A face de Deus nos refugiados

A Igreja é na sua natureza a essência divina, usando a comum linguagem de povo de Deus, na rica e inefável alegoria do bom pastor, ao afirmar: “Eu sou o bom pastor, eu conheço minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10, 14). No bom pastor temos os pressupostos indispensáveis para sermos felizes e realizados, nos sinais por ele mesmo apresentados. Depende de nós percebermos suas características, a partir de sua incomensurável ternura, a não se cansar de amar e perdoar as pessoas, ovelhas do rebanho santo.
Como é maravilhoso, com a mente elevada e o coração aberto, ouvir a voz e perceber o desejo do bom pastor, na certeza de que nossa vida se encontra em suas mãos, no que afirmou o Papa Francisco, ao comentar o Evangelho do domingo do bom pastor: “Estas palavras ajudam-nos a compreender que ninguém pode considerar-se discípulo de Jesus, se não escuta a sua voz. E esse escutar não deve ser entendido de maneira superficial, mas envolvente, até ao ponto de tornar possível um verdadeiro conhecimento recíproco, a partir da qual pode surgir um seguimento generoso (…). Trata-se de um escutar não só com os ouvidos, mas também com o coração”.
Jesus ressuscitado vive para sempre junto a seu povo, querendo fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21,5). A partir de suas santas chagas, suas chagas gloriosas, o Cristo Senhor nos proteja e nos guarde, como expressa tão bem a celebração da luz, na noite de Páscoa. Aqui convencemo-nos de que Jesus, na sua passagem da morte para a vida, nunca mais se afastará de seu povo, oferecendo-nos a misericórdia e o perdão, entendido como a “assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração” (Papa Francisco).
A ternura do bom pastor encarnada no Santo Padre, o Papa Francisco, depois de voltar da visita ao campo de refugiados, na Ilha de Lesbos, Grécia (16/04/2016), sensibilizou o mundo: “Senti vontade de chorar”, explicando o gesto concreto de convidar três famílias sírias, no total de 12 pessoas, para irem com ele ao Vaticano. E falou mais: “Depois daquilo que vi, daquilo que vistes, naquele campo de refugiados, dava vontade de chorar”, na conversa aos jornalistas, durante o voo de regresso a Roma. “Trago isso no coração; hoje havia mesmo que chorar”, assumindo se tratar de um “pequeno gesto”, gesto esse também encarnado por Madre Teresa de Calcutá, citando-a: “É uma gota de água no mar, mas, depois dessa gota, o mar já não será o mesmo”.
Pensemos, agradecidos, no pastor que está à frente da Igreja, exímio místico e talhado para as coisas mais elevadas, indicando-nos o sentido da mística cristã: “O cristão do futuro, ou será um místico ou não será nada” (Karl Rahner), compreendido  como o apego à oração, à meditação e à contemplação do mistério da cruz, configurado com o bom pastor, que, em seu sofrimento, vemos personificado nos refugiados. Assim seja!

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