Como São Francisco de Sales se tornou um “extraordinário diretor de almas”

O Papa Francisco explica em sua carta apostólica “Totum Amoris Est”

No dia 28 de dezembro de 2022, por ocasião do quarto centenário de morte de São Francisco de Sales, o Papa Francisco publicou a carta apostólica Totum Amoris Est (“Tudo pertence ao amor”).

São Francisco de Sales foi um sacerdote católico declarado santo e doutor da Igreja. Tornou-se conhecido pela maneira gentil com que lidava com os conflitos religiosos durante a Reforma Protestante.

Ele também se destacou por escrever muitas obras acerca da formação espiritual, entre elas “Introdução à Vida Devota” e “Tratado do Amor de Deus”.

O santo padroeiro dos jornalistas tinha claro que a mensagem que todos devem espalhar é a mensagem da Verdade e do Amor.

Na carta apostólica Totum Amoris Est, o Papa Francisco afirma que Sales foi “um sagaz intérprete de seu tempo e um “extraordinário diretor de almas”.

Confira abaixo a íntegra do documento papal.

“TOTUM AMORIS EST – tudo pertence ao amor»:  nestas palavras, podemos recolher o legado espiritual deixado por São Francisco de Sales, que morreu há quatro séculos, em 28 de dezembro de 1622, em Lyon. Tinha pouco mais de cinquenta anos, e era bispo e príncipe «exilado» de Genebra desde há vinte anos. Chegara a Lião na sequência da sua última incumbência diplomática. O duque de Saboia pedira-lhe que acompanhasse a Avinhão o Cardeal Maurício de Saboia. Juntos, prestariam homenagem ao jovem rei Luís XIII, que regressava a Paris, subindo o vale do Ródano, depois duma vitoriosa campanha militar no sul da França. Cansado e com a saúde debilitada, Francisco partira por puro espírito de serviço. «Se não fosse de grande utilidade ao seu serviço que eu fizesse esta viagem, teria certamente muito boas e sólidas razões para me eximir; mas tratando-se do seu serviço, vivo ou morto não me recusarei; irei a pé ou de rasto». Assim era o seu temperamento. Chegado finalmente a Lião, hospedou-se no mosteiro das Visitandinas, na casa do jardineiro, para não causar demasiado incómodo e, ao mesmo tempo, estar mais livre para encontrar quem o desejasse.

Desde há muito tempo que pouco o impressionavam as «instáveis grandezas da corte», pelo que gastou também os seus últimos dias exercendo o ministério de pastor numa sucessão de compromissos: confissões, diálogos, conferências, sermões e as últimas irrecusáveis cartas de amizade espiritual. A razão profunda deste estilo de vida cheio de Deus foi-se-lhe tornando cada vez mais clara com o passar do tempo e assim a formulara, com simplicidade e precisão, no célebre Tratado do Amor de Deus: «Se o homem pensa com um pouco de atenção na divindade, imediatamente sente uma doce emoção no seu coração, o que prova que Deus é o Deus do coração humano». É a síntese do seu pensamento. A experiência de Deus é uma evidência do coração humano. Não se trata duma construção mental, mas dum reconhecimento repleto de maravilha e gratidão em consequência da manifestação de Deus. No coração e através do coração é que se realiza aquele subtil e intenso processo unitário em virtude do qual o homem reconhece a Deus e conjuntamente a si mesmo, a sua origem e profundidade, a sua realização na vocação ao amor. Descobre que a fé não é um movimento cego, mas primariamente uma atitude do coração. Através dela, o homem confia-se a uma verdade que se apresenta à consciência como uma «doce emoção», capaz de suscitar, correlativa e irrenunciavelmente, o bem-querer a cada realidade criada, como ele gostava de dizer.

À luz disto, compreende-se como para São Francisco de Sales não houvesse melhor lugar para encontrar Deus e ajudar a procurá-Lo do que no coração de cada mulher e homem do seu tempo. Aprendera-o observando-se cuidadosamente a si mesmo, desde a mais tenra juventude, e examinando o coração humano.

