Mariangelal Jaguraba – Vatican News
A viagem apostólica do Papa ao Bahrein foi o tema da catequese do Santo Padre na Audiência Geral, desta quarta-feira (09/11), realizada na Praça São Pedro.
Antes de iniciar o seu discurso, o Papa chamou a atenção para o comportamento de duas crianças que se aproximaram dele, dizendo que elas foram até ele sem medo, diretamente, “e assim, nós devemos ser com Deus. Elas nos deram o exemplo de como devemos nos comportar com Deus, com o Senhor. Ir adiante. Ele nos espera sempre. Fez-me bem ver a confiança dessas duas crianças. Elas foram um exemplo para todos nós. Assim, devemos nos aproximar do Senhor, com liberdade”. A seguir, agradeceu publicamente a todos que trabalharam para que a viagem do Papa tivesse bom êxito. Agradeceu também a todos aqueles que acompanharam esta visita com o sustento da oração e renovou sua gratidão ao Rei do Bahrein, às outras Autoridades, à Igreja local e à população pela calorosa hospitalidade.
O diálogo é o oxigênio da paz
É natural perguntar-se: por que o Papa quis visitar esse pequeno país com uma grande maioria islâmica? Francisco respondeu essa pergunta com três palavras: diálogo, encontro e caminho.
Diálogo. Esta viagem foi feita a convite do Rei do Bahrein, Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, “para um Fórum sobre o diálogo entre Oriente e Ocidente. Diálogo que serve para descobrir a riqueza de quantos pertencem a outros povos, outras tradições, a outras crenças”. “O Bahrein, um arquipélago formado por muitas ilhas, ajudou-nos a compreender que não se deve viver isolando-se, mas aproximando-se. Exige-o a causa da paz, e o diálogo é “o oxigênio da paz”. Não se esquecem disso: o diálogo é o oxigênio da paz. Também a paz doméstica. Se há uma guerra entre marido e mulher, depois com o diálogo se segue adiante com a paz. Dialogar também na família”, reiterou.
O Papa recordou que há quase sessenta anos, o Concílio Vaticano II, falando sobre a construção do edifício da paz, declarou que «ela exige certamente que [os homens] dilatem o espírito mais além das fronteiras da própria nação, deponham o egoísmo nacional e a ambição de dominar sobre os outros países, e fomentem um grande respeito por toda a humanidade, que já avança tão laboriosamente para uma maior unidade».
Francisco destacou que no Bahrein, ele sentiu esta exigência e desejou que, “no mundo inteiro, os responsáveis religiosos e civis saibam olhar além das próprias fronteiras, das suas comunidades, para cuidar de todo o conjunto. Somente assim podem ser enfrentados certos temas universais, como o esquecimento de Deus, a tragédia da fome, a tutela da criação, a paz”.
Neste sentido, o Fórum de diálogo, intitulado “Oriente e Ocidente pela convivência humana”, exortou a escolher o caminho do encontro e a rejeitar o do desencontro. Quanto precisamos disto! Penso na guerra insensata de que a martirizada Ucrânia é vítima, e em muitos outros conflitos, que nunca serão resolvidos através da lógica infantil das armas, mas unicamente com a força suave do diálogo.
Sem hospitalidade, o diálogo resta vazio
A seguir, o Papa se deteve na segunda palavra: encontro. Francisco disse que no Bahrein ele sentiu “várias vezes o desejo de que haja mais encontros entre cristãos e muçulmanos, que se estreitem relações mais sólidas, que nos interessemos mais uns pelos outros”. Recordou que “no Bahrein, como se faz no Oriente, as pessoas levam a mão ao coração quando cumprimentam alguém”. “Também eu o fiz”, disse ele, “a fim de criar espaço dentro de mim para quantos eu encontrava. Pois sem hospitalidade, o diálogo resta vazio, aparente, permanece uma questão de ideias, não de realidade”.
O Pontífice recordou o seu encontro com o Grão-Imame de Al-Azhar, com os jovens da Escola do Sagrado Coração, “estudantes que nos deram uma grande lição, pois estudam juntos, cristãos e muçulmanos”. Os idosos deram “um testemunho de sabedoria fraterna”, disse o Papa, recordando o encontro com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos, “uma organização internacional fundada há poucos anos, que promove boas relações entre as comunidades islâmicas, no sinal do respeito, da moderação e da paz, opondo-se ao integralismo e à violência”.
Um novo passo no caminho entre cristãos e muçulmanos
Por fim, a terceira palavra: caminho. A viagem ao Bahrein não deve ser vista como um episódio isolado, faz parte de um percurso inaugurado por São João Paulo II, quando foi a Marrocos.
Deste modo, a primeira visita de um Papa ao Bahrein representou um novo passo no caminho entre fiéis cristãos e muçulmanos: não para nos confundirmos nem para diluir a fé, mas para construir alianças fraternas em nome do Pai Abraão, que foi peregrino na terra sob o olhar misericordioso do único Deus do Céu, Deus da Paz. Por isso, o lema da viagem foi: “Paz na terra aos homens de boa vontade”.
“Diálogo, encontro e caminho no Bahrein tiveram lugar inclusive entre os cristãos”, sublinhou Francisco, recordando o encontro ecumênico, de oração pela paz, com o amado Patriarca Bartolomeu, e com pessoas de várias confissões e ritos.
A esperança de Deus não desilude
Os irmãos e irmãs na fé, que encontrei no Bahrein, vivem verdadeiramente “a caminho”: são na maioria trabalhadores imigrantes que, longe de casa, encontram as suas raízes no Povo de Deus e a sua família na grande família da Igreja. E vão em frente com alegria, na certeza de que a esperança de Deus não desilude.
A seguir, recordou o encontro com os pastores, os consagrados, as consagradas, os agentes pastorais e, na missa festiva, celebrada no estádio, os numerosos fiéis vindos até de outros países do Golfo.
O Papa convidou a nos sentirmos chamados “a dilatar os horizontes, corações dilatados, não fechados, duros”, mas abertos, “porque somos todos irmãos e para que essa fraternidade humana cresça. Dilatar os horizontes, alargar os interesses e nos dedicar ao conhecimento dos outros”. “Se você se dedicar a conhecer os outros, você nunca será ameaçado. Para prosseguir, o caminho da fraternidade e da paz tem necessidade de todos e de cada um”, concluiu.