Lembro-me de que há anos escutei, de pessoas empobrecidas, queixas e lamentos: O que vai ser de nós, sem um bispo? É que o bispo, que tanto ajudava aquele povo, ia deixar a diocese, por atingir a idade de 75 anos, pois teria que pedir renúncia de sua função, conforme a lei da Igreja. Convenhamos que isso acontece só mesmo pela indulgente generosidade das pessoas de boa vontade, na alegre confiança: a de que a justiça florirá, com paz em abundância para sempre (cf. Sl 71).
Na primeira reunião dos padres da Região São José deste ano (02/02/2023), ouvi dos lábios do Vigário Episcopal, Pe. Francisco Bezerra do Carmo, sobre o magnânimo, auspicioso e dadivoso gesto do Arcebispo de Fortaleza, Dom José Antônio Tosi Marques, na qualidade de bispo, pai e pastor, em sua edificante concretude desse gesto, que de sua renda pessoal, no “pro labore” e aposentadoria, constituiu um “fundo pessoal solidário”, indo ao encontro dos necessitados de toda natureza. Parabéns, Dom José Antônio! Que esse gesto desafiador, nunca revelado pelo senhor, possa se repetir entre os padres da Arquidiocese de Fortaleza e demais circunscrições eclesiásticas.
Tudo a partir do esforço de fidelidade a Deus, que conduziu seu povo naquela esperança, a única no mundo, de algo que Ele mesmo haveria de realizar: a salvação. A Igreja alimenta sempre e mais a fé dos cristãos, numa segura convicção de que a fé na salvação vai se realizando e acontecendo através da própria história. Que Deus nos dê a graça de sempre e cada vez mais compreender a vida humana na face da terra, de sentir compaixão diante da dor de uma multidão de irmãos, sem esquecer do perigo da indiferença.
Dom Helder, no seu modo de viver, começou por seu profundo amor pela Eucaristia, na sua maneira de celebrar a Santa Missa, a ponto de impressionar a comunidade, a assembleia do povo de Deus, pela sua sensibilidade humana, até mesmo chorando durante a celebração. Percebia-se nele coerência entre fé e vida, começando pela celebração de cada manhã, na Igreja das Fronteiras, em Recife-PE, expressando uma sólida convicção de que o Cristo presente na Eucaristia era o mesmo na pessoa do empobrecido, do marginalizado e do sofredor. “No rosto do outro encontrava o rosto dos milhões de oprimidos, nos quais via sempre o rosto de Cristo”.