Com o sentido íntimo duma quotidianidade habitada por Deus, deixara às suas Visitandinas, no último encontro daqueles dias em Lião, a frase com que gostaria de ser lembrado por elas em seguida: «Resumi tudo nestas duas palavras, quando vos disse para não recusar nada, nem desejar nada; não tenho mais nada para vos dizer».  Não se tratava, porém, dum exercício de puro voluntarismo, «uma vontade sem humildade», aquela subtil tentação do caminho para a santidade que a confunde com a justificação através das próprias forças, com a adoração da vontade humana e da própria capacidade, «que se traduz numa autocomplacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor»; e menos ainda um exercício de puro quietismo, abandono passivo, frio, a uma doutrina sem carne nem história. Mas nascia da contemplação da própria vida do Filho encarnado. Era o dia 26 de dezembro e o Santo falava às Irmãs no coração do mistério do Natal: «Vedes o Menino Jesus na manjedoura? Recebe todas as agruras do tempo, o frio e tudo aquilo que o Pai permite que Lhe aconteça. Não recusa as pequenas consolações que sua Mãe Lhe dá, mas também não está escrito que estendesse as mãozinhas para ter o peito da Mãe; deixara tudo ao cuidado e previsão d’Ela. De igual modo não devemos desejar nada nem recusar nada, suportando tudo aquilo que Deus nos enviar, o frio e as agruras do tempo». É comovente a sua solicitude em reconhecer como indispensável o cuidado do que é humano. Concluindo, foi na escola da Encarnação que aprendera a ler a história e situar-se nela com confiança.

O critério do amor

Através da experiência, reconhecera o desejo como a raiz de toda a verdadeira vida espiritual e, ao mesmo tempo, como o lugar da sua adulteração. Por isso, bebendo com ambas as mãos da tradição espiritual que o precedera, compreendeu a importância de pôr o desejo constantemente à prova, através dum exercício contínuo de discernimento. O critério último para a sua avaliação, encontrara-o no amor. Ainda naquela última recreação em Lião, na festa de Santo Estêvão, dois dias antes de sua morte, dissera: «É o amor que dá perfeição às nossas obras. Mais vos digo… Pensai numa pessoa que sofre o martírio por Deus apenas com uma onça de amor; tem certamente grande merecimento, já que não há dom maior do que o da própria vida; mas outra pessoa que sofra apenas um arranhão com duas onças de amor, terá um merecimento muito maior, porque a caridade e o amor é que dão valor às nossas obras».

E, com surpreendente concretização, continuou ilustrando a difícil relação entre contemplação e ação: «Sabeis ou deveríeis saber que a contemplação em si mesma é melhor do que a ação e a vida ativa; mas, se na vida ativa se encontrar maior união [com Deus], então esta é melhor. Se uma irmã, que está na cozinha a olhar pelas panelas ao lume, tiver maior amor e caridade do que outra, não será o lume material a detê-la, antes pelo contrário ajudá-la-á a ser mais agradável a Deus. Sucede com bastante frequência estar unido a Deus na ação como se está na solidão; no fim, volto sempre à questão de ver onde se encontre maior amor». O impulso que supera verdadeiramente qualquer rigidez inútil ou fechamento em si mesmo é perguntar-se em cada momento, em cada opção, em cada circunstância da vida onde se encontra o amor maior.Não foi por acaso que São João Paulo II chamara São Francisco de Sales o «Doutor do amor divino», mas por ter escrito um ponderoso Tratado sobre o mesmo e sobretudo porque foi testemunha dele. Aliás os seus escritos não se podem considerar como uma teoria elaborada no escritório, longe das preocupações do homem comum. Com efeito, a sua doutrina nasceu duma escuta atenta da experiência; limitou-se a transformar em doutrina aquilo que vivia e lia, com perspicácia iluminada pelo Espírito, na sua singular e inovadora ação pastoral. Encontra-se uma síntese deste modo de proceder no Prefácio do próprio Tratado do Amor de Deus: «Na santa Igreja, tudo pertence ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem do amor».

Os anos da primeira formação: a aventura de se conhecer em Deus

Nasceu em 21 de agosto de 1567, no castelo de Sales, perto de Thorens, filho de Francisco de Nouvelles, senhor de Boisy, e de Francisca de Sionnaz. «Viveu entre dois séculos, XVI-XVII, e reuniu em si o melhor dos ensinamentos e das conquistas culturais do século que terminava, reconciliando a herança do humanismo com o impulso rumo ao absoluto, próprio das correntes místicas».

Depois da sua formação cultural inicial, primeiro no colégio de La Roche-sur-Foron e depois no de Annecy, chegou ao recém-fundado colégio jesuíta Clermont em Paris. Na capital do reino de França, devastada pelas guerras de religião, teve a breve distância duas crises interiores consecutivas, que marcarão indelevelmente a sua vida. Aquela fervorosa oração feita na Igreja de Saint-Étienne-des-Grés, diante da Virgem Morena de Paris, acender-lhe-á no coração, no meio da escuridão, uma chama que permanecerá viva nele para sempre como chave de leitura da experiência própria e alheia. «Suceda o que suceder, Vós, Senhor, tendes tudo nas vossas mãos e todos os vossos caminhos são justiça e verdade, (…) eu Vos amarei, Senhor (…), amar-Vos-ei aqui, ó meu Deus, e sempre esperarei na vossa misericórdia e incessantemente repetirei o vosso louvor. (…) Ó Senhor Jesus, Vós sereis sempre a minha esperança e a minha salvação na terra dos vivos».

