A Pastoral do Menor do Rio de Janeiro tem uma trajetória marcada por resistência, transformação e esperança. Criada no contexto do Movimento Militar, essa pastoral surgiu como resposta às crescentes desigualdades sociais e à exclusão que afetavam profundamente crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Sua missão sempre foi promover os direitos fundamentais dos menores, especialmente aqueles em situação de risco, oferecendo apoio nas áreas de educação, alimentação, saúde e dignidade.
Ao longo dessas quatro décadas, a Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro não apenas desenvolveu programas sociais, mas também desempenhou um papel fundamental na luta pelos direitos humanos e na formulação de políticas públicas voltadas à infância e juventude.
A década de 1980 foi um período de grande violência e exclusão social no Brasil, sobretudo para as crianças e adolescentes que viviam nas ruas das grandes cidades. No Rio de Janeiro, esse problema se evidenciava de forma alarmante. De um lado, o crescimento da pobreza e, de outro, a ausência de políticas públicas eficazes para lidar com as necessidades dessa população vulnerável. Foi nesse cenário que, por feliz iniciativa de nosso venerável predecessor, o Emmo. Cardeal Eugenio Araujo Salles, surgiu a Pastoral do Menor, impulsionada pelo desejo de combater a exclusão social infantil e juvenil.
Criada inicialmente por lideranças católicas engajadas nas causas sociais, a pastoral começou com ações simples de acolhimento, alimentação e atividades educativas para crianças em situação de rua. O foco estava em oferecer alternativas ao abandono, ao trabalho infantil e à exploração. Com o passar do tempo, essas ações se expandiram para uma abordagem mais ampla, incorporando a luta por direitos, a denúncia de abusos e a defesa da vida.
A Missão da Pastoral do Menor sempre esteve pautada na promoção da vida digna, do respeito aos direitos humanos e na construção de uma sociedade justa e igualitária. Isso se traduz, na prática, em ações voltadas à erradicação da violência contra menores, à inclusão social e à valorização da criança e do adolescente como sujeitos de direitos.
Ao longo de quatro décadas, a Pastoral do Menor no Rio de Janeiro foi responsável por uma série de conquistas significativas, tanto no campo da assistência social quanto no fortalecimento dos direitos da infância. Entre as principais vitórias, podemos destacar:
- Criação de Redes de Proteção e Acolhimento: A pastoral foi uma das principais articuladoras de redes de apoio que envolvem comunidades, entidades religiosas, ONGs e o poder público, oferecendo proteção a crianças e adolescentes em situação de risco. Por meio dessas redes, foram criados abrigos, centros de convivência e programas educativos.
- Contribuição para a Criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): A luta pelos direitos das crianças e adolescentes foi impulsionada pela Pastoral do Menor, que esteve diretamente envolvida no processo de construção do ECA, sancionado em 1990. Este documento é um marco na proteção dos menores, garantindo direitos fundamentais e estabelecendo diretrizes para a criação de políticas públicas.
- Prevenção à Violência e ao Trabalho Infantil: Desde seu início, a pastoral tem atuado de forma incisiva na prevenção e combate ao trabalho infantil, à exploração sexual e à violência policial contra jovens. Em parceria com outras entidades, promoveu campanhas e ações de conscientização, pressionando o Estado para a criação de mecanismos de proteção.
- Educação e Capacitação profissional: Um dos focos centrais da atuação da pastoral sempre foi a educação. Diversos projetos foram implementados com o objetivo de garantir a permanência das crianças na escola, evitando a evasão escolar. Além disso, foram criados programas de capacitação profissional para adolescentes, proporcionando-lhes perspectivas de futuro e evitando que fossem absorvidos por circuitos de criminalidade.
Em tempos recentes, o cenário social no Rio de Janeiro se tornou ainda mais desafiador para as crianças e adolescentes. A crise econômica que se agravou na última década, somada aos impactos da pandemia da COVID-19, exacerbou a pobreza e aumentou a vulnerabilidade de muitas famílias. A evasão escolar cresceu, assim como o número de jovens envolvidos com o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas.
Nesse contexto, o trabalho da Pastoral do Menor continua mais necessário do que nunca. A pastoral não apenas oferece um espaço de acolhimento e proteção para os menores, mas também atua como uma voz ativa na defesa de seus direitos. O fortalecimento das redes de apoio, a criação de novas políticas públicas e a conscientização da sociedade sobre a importância de proteger as crianças são metas centrais para os próximos anos.
Celebrar os 40 anos da Pastoral do Menor é reconhecer, portanto, o impacto profundo que essa entidade teve na vida de milhares de crianças e adolescentes do Rio de Janeiro. Ao longo de quatro décadas, seu trabalho transformou histórias, salvou vidas e ajudou a construir uma sociedade mais justa e humana. No entanto, os desafios permanecem, e a luta pela garantia plena dos direitos da infância e juventude continua sendo uma necessidade urgente.
O futuro da Pastoral do Menor depende da continuidade dessa mobilização e do apoio da sociedade. Somente com o engajamento coletivo será possível enfrentar as desigualdades e criar um ambiente em que todas as crianças possam crescer com dignidade, proteção e esperança.