a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos e promulgar um ano de graça da parte do Senhor. Ele convida então a todos a marchar com Ele, meditando o Evangelho e crendo que Deus veio para falar aos corações de boa vontade. No seu imenso amor envolveria a todos sem condições preliminares, pois afirmara por meio do Profeta Jeremias: “Porquanto com amor eterno eu te amei por isso com benignidade te atraí” (Jr 31,3). Cumpre-nos aprofundar esta surpreendente realidade, porque amor com amor se paga. Um sublime diálogo deve, assim, se instaurar entre a criatura e seu Criador. Registrou São Lucas que na Sinagoga “os olhos de todos estava cravados nele”. O mesmo ocorreria a todos que se tornariam nos mais diversos contextos históricos seus contemporâneos, ansiosos por escutar o que Ele tem a dizer a cada um. Ele se dirigia não apenas aos habitantes de Nazaré, mas também aos de todo mundo. Seu projeto salvífico, abrangendo nossas vidas individuais e nossas sociedades, deveria ser continuamente salvador, segundo os valores do seu coração amantíssimo. Era uma nova história que se iniciava, demandando, porém, a colaboração de seus seguidores que deveriam ser pobres, ou seja, desapegados dos bens terrenos. Ocorreria, desta maneira, a libertação dos que estivessem cativos de seus erros, cegos por não poderem enxergar as maravilhas divinas. Os que se achassem oprimidos conheceriam, deste modo, a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Dar-se-ia o jubileu, ano de redenção e de liberdade. Uma mudança enorme provinda do reino messiânico no qual não haveria falsidade, mas, sim, a verdade; nenhum pecado, mas santidade de vida. Todos chamados a associar-se a Ele nesta obra magnífica, na qual reinaria o combate a toda injustiça. Caberia a seus seguidores prosseguir sempre sua tarefa redentora. Isto aconteceria se os olhos estivessem cravados nele para que houvesse o contágio de salvação que se irradia de sua perfeição e de seu poder infinitos. Todos solidários numa evangelização contínua partida de corações por Ele santificados. Eis porque é necessário que todo seguidor de Cristo deixe que Ele possa agir em cada um, fazendo dele um colaborador eficiente para a salvação própria e de todos que estão em seu derredor. Grande a responsabilidade, portanto, a de ser cristão, cruzando os caminhos dos outros que devem também entrar nesta onda de redenção oferecida pelo Filho de Deus. De fato, se o cristão é verdadeiramente discípulo de Cristo, tem o mundo nas mãos para deificá-lo, sobrenaturalizá-lo pelas palavras e por uma ação evangelizadora eficaz, lançando as sementes do Reino de Deus. Quem acata a totalidade do que Jesus ensinou é um apóstolo que faz o mundo ser melhor, isento de preconceitos religiosos, livre da servidão dos vícios e desvarios protagonizados pelos filhos das trevas. Mostrar a verdadeira face de Cristo, eis aí a empreitada de quem lhe é fiel. Então muitos passam a crer que Deus é amor e se faz presente entre os homens para enriquecê-los com seus dons, libertando os pecadores de suas mazelas físicas e morais. Ele oferece a todos a possibilidade de se purificar e de se tornar verdadeiramente seus filhos e filhas. Sua dileção é sem limites e é uma dileção ativa, efetiva e afetiva, abraçando toda a criatura racional em toda sua humanidade que carece sempre de salvação. Este é o estilo da ação missionária de Cristo que em Nazaré pormenorizou seus aspectos fundamentais. Ele nos convida a todos a sermos arautos deste seu amor misericordioso, libertador.