Assim redigira no seu caderno, reencontrando a paz. E esta experiência, com as suas ansiedades e interrogações, permanecerá sempre iluminadora para ele e proporcionar-lhe-á uma singular via de acesso ao mistério da relação de Deus com o homem. Ajudá-lo-á a auscultar a vida dos outros e a reconhecer, com sagaz discernimento, a atitude interior que une o pensamento ao sentir, a razão aos afetos e que designa pelo nome o «Deus do coração humano». Seguindo por este caminho, Francisco não correu o perigo de atribuir um valor teórico à sua experiência pessoal, absolutizando-a, mas aprendeu algo de extraordinário, fruto da graça: ler em Deus a vivência própria e alheia.

Embora nunca tenha pretendido elaborar um verdadeiro e próprio sistema teológico, a sua reflexão sobre a vida espiritual teve uma eminente dignidade teológica. Sobressaem nele os traços essenciais de fazer teologia, no âmbito da qual não se deve jamais esquecer duas dimensões constitutivas. A primeira é precisamente a vida espiritual, porque é na oração humilde e perseverante, na abertura ao Espírito Santo, que se pode procurar compreender e exprimir o Verbo de Deus; é no crisol da oração que se torna teólogo. A segunda dimensão é a vida eclesial: sentir na Igreja e com a Igreja. A própria teologia se ressentiu com a cultura individualista, mas o teólogo cristão elabora o seu pensamento imerso na comunidade, partindo nela o pão da Palavra. A reflexão de Francisco de Sales, à margem das disputas escolares do seu tempo e todavia no respeito por elas, surge justamente destes dois traços constitutivos.

A descoberta dum mundo novo

Terminados os estudos humanistas, avançou para os de direito na Universidade de Pádua. De volta a Annecy, tinha já decidido o rumo da sua vida, não obstante as resistências paternas. Foi ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1593; nos primeiros dias de setembro do ano seguinte, a convite do bispo D. Claude de Granier, foi chamado para ir trabalhar na difícil missão do Chablais, território pertencente à diocese de Annecy, de confissão calvinista, que, no intrincado labirinto de guerras e tratados de paz, passara de novo sob o controle do ducado de Saboia. Foram anos intensos e dramáticos. Lá descobriu, a par de qualquer rígida intransigência que mais tarde lhe fará pensar, os seus dotes de mediador e homem de diálogo. Além disso revelou-se inventor de práticas pastorais originais e ousadas, como os famosos «panfletos», afixados por todo o lado e até metidos por baixo da porta das casas.

Em 1602, volta a Paris no desempenho duma delicada missão diplomática, por conta do próprio Granier e sob concreta indicação da Sé Apostólica, na sequência de mais uma mudança no quadro político-religioso do território da diocese de Genebra. Apesar das boas intenções do rei de França, a missão não teve sucesso. Ele mesmo escreveu ao Papa Clemente VIII: «Depois de nove meses inteiros, fui forçado a regressar sem ter concluído quase nada». Contudo aquela missão revelou-se, para ele e para a Igreja, duma inesperada riqueza do ponto de vista humano, cultural e religioso. No tempo deixado livre pelas negociações diplomáticas, Francisco pregou na presença do rei e da corte de França, teceu relações importantes e sobretudo mergulhou totalmente na prodigiosa primavera espiritual e cultural da moderna capital do reino.

Lá tudo havia mudado e estava a mudar. Ele próprio se deixara tocar e interpelar pelos grandes problemas que surgiam no mundo e pela nova forma de os observar, pelo surpreendente pedido de espiritualidade que nascera, bem como pelas questões inéditas que a mesma colocava. Em suma, deu-se conta duma verdadeira «mudança de época», à qual era preciso responder através de linguagens antigas e novas. Não era certamente a primeira vez que se deparava com cristãos fervorosos, mas tratava-se de algo diferente. Não era a cidade de Paris transtornada pelas guerras de religião, que vira nos seus anos de formação, nem a áspera luta travada nos territórios do Chablais. Era uma realidade inesperada: uma multidão «de santos, de verdadeiros santos, numerosos e por toda a parte». Havia homens e mulheres de cultura, professores da Sorbonne, representantes das instituições, príncipes e princesas, servos e servas, religiosos e religiosas. Um variegado mundo sedento de Deus.

