Padre Wagner Maria, em nome dos veículos de comunicação católicos do Brasil, teve a honra de conversar com o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, que está em Belém para participar da COP30 em nome da Santa Sé e do Papa.
Belém do Pará se tornou a “capital do clima” durante a Conferência do Clima (COP30). Em meio à reunião de grandes personalidades para discutir o clima mundial, a Igreja Católica se fez presente com sua comitiva.
A Contribuição da Igreja
Padre Wagner: Eminência, que contribuição a Igreja pode oferecer a partir das encíclicas Laudato Si’ e Laudate Deum, para os desafios da preservação do meio ambiente?
Cardeal Parolin: Eu estou aqui em representação da Santa Sé , e em particular do Papa Leão XIV, sucessor do Papa Francisco, que deu um impulso fundamental ao tema da ecologia e da ecologia integral, justamente através dos dois documentos, a Laudato Si’ e a Laudate Deum.
O Papa Leão nos recordava que, dez anos após a Laudato Si’, os desafios sublinhados pelo Papa Francisco permanecem atuais e mais do que atuais. Estes desafios são de várias naturezas: São, certamente, desafios técnicos, exigindo respostas técnicas; São também desafios sociais; São desafios políticos; E são também desafios espirituais.
Diante desses desafios, o convite e o chamado são para uma conversão. A conversão significa, sobretudo, assumir responsabilidade: Primeiramente em relação a nós mesmos, pois nossa atitude para com a criação revela quem somos, a imagem que temos de nós mesmos e do mundo, e nosso senso de responsabilidade; E também em relação ao futuro e às gerações futuras. Devemos nos perguntar: que mundo deixaremos para as gerações que nos seguem, melhor ou pior do que o que nós encontramos?
Creio que a contribuição da Igreja se coloca sobretudo nestes níveis, neste caminho de conversão que significa assumir responsabilidade diante de nós mesmos e diante do futuro e das gerações que virão.
Missionários na Amazônia
Padre Wagner: Eminência, a Igreja se faz presente na Amazônia por meio de leigos, padres, religiosas e religiosos. Como a Igreja vê o papel dos missionários nas comunidades originárias da Amazônia?
Cardeal Parolin: Creio que a resposta é muito fácil e simples ao mesmo tempo: a Igreja vê esta presença e este papel de maneira extremamente positiva. Isto se dá sob o ponto de vista das duas dimensões fundamentais da vida da Igreja: A evangelização, sendo o anúncio do Evangelho o principal dever da Igreja. A promoção humana, que inclui a defesa e promoção dessas comunidades e do ambiente em que vivem, a conservação de suas boas tradições e a promoção de todos os aspectos que constituem suas características fundamentais.
Eu gostaria de dar uma palavra de encorajamento a estes missionários (leigos ou sacerdotes), porque sei, por experiência direta como núncio apostólico — tendo conhecido a Amazônia também na Venezuela —, que muitas vezes eles se encontram em grandes dificuldades. Que eles sintam a proximidade dos seus bispos, da comunidade cristã local, mas também do Santo Padre e da Santa Sé.
O bem da humanidade
Padre Wagner: Na Amazônia, não somos apenas católicos, mas muitos crentes de várias doutrinas. O que a Igreja diz sobre o diálogo inter-religioso na Amazônia?
Cardeal Parolin: Creio que o diálogo inter-religioso pode ter um papel importante na defesa e promoção da Amazônia, que é, afinal, um bem de toda a humanidade. Cada religião contém em si um aspecto de atenção para com a criação, para com a natureza.
Para enfrentar um problema que é global e que exige a comunidade mundial e internacional , há um papel a ser desempenhado pela colaboração das religiões entre si. O diálogo inter-religioso tem a dimensão ecológica como uma de suas dimensões e pode trazer uma contribuição importante.
Gostaria de citar o encontro inter-religioso que ocorreu no Vaticano em 2021, por ocasião da COP26. Foi um evento muito bem-sucedido que tratou a fundo deste tema em diálogo também com as ciências. Creio que pode constituir um modelo para o compromisso futuro.
Mensagem na COP30
Padre Wagner: Diante do clima da COP30, qual é a mensagem que a Igreja deseja transmitir não apenas a nós, que vivemos na Amazônia, mas também aos líderes de tantos países presentes?
Cardeal Parolin: Lembro o que disse o Papa Francisco: que os homens do século passado se mostraram mais irresponsáveis em relação ao meio ambiente, pois não souberam cuidar e, ao invés, agrediram. Hoje, no início deste novo milênio, os homens deveriam dar demonstração de serem sábios e de dar uma resposta conveniente a este problema.
A Igreja convida a todos para dar esta resposta, lembrando que este não é um aspecto secundário do compromisso e do testemunho cristão, mas um compromisso que nasce da própria pertença ao cristianismo, da fé e da mensagem evangélica.
O convite que a Igreja faz é o de ser capaz de dar uma resposta e, assim, volto a sublinhar o tema da responsabilidade: responsabilidade em relação ao presente, responsabilidade em relação ao futuro.
Padre Wagner: Agradecemos, Eminência. O aguardamos em outra ocasião.
Cardeal Parolin: Enfim, mas para talvez dar uma volta no interior, nos rios da Amazônia, precisamos organizar algo nesse sentido.
Padre Wagner: De bom grado, venha.




