“Agora, portanto, permanecem três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor” (1Cor 13,13).
4ª Catequese Quaresmal
Durante a Quaresma, somos convidados a viver três grandes pilares espirituais: oração, jejum e caridade. Uma está ligada à outra, e o jejum e a caridade são frutos da oração. O jejum e a caridade só terão sentido se advir da oração. Como cristãos, devemos exercer a caridade sempre, mas sobretudo nesse tempo quaresmal. Muitas vezes aquilo que doamos na Quaresma é o alimento que privamos de comer durante esse tempo. Pode ser também doação de roupas que não usamos mais, fazendo uma limpeza em nosso guarda-roupa durante a Quaresma. Pode ser, ainda, a doação de um tempo para o outro, ir ao asilo conversar com um idoso, no hospital visitar o doente, no presídio visitar um preso. Tudo isso é caridade e nos ajuda no processo de conversão que o período quaresmal nos convida.
O tempo da Quaresma é um convite à conversão e à mudança de vida. Essa conversão pode começar a partir da nossa mudança de atitude em relação ao outro, conosco mesmos e com Deus. A nossa relação com Deus podemos melhorar rezando mais, indo à missa e ajudando nas pastorais. A nossa relação com o outro pode melhorar por meio da caridade que exerceremos, e a caridade que exerceremos é fruto do jejum, sobretudo, no tempo quaresmal.
A caridade nada mais é do que o amor que doamos ao outro. O ser humano é relacional, ou seja, necessita se comunicar com o outro. Muitas vezes, aquelas pessoas que se encontram nas ruas, asilos, hospitais, se sentem muito sozinhas e sentem a necessidade de conversar e se relacionar com outras pessoas. De dois anos para cá, inclusive por conta das consequências da pandemia, aumentou muito o número de pessoas em situação de rua. Como sociedade, não podemos resolver tudo, mas o pouco que fizermos já ajuda. Podemos visitar essas pessoas que estão nas ruas, levando alimento, roupas, calçados e conversando com elas, ou ainda, levar as roupas e alimentos para instituições que trabalham diretamente com os moradores de rua e também encaminhando para os locais próprios de abrigo.
A esmola ou a caridade é o fruto da conversão da Quaresma, pois a Quaresma requer uma mudança de vida e mudança de atitude em relação ao outro. Durante 40 dias, somos convidados a nos deixar tocar pela Palavra de Deus. Jesus, quando esteve entre nós, resumiu os dez mandamentos em dois, não excluindo os outros oito. Ele resume os mandamentos no amor a Deus e ao próximo, e a caridade é a expressão do amor de Deus. Esse amor de Deus que transmitimos aos outros, é o amor ágape, ou seja, o amor sem interesse, sem esperar nada em troca.
Por meio da caridade, deixamos de pensar em nós mesmos e passamos a pensar no outro. Saímos de nosso egoísmo, nos libertamos e nos abrimos para o outro. A Páscoa significa a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz, e se abrir aos irmãos e irmãs é sinal de conversão e, é claro, que esse amor ao próximo deve permanecer ao longo de todo o ano. Deus está sempre pronto a nos perdoar e não fica contando as nossas faltas, do mesmo modo que Ele nos perdoa, também nós devemos perdoar aos irmãos.
A caridade deve ser exercida de todo o coração, ou seja, não devemos exercer a caridade por obrigação, ou porque os outros fazem, mas devemos a exercer a caridade de todo o coração, livres de preconceitos e sem ser obrigados por ninguém. Se exercermos a caridade por mera obrigação, ela não terá sentido algum. A missão é uma forma de exercer a caridade, pois por meio da missão, a Palavra de Deus pode chegar a diversas famílias e muitas vezes até a famílias que não têm condições de ir à Igreja.
Jesus recomendou que deveríamos cuidar dos doentes, isto é, exercer a caridade. A Quaresma pode ser uma oportunidade de redescobrirmos essa forma de caridade, quem sabe podemos procurar a Pastoral da Saúde de nossa paróquia e nos engajar no serviço da pastoral, visitando os doentes, seja no hospital ou em casa. Não precisa ser, necessariamente, ministro extraordinário da comunhão Eucarística para visitar o enfermo, basta ter disposição e amor no coração para visitar aquele que necessita.
Do mesmo modo, as outras pastorais que exercem a caridade. Procuremos a pastoral dos vicentinos, que visita e distribui alimento aos necessitados, pastoral da criança, que cuida das crianças recém-nascidas até os sete anos. Enfim, que esse período quaresmal seja para nós um tempo de sincera conversão do coração e possamos olhar mais para o próximo e sair de nós mesmos.
Portanto, irmãos e irmãs, vivamos os três pilares espirituais desse tempo quaresmal: jejum, caridade e oração, e façamos uma conversão sincera do coração. Aproximemo-nos da mesa da Palavra e da Eucaristia e que, ao partilhar o alimento espiritual na Igreja, possamos partilhar o alimento material com os mais necessitados fora da Igreja.