Encontrar aquelas pessoas e individuar as suas interrogações foi uma das circunstâncias providenciais mais importantes da sua vida. Assim, dias aparentemente inúteis e malsucedidos transformaram-se numa escola incomparável para ler os humores da época, sem nunca os adular. Nele, o controversista hábil e incansável ia-se transformando, pela graça, num sagaz intérprete do tempo e extraordinário diretor de almas. A sua ação pastoral, as grandes obras (Introdução à Vida Devota e Tratado do Amor de Deus), os milhares de cartas de amizade espiritual que serão enviadas, dentro e fora dos muros de conventos e mosteiros, a religiosos e religiosas, a homens e mulheres da corte, mas também a pessoas comuns, o encontro com Joana Francisca de Chantal e a própria fundação da Visitação em 1610 ficariam incompreensíveis sem esta viragem interior. Evangelho e cultura encontravam, então, uma síntese fecunda da qual derivava a intuição dum verdadeiro método que atingiu a maturação e estava pronto para uma colheita duradoura e promissora.

Numa das primeiras cartas de direção e amizade espiritual, enviada a uma das comunidades visitadas em Paris, Francisco de Sales fala – embora com humildade – de um «seu método», que se diferencia de outros, visando uma verdadeira reforma. Um método que renuncia à dureza e se apoia plenamente na dignidade e capacidade duma alma devota, não obstante as suas fraquezas: «Fica-me a dúvida de que se possa opor à vossa reforma ainda outro impedimento: talvez aqueles que vo-la impuseram, trataram a chaga com demasiada dureza. (…) Louvo o método deles, embora não seja o que costumo usar, especialmente com espíritos nobres e bem educados como os vossos. Acho que seja melhor limitar-se a mostrar-lhes o mal e colocar o bisturi nas suas mãos, para que façam eles mesmos a incisão necessária. Mas não descuideis, por isso, a reforma de que precisais». Transparecem nestas palavras aquele olhar que tornou célebre o otimismo salesiano e que deixou a sua marca duradoura na história da espiritualidade, para sucessivos florescimentos, como no caso de São João Bosco dois séculos depois.

Retornado a Annecy, foi ordenado bispo em 8 de dezembro daquele ano 1602. A influência do seu ministério episcopal, na Europa dessa época e dos séculos sucessivos, é imensa. «É apóstolo, pregador, escritor, homem de ação e oração; comprometido na realização dos ideais do Concílio de Trento; empenhado na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais, para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; encarregado de missões diplomáticas a nível europeu e de tarefas sociais de mediação e de reconciliação». Sobretudo é intérprete da mudança de época e guia das almas num tempo em que, duma maneira nova, têm sede de Deus.

A caridade faz tudo pelos seus filhos

Nos anos 1620 ou 1621, isto é, já no limiar de saída da sua vida, Francisco dirigia, a um sacerdote da sua diocese, palavras que podem ilustrar a sua visão da época. Encorajava-o a concretizar o seu desejo de se dedicar a escrever textos originais, capazes de intercetar os novos interrogativos, intuindo a sua necessidade. «Devo dizer-vos que o conhecimento, que vou adquirindo dia a dia dos humores do mundo, me leva a desejar apaixonadamente que a Bondade divina inspire algum dos seus servos a escrever segundo o gosto deste pobre mundo». A razão deste encorajamento provinha da sua visão do tempo: «o mundo está a tornar-se tão delicado que, em breve, já não se ousará tocá-lo senão com luvas de veludo, nem medicar as suas chagas senão com cataplasmas de cebola; mas que importa, desde que os homens sejam curados e, em última análise, salvos? A nossa rainha, a caridade, faz tudo pelos seus filhos». Não se tratava de um dado óbvio e muito menos de uma rendição final face a uma derrota. Era antes a intuição duma mudança em ato e da exigência, inteiramente evangélica, de compreender como se poderia viver nela.

Aliás, a mesma consciência aparecia já amadurecida e expressa no Prefácio do Tratado do Amor de Deus: «Tive presente a mentalidade das pessoas deste século, e não podia proceder diversamente; é muito importante ter em conta o tempo em que se escreve». E, apelando-se à benevolência do leitor, afirmava: «Se sentes que o estilo é um pouco diferente do usado em Filoteu, e ambos muito distantes do da Defesa da Cruz, recorda-te que, em dezanove anos, se aprende e esquece muitas coisas, que a linguagem da guerra é diversa da paz e que, aos jovens principiantes, fala-se duma forma e, aos antigos companheiros, doutra». Mas, perante esta mudança, por onde começar? Não se afastando da mesma história de Deus com o homem. Daí a intenção última do seu Tratado: «Na realidade, propus-me apenas representar, com simplicidade e genuinidade, sem artifícios e, com maior força de razão, sem adornos, a história do nascimento, crescimento, decadência, operações, propriedades, vantagens e sublimes qualidades do amor divino».

