A Basílica de São João de Latrão

    Ocorre dia 9 de novembro a comemoração festiva da consagração da Basílica do Latrão, que foi a primeira igreja construída em Roma e consagrada neste dia no ano 324. Ela foi dedicada ao Santíssimo Redentor, ao qual foram associados, como patronos, mais tarde, João Batista e João Evangelista. Por isso chama-se também de Basílica de São João do Latrão. A data anual da consagração duma catedral é comemorada pela liturgia de forma solene por se considerada como o batismo duma nova comunidade eclesial sob a presidência do bispo. Aliás, também os judeus ao tempo de Cristo costumavam celebrar a Dedicação do Templo de Jerusalém. A atenção da liturgia nesta memória dirige-se não tanto ao edifício de pedra, no qual Deus confere suas graças através de Cristo, mas à comunidade dos fiéis nela reunida. Por isso reza: “que santificando Deus sem cessar a Igreja, possa ela ser Mãe exultante de numerosos filhos”. Esta festa é um convite à unidade com a Cátedra de Pedro, por ser a Basílica do Latrão a “Mãe e Cabeça de todas as igrejas”. A direção pastoral da Igreja através dos tempos foi claramente estabelecida por seu divino Fundador, Jesus Cristo, incluindo as diversas comunidades que se estabeleceriam pelo mundo todo sob a orientação suprema de um guia que teria a soberania espiritual. A profissão de fé e o primado de Pedro é uma das passagens mais belas do Evangelho. Em nome dos apóstolos Simão Bar-Jona afirma que Jesus é o Filho de Deus vivo. Este então lhe diz: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). A suprema autoridade foi formulada nestas palavras do Redentor: “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos céus; e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus” (Mt 16,19). Tal poder foi conferido a Pedro, depois da Ressurreição, portanto, após o Salvador dar uma prova definitiva de sua divindade. Estando para deixar este mundo, Cristo confiou a Pedro o rebanho de sua Igreja, depois que o príncipe dos Apóstolos reparou sua tríplice negação com uma tríplice confissão de amor (Jo 21,15-19). A ordem de Jesus foi clara: “Apascenta os meus cordeiros […] apascenta as minhas ovelhas” (Idem). Este Apóstolo foi feito o fundamento, a base e o sustentáculo de sua Igreja. Houve sempre consciência desta determinação do Mestre, reconhecendo todos a autoridade de que Pedro estava revestido. Na primeira parte dos Atos dos Apóstolos que abrange doze capítulos e um espaço de doze anos, após a vinda do Divino Espírito Santo aparece quase exclusivamente a atuação de Pedro e se nota como a Igreja se firmou em Jerusalém, na Judéia e na Samaria. É ele quem comanda, preside, decide e nele está toda iniciativa, toda deliberação o. Dentre as atividades petrinas se destaque que foi Pedro quem propôs a eleição de um discípulo para ocupar o lugar de Judas e completar o colégio dos Doze (Atos 1,15-22). Foi quem primeiro pregou o Evangelho aos judeus no dia de Pentecostes (Atos 2,14;3,16). Foi ele que, inspirado por Deus, recebe na Igreja os primeiros gentios (Atos10, 1). Ele visitou as igrejas (Atos 9, 32). Depois, no Concílio de Jerusalém foi ele quem pôs termo à longa discussão que ali se travou, decidindo que não se devia impor a circuncisão aos pagãos convertidos e ninguém ousou opor-se à sua decisão (Atos 15, 7-12). Aliás, seja dito que o discurso de São Pedro nesta ocasião é uma obra-prima de comunicação. São Paulo, três anos depois de sua conversão foi a Jerusalém expressamente para visitar a Pedro (Gl 1,18-19). É evidente que os sucessores de Pedro seriam o chefe supremo da Igreja, como vem acontecendo através dos tempos. É que o primado de Pedro é um poder permanente e, como São Pedro morreu em Roma, o bispo de Roma é seu natural sucessor. É só se fazer um estudo científico dos fatos e logo se concluir que os sucessores de Pedro sempre exerceram conscientemente sua missão sobre toda a Igreja no Oriente e no Ocidente. Todos os fatos bíblicos e históricos levam então ao cumprimento dos deveres elementares para com o Cristo visível na terra, que chamamos de Papa. Este título foi reservado ao chefe da Igreja no século VI. A origem do nome é grega e significa Pai. A ele, portanto, a obediência e piedade filiais. Em nossos dias a Igreja pode se gloriar por tudo que o Papa Francisco vem fazendo para toda a humanidade, contornando todos os problemas que afligem os povos, seu interesse pelos deserdados dos poderosos, sua firmeza na defesa intransigente da vida e dos preceitos divinos, enfim, tudo que ele vem protagonizando o patenteiam como o Cristo visível a guiar este mundo tão conturbado. Aos céus subam sempre preces nas suas intenções para que Deus o ilumine no exercício de tão elevado cargo e ampare sempre, conservando-o por muitos e muitos anos, para o bem das almas e salvação do mundo e estaremos bem comemorando a solenidade da Dedicação da Basílica de Latrão, a catedral do Papa.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.