A chave das leituras do vigésimo oitavo domingo do Tempo Comum é o agradecimento: o leproso no Evangelho(Cf. Lc 17,11-19) e o de Naamã(Cf. 2Rs 5,14-17), na primeira leitura. A ação de graças é, também, a chave da vida cristã, de nossa relação com Deus, com Jesus e com os irmãos. Da fé nasce o agradecimento. E aí, precisamente como diz o Evangelho, está à salvação, a vida nova. Dizendo de outra maneira, está no agradecimento o ato de assumir outro estilo de vida, mais pleno, mais humano e, por isso, mais divino.
Em nossa cultura agradecemos quando nos fazem um favor ou nos dão algo de presente. Quanto mais inesperado ou mais gratuito, mais sentidos são os agradecimentos. Sempre é um reconhecimento de que recebemos algo de graça. O que se recebe assim adquire um valor tal para a pessoa, que estabelece um relacionamento com o doador do presente que vai mais além de qualquer consideração interesseira ou egoísta. O favor não se devolve. Simplesmente fica estabelecida uma relação de gratuidade, de carinho entre as pessoas. Não há cálculo de custos. Há relação pessoal, um laço que é difícil de ser rompido.
Há pessoas que, esquecendo-se da gratuidade, procuram mudar essa relação em uma relação comercial. O favor é devolvido calculando-se os custos do benefício recebido. Nesse caso, a relação perde seu caráter de gratuidade e os agradecimentos perdem a sua natureza. Não há agradecimento, mas pagamento.
Nossa relação com Deus é uma relação de agradecimento. Dele recebemos tudo em total gratuidade: a vida, a liberdade, o amor, a criação… Não há forma de se medir aquilo que recebemos. Aqueles que pretendem fazer de seu relacionamento com Deus uma espécie de contabilidade, de toma lá, dá cá, de “vou à missa para que me salve”, ou “para que seja perdoado”, perdem-se em um labirinto sem saída. Como Eliseu, Deus não aceita nada, pois nada lhe faz falta. Em certo sentido, nada do que façamos lhe pode interessar. Ele nos deu a vida de presente, e em seu amor total por nós, só quer que a desfrutemos, que a gozemos, que vivamos a fundo nossa responsabilidade, que tornemos realidade a fraternidade entre nós e com toda a criação. Mais do que a devolução do favor-algo impossível de se realizar em relação a Deus – nasce o agradecimento, a ação de graças. Aí nos encontramos com a salvação. Aquele que vive em ação de graças permanente vive a salvação. Jesus cura dez leprosos. Mas apenas ao que retorna diz que sua fé o salvou. Os outros ficaram perdidos em seus labirintos. Menos mal por Deus os amar do mesmo jeito.