As interpelações duma mudança de época

Na passagem do quarto centenário da sua morte, interroguei-me sobre o legado de São Francisco de Sales para a nossa época e achei iluminadoras a sua flexibilidade e capacidade de visão. Em parte, por dom de Deus, em parte, pela índole pessoal mas também pela tenacidade com que se debruçava sobre vida diária concreta, teve a nítida perceção da mudança dos tempos. Ele mesmo confessa nunca ter imaginado reconhecer nisso uma oportunidade para o anúncio do Evangelho. A Palavra, que tinha amado desde a sua juventude, era capaz de abrir caminho, desvendando novos e imprevisíveis horizontes, num mundo em rápida transição.

Tal é a tarefa essencial que nos espera também nesta nossa mudança de época: uma Igreja não autorreferencial, liberta de toda a mundanidade mas capaz de habitar no seio do mundo, partilhar a vida das pessoas, caminhar juntos, escutar e acolher. Foi o que Francisco de Sales pôs em prática, interpretando a sua época com a ajuda da graça. Por isso convida-nos a sair da preocupação excessiva connosco, com as estruturas, a imagem social, perguntando-nos antes quais sejam as necessidades concretas e as expetativas espirituais de nosso povo.  Assim, é importante nos dias de hoje reler algumas das suas opções cruciais, para habitar por dentro a mudança com sabedoria evangélica.

A brisa e as asas

A primeira de tais opções foi reler e repropor a cada um, na sua condição específica, a relação feliz entre Deus e o ser humano. No fundo, a razão última e o objetivo concreto do Tratado é precisamente ilustrar aos contemporâneos o fascínio do amor de Deus. «Quais são – pergunta-se ele – as cordas habituais com que a Providência divina costuma atrair os nossos corações ao seu amor?»  Partindo sugestivamente do texto de Oseias 11, 4, define esses meios ordinários como «laços de humanidade ou de caridade e amizade». Escreve: «Sem dúvida, não somos atraídos para Deus com correntes de ferro, como touros e búfalos, mas por meio de convites, deliciosas atrações e santas inspirações, que constituem aliás os laços de Adão e da humanidade, isto é, adaptados e convenientes ao coração humano, para o qual é natural a liberdade». Foi através destes laços que Deus tirou o seu povo da escravidão, ensinando-o a andar, segurando-o pela mão, como faz um pai ou a mãe com o seu menino. Por conseguinte, nenhuma imposição externa, nenhuma força despótica e arbitrária, nenhuma violência; mas antes a forma persuasiva dum convite que deixa intacta a liberdade do homem. E continua, pensando certamente em tantas histórias de vida que encontrara: «a graça tem força, não para forçar, mas para atrair o coração; possui uma santa violência, não para violar, mas para tornar amorosa a nossa liberdade; age com força, mas tão suavemente que a nossa vontade não fica esmagada sob uma ação poderosa desse género; impele-nos, mas não sufoca a nossa liberdade, pelo que, em presença da sua força, é possível – como quisermos – consentir ou resistir às suas moções».

A mesma relação, esboçara-a pouco antes no curioso exemplo dos ápodes: «Há certas aves, Teótimo, que Aristóteles chama “ápodes” porque têm pernas tão curtas e pés tão débeis que não podem servir-se deles – é como se os não tivessem –; e, se por acaso poisam em terra, ficam ali, sem poder retomar o voo sozinhas, porque, não possuindo o uso das pernas nem dos pés, não conseguem ganhar impulso e lançar-se ao ar; então permanecem aninhadas por terra e morrem ali, a não ser que o vento, suprindo a sua incapacidade com lufadas sobre a terra, as tome e levante, como faz com muitas outras coisas. Neste caso, se elas se servirem das asas e valerem do ímpeto e do primeiro impulso que lhes dá o vento, o próprio vento continua a vir em sua ajuda, impelindo-as cada vez mais para o alto ajudando-as a retomar de novo o voo».  Assim é o homem: feito por Deus para voar e desenvolver todas as suas potencialidades na vocação ao amor, arrisca-se a ficar incapaz de levantar voo quando cai por terra e não permite reabrir as asas à brisa do Espírito.

