Depois de receber a maioria dos candidatos a prefeito da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e escutar em uma reunião dezenas de candidatos a vereador, acredito que será importante tecer alguma reflexão sobre o tema eleitoral.
Em nossa reflexão sobre o Dia da Pátria, em 07 de setembro passado, trouxemos num pequeno excerto sobre a importância da política, como prática do bem comum e como uma das maiores virtudes que o ser humano pode ter em relação a si mesmo, a toda comunidade dos seres humanos e a toda criação.
A política é o “sal” que usamos para fomentar a sociedade cristã, seu modo de ser e seus valores. Neste ponto, da necessidade de evangelizar, vem-me à memória o “Sermão de Santo Antônio” que foi proferido na cidade de São Luiz do Maranhão, em 1654, pelo jesuíta Padre Antônio Vieira, ao dizer: “Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!”
Estudado, até nossos dias, como mestre na arte da retórica e da argumentação, Padre Antônio Vieira naquele período histórico enfrentava grandes problemas sociais no país que começava a nascer. Entre várias questões, enfrentava despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa de várias correntes contrárias à moral católica, os pregadores que não cumpriam com zelo o seu ofício.
Entretanto, apesar de todas as adversidades, Padre Antônio Vieira sempre refletia o gosto do Evangelho com todos que o cercavam, pois percebia que só com a força do testemunho, que é dado por gestos e por palavras, é que conseguia se impor e levar a cabo sua missão. Afinal, se o sal não salga para que serve? Já nos recorda o Evangelho.
É na política que o cristão batizado é chamado a ser sal do mundo, dar o gosto e testemunho do Cristo da Galileia nos nossos dias atuais, afinal, o Evangelho é para todos os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e culturas. Como o Cristo, no batismo recebemos esta missão para passar fazendo o bem, curar os corações feridos e anunciar o Reino.
A política é uma questão tão sobremaneira importante que até mesmo os que não tiveram contato com a forma judaico-cristã de pensar já se ocupavam com ela. É assim que em “A República” o pensador Platão já procurava meios de convivência harmônica entre as pessoas, e de como deveriam agir os governantes em relação aos governados, entre vários temas da política como arte do comum.
É importante lembrar que a política da qual tratamos não é política de cunho ideológico-partidário deste ou daquele grupo, desta ou daquela ideologia. Tratamos da política como forma de exercício pleno da cidadania por todos os nacionais, visando o crescimento local e nacional. Isto porque a Igreja e o Evangelho são maiores do que qualquer partido ou outra forma político-partidário-ideológico.
Como cristãos, nas diversas formas que temos de participar da sociedade, somos chamados a servir única e exclusivamente o Evangelho, para que o bem comum seja o que visa a nossa pregação.
Neste ponto, notamos que devemos sempre estar vigilantes para ser “sal” do mundo, pois os problemas de ontem são muito semelhantes às questões que enfrentamos hoje, por isto que na encíclica “Laudato Si” o Santo Padre Francisco, logo de início, recorda-nos o seguinte: “Mais de cinquenta anos atrás, quando o mundo estava oscilando sobre o fio duma crise nuclear, o Santo Papa João XXIII escreveu uma encíclica na qual não se limitava a rejeitar a guerra, mas quis transmitir uma proposta de paz. Dirigiu a sua mensagem Pacem in terris a todo o mundo católico, mas acrescentava: e a todas as pessoas de boa vontade. Agora, à vista da deterioração global do ambiente, quero dirigir-me a cada pessoa que habita neste planeta. Na minha exortação Evangelii gaudium, escrevi aos membros da Igreja, a fim de mobilizá-los para um processo de reforma missionária ainda pendente. Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum”.
A “Casa Comum” é regida por nossas escolhas nas urnas, porque os políticos que ali colocamos vão reger e gerenciar o erário público, as políticas públicas, as formas de organização, as leis que serão feitas, como estas serão executadas etc. Resumindo, toda nossa existência enquanto comunidade depende objetiva e diretamente das escolhas que fazemos. Por isto, repetindo, devemos ser “sal” na política, e também devemos colocar pessoas sintonizadas e afinadas com o Evangelho, com este “sal” que nos norteia.
Relação direta com ser “sal” do mundo é que se quisermos ser “sal” deveremos prestar tributo somente a Deus, assim como nos ensina o Senhor no Evangelho de Mateus 22, 21. Devemos deixar de lado as propostas e forma que não próprias do cristão e escolhermos a forma que é inerente à nossa forma cristã de ser. Neste caso, o tributo que pagamos ao Senhor é a renúncia a pequenas comodidades e favores não éticos e morais, para que possamos mostrar que somos “sal”, mantemos o gosto que recebemos no batismo, e sabemos em quem acreditamos (2 Timóteo 1, 12), por isto o testemunhamos.
Nestes dias passados, buscando inspiração dos santos bispos brasileiros do passado, que foram exemplos de unidade social e política em suas Dioceses, independentemente dos gostos partidários, que lendo as memórias do grande Dom Silvério Gomes Pimenta, primeiro Arcebispo de Mariana e membro da Academia Brasileira de Letras, alertando seus sacerdotes em circulares sobre a Pátria, me motivei ao registro neste artigo: “…. a pátria é o lar com seus encantos, a escola e o colégio com suas doces reminiscências; é o campo em que mourejamos e que fertilizamos com o nosso suor; é a praça, teatros dos brinquedos de nossa infância….. A Pátria é o cemitério em que jazem nossos antepassados, e que espera nossos últimos despojos”…. e por aí Dom Silvério vai escrevendo e mostrando que era também um ardido patriota, além de santo e sábio.
Exorto todas as pessoas de boa-vontade, sobretudo os nossos católicos, que procuremos nos abeberar desta fonte que é o Evangelho para que nas próximas eleições municipais, nas quais escolheremos para os próximos 04 anos prefeito e vereadores, façamos a opção pelo interesse de todos, da comunidade, do bem comum. Como os cargos em disputa, prefeito e vereador, são de pessoas bem próximas a nós, é muito importante que procuremos conversar com todos que for possível, saber suas propostas, conhecer sua vida passada, seus projetos, e se estes são preenchidos pelos valores que acreditamos. Desta forma, faremos com que Cristo cresça e que cada um de nós desapareça, pois levaremos a Ele. Assim, agiremos para a maior glória de Deus entre os homens, seremos o que se espera da Igreja e do Evangelho. E poderemos ser sal para o mundo e este, com certeza, aceitará que sejamos sal, pois teremos verdadeiro sabor que provêm só do Espírito Santo.