A hora é agora

    A esperança tem um tempo concreto. Ela não é algo que resida sempre num futuro enevoado e sem formas. Ela condiciona nossa maneira de viver aqui e agora. Ela nos faz pensar em algo que dá sentido àquilo que acontece com cada um de nós, neste momento, na nossa vida e na vida dos nossos irmãos, no mundo e no universo. No Advento, nossa esperança, a confiança de que este nosso presente tem sentido, encontra suas raízes no relato, repetido a cada ano e nunca completamente assimilado, do nascimento de Jesus. Para essa recordação se orienta todo o Advento.
    Falta-nos, porém, percebermos que o relato do nascimento de Jesus não é um mito da antiguidade. Não é uma história inventada para justificar certos comportamentos ou crenças. Trata-se de algo que aconteceu em um determinado momento histórico e em um lugar geográfico concreto. O nascimento de Jesus é a encarnação de Deus. E essa encarnação é real. Não é uma visão. Não é uma novela de ficção. Não é um sonho. Jesus foi um personagem histórico. Relacionou-se com pessoas concretas. O Evangelho de Lucas se esforça por apresentá-lo ligado aos acontecimentos históricos de seu tempo. Se Jesus foi batizado por João, então, Lucas nos diz que João iniciou seu ministério profético “no ano quinze do reinado do imperador Tibério”. E fornece ainda outras informações históricas.
    Não é demais recordar que a encarnação situa Deus em nossa história, em um tempo e momento concretos. Isso significa que nossa vida cristã – que se desenvolve e se desdobra a partir da fé e da esperança na salvação que Deus nos oferece em Jesus – atua e se experimenta no concreto de nossa história.
    O Advento nos faz descer das alturas, nos faz deixar o silêncio de nossos quartos e capelas, de nossas igrejas e rituais. Convida-nos a ir para a rua e nos misturarmos com o barulho das pessoas, dos carros, dos vendedores, dos pobres que pedem esmolas e das sirenes da polícia. O Advento nos recorda que é aí onde encontramos Deus. O primeiro sacramento, o mais autêntico e real de todos é a pessoa humana. Qualquer pessoa humana é um sinal da presença de Deus. Quando Deus decidiu aproximar-se de nós, assumiu um rosto real, o rosto de Jesus. Desde então, qualquer rosto – e, talvez, com mais veemência os rostos mais sujos, mais desgarrados e mais sofredores – é sacramento da presença de Deus entre nós. Hoje, aqui e agora, voltamos nosso olhar para nossos irmãos e descobrimos que Jesus, aquele que vem, confere sentido ao nosso compromisso de fazer do mundo um lugar mais justo e mais fraterno.
    Que este mesmo Jesus Cristo nos ajude a honrar esse compromisso, vencendo todos os obstáculos, aqueles que nos aparecem e aqueles que criamos.

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