Concluindo, a «forma» como a graça de Deus se dirige aos homens é a dos laços preciosos e humaníssimos de Adão. A força de Deus não cessa de ser absolutamente capaz de devolver o voo e, no entanto, a sua doçura faz com que a liberdade do consentimento ao mesmo não seja violada nem aniquilada. Cabe ao homem levantar-se ou não. Embora a graça o tenha tocado ao despertar, sem ele, aquela não quer que o homem se levante sem o seu consentimento. Daqui tira a sua reflexão conclusiva: «Teótimo, as inspirações precedem-nos e fazem-se sentir antes de nos apercebermos, mas, depois de as advertirmos, cabe-nos consentir colaborando e seguindo os seus impulsos, ou dissentir e recusá-las: fazem-se sentir em nós sem nós, mas não se fazem consentir sem nós».  Portanto, na relação com Deus, trata-se sempre duma experiência de gratuidade, que atesta a profundidade do amor do Pai.

Todavia, esta graça nunca torna o homem passivo. Leva a compreender que somos radicalmente precedidos pelo amor de Deus, e que o seu primeiro dom consiste precisamente em recebermos o seu próprio amor. Mas cada um tem o dever de cooperar na sua realização, abrindo com confiança as próprias asas à brisa de Deus. Vemos aqui um aspeto importante da nossa vocação humana: sermos criadores. «A ordem de Deus a Adão e Eva, no Génesis, é de que fossem fecundos. A humanidade recebeu a ordem de mudar, construir e dominar a Criação, no sentido positivo de criar a partir dela e com ela. Então, o futuro não depende dum mecanismo invisível do qual os humanos são espetadores passivos. Não, somos protagonistas, somos – forçando a palavra – concriadores».  Foi isto que Francisco de Sales compreendeu bem e procurou transmitir no seu ministério de guia espiritual.

A verdadeira devoção

Uma segunda grande opção crucial foi debruçar-se sobre a questão da devoção. Também neste caso, como aliás nos nossos dias, a nova mudança de época levantara não poucos interrogativos a tal respeito. Em particular, há dois aspetos que precisam, também hoje, de ser compreendidos e relançados: o primeiro tem a ver com a própria ideia de devoção; o segundo, com o seu caráter universal e popular. Começou por indicar o que se entende por devoção, dedicando-lhe a sua atenção no início de Filoteu: «É necessário, em primeiro lugar, que saibas o que é a virtude da devoção. Verdadeira, há apenas uma; falsas e vãs, há muitas; e se não souberes distinguir a verdadeira, podes cair no erro e perder tempo correndo atrás de qualquer devoção absurda e supersticiosa».

Graciosa e sempre atual é a descrição feita por Francisco de Sales da falsa devoção, na qual não é difícil rever-nos, intercalada aqui e ali por eficazes ditos de são humorismo: «Quem se consagra ao jejum, pensará que é devoto porque não come, enquanto tem o coração cheio de rancor; e enquanto não se permite banhar a língua no vinho e nem sequer na água por amor da sobriedade, não sentirá qualquer escrúpulo em mergulhá-la no sangue do próximo com a maledicência e a calúnia. Outro pensará que é devoto porque bisbilha todo o dia uma série interminável de orações; e não dará peso às palavras más, arrogantes e injuriosas que a sua língua lançará, no resto do dia, aos servos e vizinhos. Outro ainda levará de bom grado a mão à carteira para dar esmola aos pobres, mas não conseguirá extrair do coração uma migalha de doçura para perdoar os inimigos; e outrem, por sua vez, perdoará aos inimigos, mas pagar as dívidas nem lhe passará pela cabeça; será preciso o tribunal».  Trata-se evidentemente de vícios e dificuldades de sempre, inclusive de hoje, pelo que o Santo conclui: «Toda esta boa gente é considerada devota pela opinião comum, mas não o é de forma alguma».

Ao contrário, a novidade e a verdade da devoção encontram-se noutro ponto, numa raiz profundamente ligada à vida divina em nós. Assim «a devoção verdadeira e viva exige o amor de Deus; antes, nada mais é do que um verdadeiro amor de Deus; não um amor entendido genericamente».  Na sua ideia, aquela não é senão, «em poucas palavras, uma espécie de agilidade e vivacidade espiritual pela qual a caridade age em nós ou, se quisermos, nós agimos por meio dela com prontidão e afeto».  Por isso, não se coloca a par da caridade, mas é uma manifestação dela e, ao mesmo tempo, a ela conduz. É como uma chama em relação ao fogo: aviva-lhe a intensidade, sem alterar a sua qualidade. «Em conclusão, pode-se dizer que caridade e devoção diferem entre si como o fogo da chama; a caridade é um fogo espiritual que, quando arde com uma chama forte, chama-se devoção: a devoção só acrescenta ao fogo da caridade a chama que torna a caridade pronta, ativa e diligente, não só na observância dos Mandamentos de Deus, mas também no exercício dos conselhos e inspirações do Céu». Assim entendida, a devoção não tem nada de abstrato; antes, é um estilo de vida, um modo de estar no concreto da existência quotidiana. Congrega e interpreta as pequenas coisas do dia a dia: o alimento e o vestuário, o trabalho e o lazer, o amor e a geração, a atenção aos deveres profissionais; em resumo, ilumina a vocação de cada um.

