Papa Francisco denuncia “surdez do coração” e alerta: “pior do que a física”

Vatican City, May 19 2021: Pope Francis waves towards attendees as he leaves the San Damaso courtyard in The Vatican after holding a weekly outdoors general audience with the public.

“Muitos não têm tanta necessidade de palavras e de pregações, mas de serem ouvidos”, disse Francisco

OPapa Francisco denuncia a “surdez do coração” e afirma que ela é “pior do que a surdez física”. Ele usou esta metáfora em referência ao risco de nos tornarmos indiferentes ao próximo e incapazes de escutar o outro de coração.

Em sua alocução antes do Ângelus dominical, neste dia 5 de setembro, o Papa comentou a passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 7,33-34) sobre a cura de um surdo-mudo, realizada por Jesus.

Francisco declarou:

“Todos nós temos ouvidos, todos, mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Por quê? Irmãos e irmãs, existe de fato uma surdez interior, que hoje podemos pedir a Jesus para tocar e curar. A surdez interior é pior do que a física, porque é a surdez do coração. Levados pela pressa, por mil coisas a dizer e fazer, não achamos tempo para parar e ouvir quem fala conosco. Corremos o risco de nos tornarmos impermeáveis ​​a tudo e de não dar espaço a quem tem a necessidade de ser ouvido: penso nos filhos, nos jovens, nos idosos, em muitos que não têm tanta necessidade de palavras e de pregações, mas de serem ouvidos”.

Surdez do coração

O Papa incentivou os fiéis a se perguntarem:

“Como está a minha escuta? Eu me deixo tocar pela vida das pessoas, sei dedicar tempo às pessoas próximas de mim para escutá-las? Isto vale para todos nós, mas, de modo especial, para os padres, para os sacerdotes. O sacerdote deve escutar as pessoas, não ter pressa. Escutar e ver como pode ajudá-las, mas depois de ter ouvido. Na vida familiar: quantas vezes se fala sem escutar primeiro, repetindo os próprios refrões sempre iguais! Incapazes de ouvir, dizemos sempre as mesmas coisa ou não deixamos que o outro acabe de falar, de se expressar…E nós o interrompemos”.

O silêncio é importante neste sentido, esclareceu o Papa:

“O renascimento de um diálogo, muitas vezes, passa não pelas palavras, mas pelo silêncio; por não se impor, pelo recomeçar com paciência a ouvir o outro, ouvir as suas fadigas, aquilo que ele traz dentro de si. A cura do coração começa pela escuta. Isso cura o coração. O mesmo vale em relação a nosso Senhor. É bom inundá-lo de pedidos, mas é melhor ainda colocar-nos primeiro à sua escuta. Nós nos lembramos de ficar à escuta do Senhor?”.

Jesus passa

Ele prosseguiu:

“Jesus é a Palavra: se não paramos para ouvi-lo, Ele passa. Se não paramos para ouvir Jesus, Ele passa. Santo Agostinho dizia: ‘Tenho medo do Senhor quando Ele passa’. E o medo era de deixá-lo passar sem ouvi-lo”.

E como ouvi-lo? Francisco explicou:

“Se dedicarmos tempo ao Evangelho, encontraremos um segredo para a nossa saúde espiritual. Eis o remédio: a cada dia um pouco de silêncio e de escuta, algumas palavras inúteis a menos e alguma palavra de Deus a mais, sempre com o Evangelho no bolso, que nos ajuda tanto. Jesus pede isso. No Evangelho, quando perguntam a Ele qual é o primeiro mandamento, Ele responde: ‘Ouve, Israel’, acrescentando a seguir: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração […] e o teu próximo como a ti mesmo’. Mas, antes de tudo, Ele diz: ‘Ouve!’”.

O Papa encerrou:

“Que a Virgem Maria, aberta à escuta da Palavra que nela se fez carne, nos ajude todos os dias a escutar o seu Filho no Evangelho e os nossos irmãos com um coração dócil, com um coração paciente e com coração atento”.

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