A MISERICÓRDIA INFINITA DE DEUS

        Este ano o Evangelho do Domingo da Misericórdia apresenta a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos no Cenáculo. Aí eles, por medo dos judeus, mantinham fechadas as portas. Jesus aparece e belíssima a sua a sua saudação: “A paz seja convosco!” Tendo visto suas mãos e o seu lado, os discípulos ficaram repletos de alegria. Jesus instituiu então o sacramento da Penitência, outro gesto grandioso de seu imenso amor. Oito dias depois, já com a presença de São Tomé, Jesus volta a aparecer aos apóstolos, recrimina presencialmente o infiel e lança sua fulgurante sentença: “Bem-aventados, Tomé, os que não viram e creram”. Como disse Santo Agostinho, Tomé quis tocar o homem Jesus e reconheceu Deus À palavra de Jesus ele percorreu todo o caminho da incredulidade à fé, da humanidade à divindade.  Jesus lhe diz avança teu dedo, avança tua mão, cessa de ser incrédulo, acredita. Quanto a nós é um gesto de misericórdia da parte de Cristo que acreditemos nele caminho, verdade e vida. Ele é a cabeça do corpo do qual nós somos os membros A cada participação na Eucaristia nós nos unimos intimamente a Ele na sua paixão e ressurreição,  nele nos tornamos, pois, de fato filhos de Deus. Somos felizes se temos o desejo de crer na vida mais forte que a morte, de esperar no amor mais certo que o pecado, de acolher misericórdia no mais íntimo de nós mesmos, apesar de todas as dúvidas como as que acometeram a Santo Tomé. Tudo isto vem nos lembrar que a fé é um caminho, uma passagem progressiva da dúvida à confiança na busca de uma paz mais profunda do que qualquer angústia. Leva ao grande amor de Jesus ressuscitado para transmitir ao mundo a energia capaz de vencer a morte e o pecado.   Vida nova ao influxo do Espírito Santo, ao vigor da confiança, à certeza do amor de Deus, à experiência do perdão, à dinâmica da reconciliação com todos. A vida do cristão nesta terra é itinerante, um caminhar para a frente sem nunca desanimar, um contínuo recomeçar. As chagas gloriosas do divino Ressuscitado demonstram a fidelidade de Deus, elas  traduziam  a eternidade  do amor divino na nossa história humana.  Envoltos nesa admirável misericórdia, os discípulos corajosamente se tornaram mensageiros do perdão e da paz de Deus.  Somos então convidados a renascer na confiança em reconhecendo o Ressuscitado que se acha  além de nossos sofrimentos, nossas enfermidades, nossas misérias humanas. O novo nascimento a que nos convida a Misericórdia  divina é este consentimento livre  à nossa fragilidade para acolher nela  a Vida em plenitude, a que revela em Cristo o amor além de todo julgamento meramente humano. Expor assim ao influxo do Ressuscitado nossas impotências as mais profundas face ao mal natural a esta vida, reconhecendo nossas fraquezas, mas  também a imensidão do transformante poder divino. Deve ecoar fundo dentro de nós a advertência de Jesus: “Deixa de ser incrédulo, é preciso acreditar”! Por tudo isto o papa Bento XVI afirmou que “longe de ser uma devoção secundária, o culto da Misericórdia Divisa faz parte integrante da fé e da prece do cristão”. Através do coração transpassado de Jesus crucificado a misericórdia de Deus atinge todos os homens. Festa da misericórdia, dizia São João Paulo II, e Cristo a difunde sobre a humanidade através do dom do Espírito Santo que na Trindade é a Pessoa–Amor. A misericórdia ensinava ainda São João Paulo II é o segundo nome do Amor e do Amor tomado no seu aspecto mais profundo. As feridas da Paixão nos recordam que a Misericórdia de Deus é uma graça que lança para longe a banalização do mal, frisou   o papa Bento XVI. É que como acentuou  São João Paulo II  Jesus Cristo “ trouxe em seu corpo  e no seu coração todo o peso do mal, toda sua força devastadora. Jesus na Cruz queimou e transformou o mal no sofrimento, no fogo de seu amor sofrido”. A Igreja se tornou, verdadeiramente, a “Casa da Misericórdia” aberta a todos os homens. Neste Domingo da Misericórdia, Jesus nos mostra de novo suas chagas gloriosas e nos convida a nos abandonar com confiança à sua Compaixão.  São Bernardo nos lembra: “Onde pois nossa fragilidade vai encontrar segurança senão nas chagas do Redentor? Aí eu me sinto tanto mais protegido pois sua salvação é poderosa. Minha consciência se perturba, mas não perde coragem, porque eu me lembro das chagas de Jesus que foram traspassadas por causa de minhas faltas”. Repitamos então com total confiança: “Jesus, eu confio em Vós”!

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