Aqui intui-se a raiz popular da devoção, afirmada desde as primeiras frases de Filoteu: «Quase todos aqueles que trataram da devoção tiveram em vista instruir pessoas separadas do mundo ou, pelo menos, ensinaram um género de devoção que leva a este isolamento. Eu pretendo oferecer os meus ensinamentos àqueles que vivem nas cidades, em família, na corte, e que, em virtude do seu estado, são obrigados, pelas conveniências sociais, a viver no meio dos outros».  É por isso que está muito enganado quem pensa relegar a devoção para qualquer âmbito protegido e reservado. Pelo contrário, ela é de todos e para todos, onde quer que estejam, e cada um pode praticá-la segundo a sua própria vocação. Como escrevia São Paulo VI no IV centenário do nascimento de Francisco de Sales, «a santidade não é prerrogativa duma classe ou doutra; mas é dirigido a todos os cristãos este premente convite: “Amigo, vem mais para cima” ( Lc 14, 10);todos são obrigados a subir a montanha de Deus, embora nem todos pelo mesmo caminho. “A devoção deve ser exercida de forma diferente pelo cavalheiro, pelo artesão, pelo servente de mesa, pelo príncipe, pela viúva, pela jovem, pela esposa. Mais ainda, a prática da devoção deve ser adaptada às forças, aos negócios e aos deveres de cada um”».  Atravessar a cidade secular conservando a interioridade, combinar o desejo de perfeição com cada estado de vida encontrando um centro que não se separa do mundo, mas ensina a viver nele, a apreciá-lo aprendendo também a guardar as justas distâncias do mesmo: tal era a sua intenção, e continua a ser uma lição preciosa para cada mulher e homem do nosso tempo.

Trata-se, aliás, do tema conciliar da vocação universal à santidade: «Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição e estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho».  Cada um por seu caminho… «Por isso, uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis».  A mãe Igreja propõe-no-los, não para procurarmos copiá-los, mas para que nos estimulem a caminhar pelo caminho, único e específico, que o Senhor pensou para nós. «Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf. 1 Cor 12, 7)».

O êxtase da vida

Tudo isso levou o santo Bispo a considerar a vida cristã na sua integralidade como «o êxtase da ação e da vida». Todavia não deve ser confundido com uma fuga fácil ou uma retirada intimista, e menos ainda com uma obediência triste e cinzenta. Sabemos que este perigo está sempre presente na vida de fé. De facto, «há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. (…) Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm que suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias».

Permitir despertar a alegria é precisamente o que Francisco de Sales exprime ao descrever o «êxtase da ação e da vida». Graças a tal êxtase, «não vivemos apenas uma vida civil, honesta e cristã, mas uma vida sobre-humana, espiritual, devota e extática, ou seja, uma vida que em todo o caso está fora e acima da nossa condição natural». Estamos aqui nas páginas centrais e mais luminosas do Tratado. O êxtase é o excesso feliz da vida cristã, projetada para além da mediocridade da mera observância: «não roubar, não mentir, não cair na luxúria, rezar a Deus, não jurar em vão, amar e honrar o pai, não matar é viver segundo a razão natural do homem; mas abandonar todos os nossos bens, amar a pobreza, chamá-la e considerá-la uma patroa deliciosa, considerar os opróbrios, o desprezo, as abjeções, as perseguições, os martírios como felicidade e bem-aventurança, manter-se dentro dos limites duma castidade absoluta e, finalmente, viver no mundo e nesta vida mortal contra todas as opiniões e máximas do mundo e contra corrente do rio desta vida, com habitual resignação, renúncia e abnegação de nós mesmos não é viver segundo a natureza humana, mas acima dela; não é viver em nós, mas fora de nós e acima de nós: e como ninguém pode sair, deste modo, acima de si mesmo se não o atrai o Pai eterno, segue-se que tal modo de viver deve ser um arrebatamento contínuo e um perpétuo êxtase de ação e operação».

É uma vida que reencontrou as fontes da alegria, contra todo o seu definhamento, contra a tentação de se fechar em si mesma. De facto, «o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza a doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida».

