2º Domingo da Quaresma
Celebramos o segundo domingo do tempo quaresmal, um tempo voltado para a penitência e a oração. Na nossa vida, é necessária uma conversão diária e sempre é tempo de pedir perdão, seja a Deus ou a alguém que ofendemos. Todos os dias, antes de dormir, podemos fazer o exame de consciência, ou seja, rever os nossos atos do dia e pedir o perdão a Deus se cometemos algo que desagradou ao Senhor. Por isso, em cada missa tem o ato penitencial, pois é o momento que podemos fazer nosso exame de consciência e pedir perdão a Deus.
Se examinarmos a nossa consciência e observarmos que cometemos algo mais grave, podemos nos aproximar do sacramento da confissão. A Igreja recomenda que ao menos uma vez ao ano nos aproximemos do sacramento da confissão, justamente por ocasião da Páscoa. Por isso, eis o tempo favorável, eis o dia da salvação. Aproveite esse tempo quaresmal para se reconciliar com o Senhor e comece a trilhar uma vida nova. Nas paróquias temos os mutirões de confissões e antes do Domingo Laetare teremos as 24 horas para o Senhor para também vivermos esse tempo de penitência.
No primeiro domingo da Quaresma, acompanhamos Jesus sofrendo as tentações no deserto e vencendo essas tentações e do mesmo modo Ele nos ensina a vencer tudo o que quer nos afastar do Senhor, movidos pelo Espírito Santo. Nesse segundo domingo, Jesus sobe ao monte Tabor e se transfigura diante de Pedro, Tiago e João. Jesus se mostra glorioso diante dos discípulos, como Ele ficaria após a ressurreição, e ensina aos discípulos e a nós que será necessário passarmos por muitos sofrimentos até entrar na vida eterna.
O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma deste ano, como o título: “ascese quaresmal, itinerário sinodal” aprofunda esse tema à luz do evangelho deste segundo domingo, o evangelho da transfiguração: “O evangelho da Transfiguração é proclamado, cada ano, no II Domingo da Quaresma. Realmente, neste tempo litúrgico, o Senhor toma-nos consigo e conduz-nos à parte. Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir «a um alto monte» juntamente com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular experiência de ascese”.
A primeira leitura da missa deste domingo é do livro de Genesis (Gn 12,1-4a). Nessa leitura, observamos Abrão atendendo ao chamado do Senhor e saindo com a sua família para uma terra estrangeira e, a partir disso, Deus começa a formar o povo escolhido por Ele, Israel. A partir do chamado a Abrão, o Senhor Deus formaria uma grande nação. Nós somos a porção escolhida, o povo eleito do Senhor e somos convidados do mesmo modo que Abrão a atender ao chamado do Senhor e partir em missão para anunciar o Reino de Deus.
O salmo responsorial é o 32 (33), e o refrão do salmo diz: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, / venha a vossa salvação!” O salmista espera a libertação de seus pecados e a salvação que vem do Senhor. Nós também, nos dias de hoje, sobretudo no tempo da Quaresma, esperamos o dia da salvação que vem a partir da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Abramo-nos à graça de Deus durante esse tempo, pois Ele não condena e nem nos julga, mas sempre está disposto a nos perdoar.
A segunda leitura da missa desse domingo é da segunda carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 1,8b-10). Paulo admoesta a Timóteo a continuar evangelizando e não desistir mesmo que venham ventos contrários. Nada deve impedir que a Palavra de Deus seja anunciada, ainda mais no mundo de hoje tão complexo, temos que testemunhar e falar de Deus para as pessoas. Apesar de nossos pecados e fraquezas, Deus não desiste de nós e nos chama para a missão. Deus não escolhe somente os capacitados, mas capacita os escolhidos.
O Evangelho deste domingo é de Mateus (Mt 17, 1-9) e retrata um episódio importante na vida de Jesus e que todos nós conhecemos bem, que é a transfiguração do Senhor. Esse episódio na vida de Jesus é sempre retratado no segundo domingo da quaresma e também no dia 6 de agosto. Jesus escolhe três discípulos, Pedro, Tiago e João, aqueles que eram mais próximos dele, para subir ao monte Tabor com Ele. Jesus se transfigura diante deles, ou seja, fica com o corpo glorioso, como ficaria após a ressurreição. Os discípulos gostam de estar ali e ainda Pedro diz: “Senhor é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas, uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Mt 17,4). Mas é necessário antes passar por muitos sofrimentos aqui na terra para podermos entrar na glória eterna. Ele mesmo se escandalizou com o anúncio da paixão de Jesus, mas era preciso que por meio de sua morte, Ele salvasse a humanidade inteira.
Esse trecho da Festa da Transfiguração reflete, ainda, a união do Antigo com o Novo Testamento. Moisés recebeu as tábuas da Lei no deserto e Jesus vem dar pleno cumprimento a essa Lei dada por Deus a Moisés. Ainda, Elias foi um grande profeta do Antigo Testamento e Jesus é a continuação daquela justiça pregada por Elias. Isso quer dizer que Jesus não veio abolir a Lei e as profecias, mas veio dar pleno cumprimento.
Do mesmo modo que aconteceu no batismo do Senhor, uma nuvem os cobriu e da nuvem ressoou a voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (Mt 17,5). Com isso, se concretiza a profecia de que Jesus era o Messias, e continua a linha profética do anúncio do Reino de Deus e sua justiça. Após essa visão, os discípulos caíram por terra, Jesus toca neles e eles acordam e não veem mais ninguém a não ser Jesus. Jesus recomenda aos três que não contem nada do que viram, até que Ele tenha ressuscitado dos mortos.
Celebremos com alegria o segundo domingo da Quaresma e continuemos o nosso caminho de sincera conversão e de reconciliação com o Pai. Peçamos ao Senhor a graça de um dia habitarmos a vida eterna e contemplarmos o corpo glorioso do Senhor. Enquanto peregrinamos nesse mundo terreno, façamos tudo de acordo com a vontade de Deus.