A graça das lágrimas

“Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas”. Palavras do Papa no encontro com os Jovens nas Filipinas em 2015 e no último domingo (29) Francisco voltou a falar da “graça das lágrimas”

Maria Milvia Morciano – Vatican News

Chorar compreende uma dimensão tipicamente humana e inexorável, a do sofrimento, que afeta todos, ninguém está livre. Nascemos chorando e nos comunicamos somente através do pranto nos primeiros meses, até que este seja traduzido em palavras.

No mundo de hoje falta o pranto

O Papa Francisco, durante a sua Viagem Apostólica às Filipinas em 2015 disse aos jovens: “No mundo de hoje falta o pranto! Choram os marginalizados, choram aqueles que são postos de lado, choram os desprezados, mas aqueles de nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não sabemos chorar”.

As lágrimas no Antigo e Novo Testamento

Na Bíblia as lágrimas estão presentes com frequência, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, investindo uma variedade de sentimentos que podemos considerar inimitável em outras fontes. O pranto investe homens e mulheres de todas as condições. São lágrimas de arrependimento, de súplica, de consolo, de angústia, mas também de condenação, quando Jesus faz alusão ao destino reservado aos danados que irão para um lugar onde haverá “choro e ranger de dentes” (Mt 13, 42). As lágrimas estão no centro do Livro das Lamentações. Nos Salmos, em particular, as lágrimas são efeito do arrependimento ou da consolação. Deus reúne as lágrimas de cada um em um odre e não perde nenhuma (56, 9) e aqui ressoam as palavras do Apocalipse: “… e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (21, 3-4).

Jesus também chorou

Maria Madalena chora quando lava os pés de Jesus com as suas lágrimas e Pedro chora quando ao cantar do galo dá-se conta da sua traição. As lágrimas mais preciosas são certamente as de Nossa Senhora: as de uma mãe pelo Filho e por cada um de seus filhos.

E Jesus chora, reunindo em si todos os aspectos da essência humana, participando deles profundamente. No Evangelho de domingo (29) o Papa Francisco recordou a passagem na qual Jesus chora: no Evangelho de João (11,31-44) pelo seu amigo Lázaro. Enquanto que no Evangelho de Lucas (19,41) Ele chora quando se aproxima de Jerusalém e profetiza a sua destruição; em Mateus (26, 36-46) e Marcos (14, 32-42) durante a oração e agonia no Getsêmani, onde Jesus manifesta sua angústia e tristeza sem o pranto, enquanto que na Carta aos Hebreus 5, 7, fala-se de “forte clamor e lágrimas”.

O significado cristão das lágrimas

Papa Francisco assim explicou as lágrimas de Jesus:

“Somente quando Cristo chorou e foi capaz de chorar é que compreendeu os nossos dramas”, porque “certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas” (Encontro com os Jovens nas Filipinas, 18/01/2015)”

“Se Deus chorou, também eu posso chorar, ciente de que sou compreendido. O pranto de Jesus é o antídoto contra a indiferença face ao sofrimento dos meus irmãos. Aquele pranto ensina-me a assumir a dor dos outros, a tornar-me participante do incômodo e do sofrimento de quantos vivem nas situações mais dolorosas” (Vigília de Oração, “Para enxugar as lágrimas”, 5/5/2016).

Nestes dias tão dramáticos, a graça de saber chorar torna-se uma oração ainda mais fervorosa e indispensável. As palavras do Papa Francisco no domingo (29) nos confirmam: “Senhor, que eu chore contigo, chore com o teu povo que sofre neste momento. Muitos choram hoje. E nós, deste altar, deste sacrifício de Jesus, de Jesus que não teve vergonha de chorar, peçamos a graça de chorar”.

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