Por fim São Francisco acrescenta, à descrição do «êxtase da ação e da vida», dois esclarecimentos importantes, mesmo para o nosso tempo. O primeiro refere um critério eficaz para o discernimento da verdade neste mesmo estilo de vida; o segundo, a sua fonte profunda. Quanto ao critério de discernimento, afirma que, se por um lado tal êxtase implica uma verdadeira e própria saída de si mesmo, por outro não significa um abandono da vida. É importante nunca o esquecer, para evitar desvios perigosos. Por outras palavras, quem presume que está a elevar-se para Deus, mas não vive a caridade para com o próximo, engana-se a si mesmo e aos outros.

Encontramos aqui o mesmo critério que ele aplicava à qualidade da verdadeira devoção. «Quando se encontra uma pessoa que, na oração, tem arrebatamentos por meio dos quais sai e se eleva acima de si mesma até Deus, mas não tem êxtase de vida, isto é, não leva uma vida elevada e unida a Deus (…) sobretudo por meio duma incessante caridade, acredita-me, Teótimo, todos os seus arrebatamentos são muito duvidosos e perigosos». E, de grande eficácia, é a sua conclusão: «Estar acima de si mesmo na oração e abaixo de si mesmo na vida e na ação, ser angélico na meditação e animal no diálogo, é um verdadeiro sinal de que tais arrebatamentos e êxtases não passam de divertimentos e enganos do espírito maligno». Substancialmente é aquilo que já Paulo lembrava aos Coríntios no hino da caridade: «Ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, mas não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale» ( 1 Cor 13, 2-3).

Assim, para São Francisco de Sales, a vida cristã nunca é tal sem êxtase e, todavia, o êxtase não é autêntico sem a vida. De facto, a vida sem o êxtase corre o risco de se reduzir a uma obediência opaca, a um Evangelho que esqueceu a sua alegria. Por outro lado, o êxtase sem a vida expõe-se facilmente à ilusão e ao engano do Maligno. As grandes polaridades da vida cristã não se podem dissolver uma na outra. Quando muito, uma mantém a outra na sua autenticidade. Deste modo, a verdade não é tal sem a justiça, a complacência sem a responsabilidade, a espontaneidade sem a lei; e vice-versa.

Passando agora à fonte profunda deste êxtase, sapientemente liga-o ao amor manifestado pelo Filho encarnado. Se é verdade que, por um lado, «o amor é o primeiro ato e o princípio da nossa vida devota ou espiritual, por meio da qual vivemos, sentimos, nos comovemos» e, por outro, «a vida espiritual é como são os nossos movimentos afetivos», é claro que «um coração que não tem afeto, não tem amor», bem como «um coração que tem amor, não é sem movimento afetivo». Mas a fonte deste amor que atrai o coração é a vida de Jesus Cristo: «não há nada que faça tanta pressão sobre o coração do homem como o amor», e o ponto culminante de tal pressão é ver que «Jesus Cristo morreu por nós, deu-nos a vida com a sua morte. Vivemos apenas porque Ele morreu e morreu por nós, para nosso benefício e em nós».

É comovente esta indicação que manifesta, além duma visão esclarecida e que não era óbvia da relação entre Deus e o homem, o estreito vínculo afetivo que ligava o santo Bispo ao Senhor Jesus. A verdade do êxtase da vida e da ação não é genérica, mas deriva da forma da caridade de Cristo, que culmina na cruz. Este amor não anula a existência, mas fá-la brilhar com uma qualidade extraordinária.

Por isso São Francisco de Sales, com uma imagem muito bela, descreve o Calvário como «o monte dos enamorados». Lá, e somente lá, se compreende que «não é possível ter a vida sem o amor, nem o amor sem a morte do Redentor; mas, fora de lá, tudo é morte eterna ou amor eterno, e toda a sabedoria cristã consiste em saber escolher bem». Assim pode encerrar o seu Tratado remetendo para a conclusão dum discurso de Santo Agostinho sobre a caridade: «Que há de mais fiel que a caridade? Fiel não ao efémero, mas ao eterno. Ela tudo suporta na vida presente, pela simples razão que acredita em tudo sobre a vida futura: suporta todas as coisas que aqui nos são dadas suportar, porque espera tudo o que lhe foi prometido lá. Justamente nunca acaba. Por isso praticai a caridade e produzi, meditando-a santamente, frutos de justiça. E se encontrardes, em louvor dela, outras coisas que não vos tenha dito agora, que isso se veja no vosso modo de viver».

Isto é o que transparece da vida do santo Bispo de Annecy e que, mais uma vez, é entregue a cada um de nós. Que a passagem do IV centenário do seu nascimento para o Céu nos ajude a recordá-lo devotamente e que o Senhor, por sua intercessão, derrame abundantemente os dons do Espírito no caminho do santo Povo fiel de Deus.

Roma, São João de Latrão, 28 de dezembro de 2022.

FRANCISCO

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