A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projetos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira. A liturgia nos propõe o caminho do Servo do Senhor e do Cristo, sumo sacerdote, que rejeitou projetos de poder e fez de sua vida uma missão e um serviço constante às ovelhas esquecidas e abandonadas pelas autoridades. O exemplo do Servo sofredor nos motiva a buscar com confiança a graça de Deus que nos vem por meio de Jesus, a fim de trilharmos seu mesmo caminho de serviço e doação.
A primeira leitura(Is 53,10-11) apresenta-nos a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens. O quarto canto do Servo sofredor, no livro do Profeta Isaías, apresenta o mistério dessa figura humana que se entrega nas mãos de Deus. Nela, percebemos uma fé incondicional, que nos anima e fortalece em nossa própria fé. Dificilmente podemos ler esse texto sem pensar em Jesus. Nele, a dor e o sofrimento de um justo demonstra para a humanidade a salvação de Deus, que é a sua força e a quem Ele se apega.
No Evangelho(Mc 10,35-45), Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo, um mundo livre do poder que escraviza. Neste Evangelho de São Marcos, temos o curioso pedido dos dois filhos de Zebedeu: assentar-se à direita e à esquerda de Jesus. Eles desconhecem o cálice da dor e o Batismo da cruz e sua ação é reprovada pelos demais que, de certo modo, também gostariam de fazer o mesmo pedido. Fica claro, então, que a glória não é algo externo, como um status de conforto para quem a busca, mas nasce da profunda experiência de amor, que passa, também, pela amargura da cruz. Esse é um ensinamento forte neste Mês Missionário, isto é, entendermos que a missão exige comprometimento, coração aberto e não exclui o sofrimento. No entanto, cremos naquele que nos chamou e nos capacitou e por isso “esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção”(Sl 32,20)
Jesus adverte que os chefes das nações as oprimem e os poderosos procuram dominar as pessoas. Entre vós, diz, não deve ser assim – e então desafia seus discípulos a seguir outro caminho: conquistar a grandeza mediante o serviço fraterno. O Mestre não incentiva ninguém a ambicionar o poder e se impor sobre os outros, tanto menos com a violência. Quem propõe violência não compreendeu sua proposta. O único poder incentivado por Jesus é aquele que procura libertar as pessoas de seus males, assim como ele fez ao longo de sua vida.
O desejo de poder sobre os outros deve transformar-se em serviço gratuito e generoso: gestos de amor, de misericórdia, de compaixão e de serviço ao próximo. Não foi nada fácil aos discípulos entender a proposta de Jesus. Queriam um Cristo poderoso e triunfador que dividisse o poder entre eles. Eles tiveram muita dificuldade em crer e assumir a proposta do Mestre de Nazaré: cristão é quem faz de sua vida um dom para que os outros vivam!
Na segunda leitura(Hb 4,14-16), o autor da Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu amor. Jesus, Filho de Deus encarnado, assumiu nossa condição humana, tornou-se irmão entre irmãos, compadecendo-se de nossa fragilidade. Sumo Sacerdote por excelência, ele oferece a Deus, por todos nós, a própria vida e é misericordioso para com nossas fragilidades, pois assumiu nossa humanidade. Com a ascensão, sua solidariedade continua, e, por meio dele, iremos ao Pai.
A Igreja, seguindo o exemplo de Jesus, é chamada a aliviar o peso da dor e do sofrimento do povo, sem pretensões de domínio e proselitismo. O Papa Francisco diz que os cristãos são convidados “a anunciar a novidade do Evangelho, tocando a carne sofrida dos outros e dando razão de nossa esperança”. Celebramos, neste Domingo, o Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária. Sejamos generosos na coleta em favor das POM. Quem ajuda financeiramente a missão tem méritos de missionários. Sejamos generosos!