No domingo dia 14 de novembro, a Santa Igreja focará todas as atenções no V Dia Mundial dos Pobres, que vem sendo motivo de reflexão eclesial desde 2017, quando o Papa Francisco instituiu essa data. Desde então, a Igreja convida a humanidade a meditar criticamente principalmente sobre a questão dos necessitados, mas também, no que diz respeito aos desafios espirituais, morais e sociais da situação de pobreza.
Na mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres deste ano (disponível no site do Vaticano), o Santo Padre exorta para que as pessoas em geral se reconheçam também como pobres e que “não fiquem à espera que os necessitados batam à nossa porta”, mas ir ter com eles “às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, escondem-se, aos centros de refúgio e de acolhimento; é importante compreender como se sentem, o que estão a passar e quais os desejos que têm no coração”.
O Sumo Pontífice lembra também que “os pobres não são pessoas externas à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”. “Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, chegando já à sua quinta edição, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão”, exorta o Santo Padre em sua mensagem.
Portanto, nós, estamos intimamente envolvidos neste compromisso cristão de ajudar aos que sofrem, com todos os poderes, faculdades, recursos e possibilidades que dispomos. Ser cristão é precisamente agir para erradicar a miséria e a desigualdade, e isto deveria ser quase uma obsessão entre nós.
O Pontífice afirma que precisamos aderir com plena convicção ao convite do Senhor: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”. Esta conversão consiste, primeiro, em abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e, depois, em manifestar o Reino de Deus através dum estilo de vida coerente com a fé que professamos. Seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação.
Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles têm muito para nos ensinar. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste apenas em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar “efetivamente o seu bem” (Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 198-199).
Assim como as “pobrezas” se agravam e se alastram, não apenas no aspecto quantitativo, também se diferenciam os tipos de pobreza. Isso significa que a forma de ser pobre hoje não é a mesma de alguns anos atrás, de modo que está sendo forjada uma nova concepção em torno da pobreza, inclusive, falando-se em aporofobia – termo atribuído a Adela Cortina, filósofa contemporânea de Valência (Espanha), que pode ser traduzido como aversão ou rejeição aos pobres. Como consequência disso, acaba sendo nutrida e tida como natural uma mentalidade de estigmatização social, postura que só isola e marginaliza aqueles que já são vítimas de um sistema econômico nada inclusivo.
Entre tantas possíveis ideias, não se pode negar que o sentido da vida envolve estender a mão a quem necessita, oferecer um sorriso, uma postura de respeito, acolher, escutar e, a partir de tais gestos, evidenciar que o próximo é amado pelo Senhor da vida. Assim, as mãos estendidas se tornam extensão do coração e no abraço de quem partilha é que se pode afirmar, com alegria: o amor é o sentido da vida e amar é viver comprometido com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Que possamos viver e dar vida a esta e às tantas mensagens de nosso querido Papa Francisco, em especial nestes tempos de extremismos ideológicos e incompreensões preconceituosas, onde, numa frase de São Francisco, o amor não é amado.
Que o Dia Mundial dos Pobres, que tivemos a ocasião de preparar com uma semana especial, possa alcançar os objetivos propostos pelo Papa Francisco perante esse mundo e que possamos construir uma sociedade civil mais fraterna e menos desigual, pois pobres sempre os teremos entre nós (Mc 14, 7), não somente no aspecto material, mas em todas as demais dimensões do ser humano.